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Edição 506

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Ricardo Garcia

Sei que já é um pouco tarde, mas só agora é que posso fazer o meu balanço de final do ano de 2014. Num ano cheio de atribulações judiciais, fiquei à espera até às 23:59 do dia 31 de Dezembro que o juiz Carlos Alexandre, qual Batman da justiça, prendesse mais alguém (correndo o risco de quando este artigo sair mais alguém estar preso). E nem um ex-primeiro-ministro se safou.
Novembro foi um mês dedicado aos grandes processos: primeiro o caso dos vistos gold e logo de seguida a prisão Sócrates. E isto da memória tem muito que se lhe diga. Alguém se lembra ainda dos vistos gold e da demissão do ministro Miguel Macedo? Parece que foi há 2 anos, mas não foi. O que contribuiu para este efeito? A prisão de José Sócrates, claro. Desde há muito tempo indiciado em processos, sempre se conseguiu escapar por falta de provas, até os avisos dados pela Caixa Geral de Depósitos surtirem efeito logo após a demissão do ministro Macedo. Parece que os astros se alinharam naquela semana, deixando o povo português soterrado com tal avalanche de escândalos, faltando ainda o muito esperado depoimento de Ricardo Salgado. Tudo no espaço de 3 semanas! Uma verdadeira agenda mediática. Destes 3 protagonistas, Miguel Macedo já foi esquecido (voltará à ribalta nas próximas eleições), Ricardo Salgado continua com todo o tempo do mundo para a sua defesa e José Sócrates resolveu dedicar-se às epístolas para a comunicação social, qual S. Sócrates para os Coríntios. Tal como em Fátima, alguns comerciantes de Évora estão a pensar mandar fazer imagens de Sócrates que mudam de cor consoante o tempo para vender aos peregrinos que vão a pé ou de excursão para a cova do Estabelecimento Prisional de Évora.
No meio de tantas mensagens, não podiam faltar as tradicionais mensagens do primeiro-ministro e do Presidente da República. O primeiro, aproveitando o discurso proferido em Braga em que afirmou “Ao contrário do que era o jargão popular de que quem se lixa é o mexilhão, de que são sempre os mesmos (…) desta vez todos contribuíram e contribuiu mais quem tinha mais, disso não há dúvida”, proferiu na mensagem natalícia a chantagem do “deitar tudo a perder” em 2015. Num registo de ilusão, Passos Coelho pretende fazer o pino e afirmar que a crise não afectou o mexilhão (13,9% de desemprego afecta quem?). E os milhares de portugueses que emigram são o quê? Turistas permanentes? E o agravamento da pobreza com implicações nas famílias, jovens e idosos? Sim Sr. primeiro-ministro, o povo quer perder isto tudo em 2015.
Num estilo de natação sincronizada, Cavaco Silva apela de uma forma evidente ao “entendimento” entre PS, PSD e CDS para a política do inevitável. Cavaco, com a sua conhecida memória selectiva, esquece-se de que estes partidos entenderam-se nas políticas essenciais dos últimos 30 anos (adesão à Europa, revisões constitucionais, política de privatizações, Tratado de Maastricht ou no recente pacto de agressão).
“Je suis Charlie”. O ataque bárbaro à redacção do Charlie Ebdo é um ataque à liberdade de expressão perpetuado por tresloucados que por acaso são crentes (mistura explosiva), mas nem todos somos Charlie individual ou colectivamente. Será que todos gozamos plenamente das nossas liberdades? Quantas vezes nos calamos com medo de represálias? Porque será que Portugal não tem um programa de humor, por exemplo, nos canais generalistas? Teria espaço um projecto como o Charlie Ebdo na nossa banca de jornais?

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