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Edição 506

Terrorismo, Hipocrisia e liberdade de expressão

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Joao mendes

Apesar de estarmos ainda em Janeiro, os atentados da passada semana em Paris são já um dos grandes acontecimentos que marcarão o ano que agora começa e o alcance das suas consequências é ainda difícil de prever. A ameaça terrorista é uma nuvem negra que paira sobre a Europa e que nos deve fazer reflectir sobre o tipo de sociedade que queremos e estamos a construir. Logo à cabeça, é fundamental que os estados europeus se alinhem de forma a repensar a sua política de emigração, não no sentido de se fecharem selectivamente a determinadas geografias, mas de forma a blindar a democracia constitucional contra a ascensão de fundamentalismos.
Nos últimos meses, tiveram lugar manifestações contra a democracia e a favor da implementação da lei islâmica (sharia) em cidades como Paris e Londres e isto deve servir como um importante alerta para potenciais intenções de criação de partidos políticos com agendas totalitárias baseadas em interpretações radicais do Corão. Mas estes primatas são tão representativos do Islão quanto o padre pedófilo é representativo do Catolicismo. Ou seja nada. Da mesma forma que os terroristas que no dia a seguir aos atentados contra a redacção do Charlie Hebdo vandalizaram a mesquita de Lisboa não representam os portugueses. O problema é que estes actos isolados de meia-dúzia de selvagens podem conduzir a uma escalada de violência que só conduzirá a mais violência e a mais restrições de liberdade. Uma história que nunca acaba bem.
Por outro lado, é interessante verificar que algumas das vozes que se erguem agora contra a barbárie perpetrada por estes terroristas sejam os mesmos que no passado atentaram contra a liberdade de jornalistas, cronistas e cartoonistas. No passado Domingo, enquanto mais de um milhão de franceses marchava em Paris pela liberdade de expressão, algumas centenas de dirigentes políticos aproveitaram a deixa para ganhar alguns votos e encenar a sua participação numa manifestação na qual na realidade não participaram. Apareceram para a fotografia mas não hesitarão um segundo quando um qualquer Charlie se voltar a intrometer no seu caminho.
Por cá também temos a nossa quota-parte de moralistas de fachada. Quem não se recorda da tentativa de José Sócrates de silenciar Mário Crespo? E do pontapé que o social-democrata Zeca Mendonça desferiu num fotojornalista no ano passado? E daquele episódio em que o então deputado Ricardo Rodrigues (PS) roubou os gravadores dos jornalistas da Sábado, ainda se lembram? E da censura do programa Humor de Perdição (1987) pelo governo de Cavaco Silva? Quantos Charlies foram já alvo do fascismo recalcado da nossa prepotente elite dirigente?
Já agora, onde estava todo este circo político-mediático quando a Wikileaks revelou milhares de documentos que comprometeram dirigentes nacionais e internacionais com provas factuais? Quantos caçadores de votos apontam o seu dedo acusador ao accionista chinês que controla e manipula a sua comunicação social? Onde estavam todos esses hipócritas quando Angela Merkel decidiu chantagear publicamente o povo grego caso este decidisse votar no Syriza, quando Cavaco e Passos deram luz verde para a entrada do regime ditatorial da Guiné Equatorial na CPLP ou quando José Eduardo dos Santos persegue jornalistas e activistas políticos? Em lado nenhum. São plásticos e hipócritas. Lobos com pele de Charlie para quem a liberdade de expressão é uma questão de circunstância.

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