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Edição 470

Annus Horribilis

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Gualter-Costa

Para quem há cerca de um ano via a Trofa entrar em ebulição política devido à proximidade das eleições autárquicas, estava longe de imaginar as sucessivas desilusões sofridas pelos Trofenses ao longo do último ano. Um ano horribilis a todos os níveis, que colocou a Trofa ainda mais desbotada no mapa e mais desenquadrada com o foco do desenvolvimento, pelo que tudo devemos urgentemente fazer para corrigir.

As taxas de desemprego, possivelmente o maior flagelo em terras Trofenses, assumem hoje valores inéditos (próximo dos 25%). Valores inimagináveis há apenas alguns anos, para os quais ainda se desconhecem as estratégias e medidas a colocar em prática para inverter.

Apesar do “milagre económico” anunciado há meses pelo Sr. Ministro da Economia, a tendência para o encerramento e deslocalização de empresas para fora do concelho da Trofa manteve-se constante ao longo do último ano. As estratégias para a manutenção e sediação de novas empresas no concelho teimam em não vingar. Inacreditavelmente florescem demasiado bem nalguns concelhos nossos vizinhos.

A degradação urbana, a falta de regeneração urbana, parecem não ter fim, em especial na área mais central da Trofa. O número de pequenos comerciantes que fecham portas tem-se exponenciado e as ruas tornam-se num cenário cada vez mais desolador. A nossa principal artéria comercial continua a lutar, dia após dia, contra o contínuo abandono e despromoção urbanística e social. Ao longo deste ano horribilis, com a exceção de alguns eventos muito pontuais e de abrangência relativamente limitada, pouco ou nada foi feito para resolver estruturalmente este problema. Urge assumir também este problema como uma prioridade concelhia.

A incineração de três freguesias pela lei da Reforma Administrativa e Territorial Autárquica de Relvas privou as suas populações de identidade, decisão e culturas próprias. Enfraqueceu o concelho. Aumentou a possibilidade de separatismos futuros. Resta lapidar bem o diamante para que este permaneça uniforme e coeso, e consiga brilhar apenas com os cinco lados idealizados.

O inconveniente dilúvio do Parque das Azenhas afogou de vez as pretensões dos Trofenses em usufruir de um espaço único no concelho para lazer e para a prática de atividades desportivas e recreativas. Este parque, que foi outrora o lado mais brilhante do diamante, permanece hoje reduzido a uma pista abandonada, de obstáculos múltiplos, capaz de rivalizar com as antigas infraestruturas olímpicas de Sarajevo. Que a vontade e a esperança de o reabilitar um dia nunca desvaneça.

O aterro em curso do canal do Metro (ironicamente com terras que outrora pertenceram aos taludes do caminho de ferro, que tanto desenvolvimento e riqueza propiciou à Trofa) parece ser o assumir de um direito perdido. Um levantar de braços sem luta. Uma derrota para a Trofa, para milhares de Trofenses, cujas consequências nefastas para o concelho se farão sentir por longas décadas. Um projeto que as inéditas, excessivas e infundadas preocupações de rentabilidade do atual governo PSD/CDS (que nunca se verificaram noutros projetos similares) condenaram. Uma machadada no desenvolvimento e na qualidade de vida da Trofa, que jamais deverá ser esquecida por todos aqueles que na Trofa nasceram, vivem, trabalham e empreendem.

O recente cancelamento pelo governo PSD/CDS da incontornável variante à EN14, que nem a garantias do então “pacto dos três candidatos”, agora autarcas, parecem ter força para assegurar. Tal como o Metro também a variante à EN14 só se materializará no terreno pela força da reivindicação e pela força da decisão popular. Sempre foram assim as conquistas da Trofa e parece que sempre assim serão. Só com uma forte e empenhada mobilização popular em defesa destas causas conseguiremos quebrar o desconhecimento e a inação dos gabinetes.

A também recente despromoção pelo governo do Centro Hospitalar do Médio Ave, com a inevitável perda de inúmeras especialidades e valências, é mais um “murro no estômago” dos Trofenses. É imperativa uma tomada de posição pública de todos os autarcas na área de influência do CHMA, contra a despromoção do mesmo. Os cada vez mais duvidosos racionalismos económicos de Lisboa não têm nem o fundamento suficiente, nem o direito de considerarem as várias centenas de milhar de cidadãos desta região (das mais empreendedoras e produtivas do país) como cidadãos inferiores, privados até dos mais elementares cuidados de saúde.

Ainda muitas outras desilusões ao longo do último ano ficam por relatar. Todos as conhecemos. Mas, quero ter a esperança que este ciclo negativo para a Trofa está a findar em breve. Quero ter motivação acrescida quando daqui por um ano tiver de escrever um artigo sobre o Annus Mirabilis da Trofa. Será que vai acontecer ?

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Gualter Costa
Coordenador Concelhio Bloco de Esquerda Trofa.
gualter.costa@outlook.com

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