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Crónicas e opinião

O despesismo passa por aqui

“A falta de escrutínio sobre os negócios e despesas da CM da Trofa. Por um lado, a política do quero, posso e mando. Por outro, uma oposição incapaz e inaudível, que surge timidamente antes das eleições, mas que pouco ou nada esmiúça estes casos”.

João Mendes

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Já passaram alguns meses, e temas mais importantes foram surgindo, mas hoje regresso a um caso que marcou Agosto e aos pontos em comum de dois autarcas de gerações diferentes: Sérgio Humberto e Isaltino Morais.

É evidente que são dois perfis com várias e óbvias diferenças. Sérgio Humberto ainda não chegou a ministro, deu aulas no 3.º ciclo, não na universidade, e nunca esteve preso.

Mas, convenhamos, Isaltino Morais tem 73 anos. E Sérgio Humberto tem toda uma carreira pela frente.

Há até quem acredite que nos deixará antes do final do presente mandato, como deram a entender as declarações do presidente da junta de Guidões e Alvarelhos, Lino Maia, na última sessão da Assembleia Municipal.

Mas o que têm em comum, afinal, estes dois autarcas?

Várias coisas.

Ambos têm conseguido expressivas maiorias absolutas e apresentam obra feita.

Ambos revelam desprezo pelas oposições.

Ambos têm um estilo autoritário e recorrem com alguma frequência à demagogia e ao discurso populista.

Ambos querem, podem e mandam.

Mas existe outra característica que estes dois autarcas partilham, e é sobre ela que vos quero hoje falar.

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Sim, estou a falar da tendência para o despesismo.

Desconheço o volume das despesas de refeição entregues por Sérgio Humberto nos serviços da CM da Trofa, pese embora seja frequentemente avistado nos melhores restaurantes do concelho e arredores. Talvez pague do seu bolso. Afinal, falamos de alguém que aufere um salário muito acima da média. Só lhe ficaria bem.

No entanto, são muitos os casos de despesismo associados à sua governação.

Aliás, a sua governação começou precisamente com uma série deles, quando um conjunto de ajustes directos, totalizando mais de 100 mil euros, foram celebrados com pessoas que trabalharam directamente na sua campanha e num jornal comprovadamente fraudulento chamado Correio da Trofa.

Pagamento de favores?

Talvez. E se for, qual é o mal? Ainda se fosse uma Pêra Manca tinto!

Adiante.

O despesismo, porém, não se esgota neste caso.

Podemos falar, por exemplo, dos 75 mil euros usados para viciar o concurso das 7 Maravilhas da Cultura Popular. Que Sérgio Humberto habilmente usou para alavancar a sua imagem junto da opinião pública.

Ou das muitas inaugurações caríssimas, organizadas durante os seus mandatos, como o lançamento da primeira pedra dos Paços do Concelho, um evento que durou um par de horas e que custou mais de 20 mil euros.

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Podemos inclusive falar nos 7 mil euros gastos em iPhones topo de gama, para si, para os seus 4 vereadores e para 2 outras pessoas demasiadamente importantes para usarem um telefone mais barato. Isto durante a pandemia, quando todos apertávamos o cinto para pagar as contas.

Podíamos falar na enorme comitiva que o acompanhou ao Vaticano, nos pagamentos frequentes a jornais irrelevantes como o Audiência, nos múltiplos ajustes directos firmados com grandes grupos de comunicação social e assessores de comunicação, nos milhares de euros gastos em vídeos, infomails e publicidade, mais focados em promover a imagem do autarca do que a do concelho, ou até de casos mais recentes, como a festa de 4 horas que custou 17.500,00€ aos contribuintes trofenses. Nunca mais saíamos daqui.

Onde quero chegar com tudo isto?

A um dos grandes problemas da vida democrática no concelho da Trofa.

A falta de escrutínio sobre os negócios e despesas da CM da Trofa.

Por um lado, a política do quero, posso e mando.

Por outro, uma oposição incapaz e inaudível, que surge timidamente antes das eleições, mas que pouco ou nada esmiúça estes casos.

No meio estamos nós, trofenses comuns, muitos dos quais envolvidos em complicados exercícios de contorcionismo financeiro, para conseguir esticar os salários até ao fim do mês, cercados pela inflação e pelos escandalosos juros bancários.

Mas somos nós quem paga os ajustes directos, as viagens, as festas e os iPhones.

E ai de quem ouse tocar neste tema. Porque a PIDE digital tratará de os culpar desses e de outros males, nem que para isso tenha que mentir descaradamente.

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Porque, na Trofa ou em Oeiras, quem se mete com os donos disto tudo leva.

Resta saber até quando.

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