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Edição 489

Opinião: “Barroso orgulha-se do primeiro secretário-geral do PCP”

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atanagildolobo

Retirado do livro “Montalegre” de José Dias Baptista, edição do município de Montalegre, 2013.

Há coisas que se metem na cabeça. Uma delas é esse prazer pelos percursos pedestres de pequena rota. Dou por mim em busca na Web quando surge no “circuito do rio” a informação: «Em Fiães do Rio nasceu Bento António Gonçalves, secretário-geral do Partido Comunista Português». Nada se recusa a uma terra que trata bem os seus. Estava decidido. Alguns dias na região de Montalegre, embora com alguma chuva, fariam parte das férias possíveis deste ano de 2014. Junto a tralha costumeira e abalo. O parque de campismo de Penedones, junto à albufeira do alto Rabagão, era o destino. Diga-se que só isso seria suficiente para umas mini férias bem preenchidas: andar à volta desta albufeira e observar.

Do segundo patamar do camping admiro as alturas do barroso a sul. Vistas de fora e ao longe são picos de uma serra gigantesca. Ali, modulam suavemente a paisagem em harmonia com as espraiadas águas do Rabagão. Se subir às alturas, o espetáculo é único: todo o lago aos pés do Larouco, a segunda serra mais alta de Portugal continental que tomou o nome do deus galaico “Larouco”, tão importante como Júpiter romano, dado o altar em nome dos dois, encontrado por estas serranias. Foi esta também uma nova descoberta, despoletada pela recente História de Portugal de António Borges Coelho, ilustre historiador, poeta e antifascista, vizinho de Álvaro Cunhal na cadeia de Peniche. Se me viro para Noroeste surge-me uma serpente enorme com um dorso cheio de bossas pontiagudas: é a fotografia mais extraordinária que retenho da serra do Gerês. Se olho no sentido inverso, para sudeste, lá está num baixo a Senhora da Graça, rodeada pelo gigante Marão e mais ao fundo o Montemuro, para lá do Douro. Mais perto, o Alvão, e para cima e para leste, atinge-se a Nogueira e o Montesinho. Se for ao outro extremo, à Senhora das Treburas, consegue ver quase tudo isso. Outro sublime quadro são as águas. Os seus diversos matizes que vão do prateado da noite ao azul celeste da manhã até ao verde que reflete a cor das serranias, que talvez, só um pintor como Nadir Afonso, que era destas bandas, conseguisse captar.

Encontro-me no bar em frente ao parque de campismo e deparo com uma cesta com livros, todos do Barroso, muitos editados pela Câmara de Montalegre. Alguns revelam-se de imediato. Os dos Bentos e dos Gonçalves. Um deles: «Bento Gonçalves – Uma vida, um combate», impõe-se. Organização e coordenação de José Enes Gonçalves, editado pela C.M.Montalegre. Procuro-o em Montalegre, mas não o encontro. O nosso cérebro tem destas coisas, fica tudo ali, acamado na secção da memória. Um clique leva-me a mais de 12, 13 anos atrás…e lembro-me de meu pai me ler uma carta enviada a alguém de Montalegre. Recordo-me dessa correspondência trocada, ainda que ao de leve. Regresso a Guidões com a convicção de ter esse livro. Procuro…e após algum tempo, lá estava na estante. A dedicatória: «Para Augusto Lobo com a simpatia de José Enes Gonçalves; Montalegre, 2 de Novembro de 2000». Folheio-o com os olhos enevoados da emoção. No relato da inauguração do monumento a Bento Gonçalves, em 25 de Abril de 1999, deparo com as palavras de Agostinho Lopes, meu camarada e amigo e nosso conterrâneo. Não é a primeira vez que me sucede, cruzar com pessoas ou com acontecimentos que nos ligam. Mas mais uma vez a comoção e orgulho ao ler as referencias a A.Lopes. «Nasceu em Guidões…é membro da Comissão Politica do C.C. do PCP…eleito deputado pelo círculo de Braga nas últimas…». Volto a Montalegre e em Fiães do Rio lá estava, o monumento a Bento Gonçalves, a Rua Bento Gonçalves, a casa onde nasceu…

De um outro barrosão, Bento da Cruz, antigo deputado socialista, começo a ler um livro denominado «Guerrilheiros Antifranquistas em Trás-os-Montes», onde se contam tamanhas atrocidades e crimes cometidos pelos fascistas e falangistas sobre todos os resistentes republicanos, inclusive socialistas, que o recomendo vivamente, sem sobranceria, aos socialistas, para se consciencializarem do perigo a que nos leva muitas das políticas que têm prosseguido quando estão no poder.

Ainda não me preocupei em saber a cor política da CM Montalegre. Seja qual for, os meus parabéns por essa ciência rara de não ter teias e preconceitos ideológicos, por tratar bem os seus, deles se orgulhar e de os honrar, aos Bentos e aos Gonçalves, ao ponto de um livro recente do Município afirmar categoricamente que “Barroso orgulha-se do primeiro secretário-geral do PCP”.

Atanagildo Lobo

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