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Edição 489

Opinião: Um banho público em defesa do SNS

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Gualter-Costa

Certamente que o leitor não ficou indiferente à última moda deste verão – o mediático banho público. Algo que começou em Portugal no início do verão como uma brincadeira entre amigos que consistia em tomar (aí sim) um banho num local público para escapar ao pagamento de uma jantarada aos amigos. Quem fosse nomeado e realizasse tal desiderato em tempo útil ficava não só isento do pagamento da jantarada, como dispunha do direito a nomear três amigos para dar seguimento à façanha.

Contudo, em meados do verão, a habitual escassez de notícias durante a silly season, obrigou os órgãos de comunicação social a um acrescido trabalho de pesquisa, e eis que descobriram que nos Estados Unidos (um país sem sistema nacional de saúde, onde os mais básicos cuidados de saúde estão restringidos a milhões) algumas estrelas de Hollywood, vedetas de rock, etc, como que por magia, começaram a fazer algo útil e a chamar a atenção para uma associação local de defesa dos doentes com esclerose lateral amiotrófica, através da realização de uma proeza que consistia em fazer um donativo e esvaziar um balde de água gelada pelo corpo abaixo (teoricamente simbolizando o “gelo” que os doentes sentem ao serem informados do diagnóstico da doença). Esperemos que no próximo ano ainda se lembrem do nome da associação para a qual contribuíram. 

A difusão mediática da onda de solidariedade de verão americana, “desafio do balde de água gelado”, rapidamente se fundiu com o português “banho público” , e eis que se metamorfisou numa inédita e muito útil campanha de divulgação e de ajuda à APELA (Associação Portuguesa de Esclerose Lateral Amiotrófica). O resto da história, as variantes técnicas e os inúmeros desafios realizados já todos conhecemos.

Mas é necessário levar esta onda de denúncia e de solidariedade muito mais além. É preciso expandir os horizontes nesta matéria. É imperativo defender o essencial – o SNS.

Há em Portugal centenas de milhar de portugueses que sofrem diariamente com problemas de saúde e que por isso estão privados de uma vida normal e condigna. Trinta e cinco anos após a sua fundação, o Sistema Nacional de Saúde (SNS) continua a ser a única garantia de prestação de serviços de saúde universais, com qualidade e acessíveis à totalidade dos cidadãos. Com taxas moderadoras, mas ainda sem distinção de raça ou condição social.

Embora seja sempre suscetível de melhora, o SNS esteve ao longo dos últimos 35 anos sempre na vanguarda e apto a responder às mais complexas exigências, quer das doenças mais raras, quer das mais banais. Uma conquista que nos colocou com os melhores níveis mundiais nalguns rácios (esperança média de vida à nascença, mortalidade infantil, etc), de que nos orgulhamos e são uma referência de Portugal no mundo.

Contudo, a atual visão limitada e mercantilista da saúde a que o atual governo se restringe, está a colocar em risco esta conquista sem igual. O desmantelamento do SNS está já em curso nos hospitais e centros de saúde por todo o país. A centralização de recursos, a despromoção de hospitais, a perda de valências, a falta de material e de pessoal qualificado, as taxas moderadoras, o custo com os transportes, são já realidades e ameaçam reduzir o atual SNS a um sistema de saúde medieval e misericordioso.

Defender o SNS é imperativo e um verdadeiro ato de cidadania. É muito mais que defender o somente SNS. É defender a qualidade de vida de milhares de doentes que a ele têm de recorrer diariamente – amanhã podes ser tu. É defender que os portadores de doenças raras (como a ELA) terão sempre um acompanhamento adequado. É defender a investigação nacional. É defender também a saúde das economias locais, onde muitos dos negócios e empregos dependem da força gravítica das unidades de saúde aí instaladas. É garantir a todos os cidadãos o direito à saúde consagrado no artº 64 da Constituição da República Portuguesa.

Para defender o SNS, estou disponível para tomar não um, mas os banhos públicos que forem necessários.

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Gualter Costa
Coordenador Concelhio Bloco de Esquerda Trofa.
gualter.costa@outlook.com

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