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Edição 656

Micas Restaurante Campos vive tradição de S. Gonçalo há mais de um século

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São muitos os que dizem que ir ao S. Gonçalo e não comer o rojão ou beber o vinho novo é como ir a Roma e não ver o Papa. A verdade é que a gastronomia desta romaria ultrapassou fronteiras e atrai milhares a Covelas, no penúltimo fim de semana de janeiro.

O ano começa em grande na freguesia de Covelas, sendo mesmo caso para dizer que todos os caminhos vão dar ao S. Gonçalo. E todos os que por lá passam não passam sem o rojão, o cozido, as papas ou o vinho. Um dos locais que serve de ponto de encontro para os romeiros no fim de semana é o número 47 do Largo de Senhora dos Caminhos, o já centenário Micas Restaurante Campos.
Fernando Ferreira é o quarto na linha geracional que gere o estabelecimento em Covelas. Maria da Conceição Vieira, sua bisavó, foi quem deu nome ao restaurante, passando depois para a avó e, mais tarde, para a mãe. Por isso, Fernando sempre viveu a tradição de S. Gonçalo e desde cedo percebeu que o vinho era a razão da popularidade desta romaria. “Antigamente, só havia vinho branco da vindima até meados de março. Depois era só tinto. A primeira romaria onde havia vinho branco era o S. Gonçalo e daí a dimensão e o motivo de ser tão procurado”, explicou. Até à altura da romaria, normalmente, o vinho ainda não reúne as condições para ser bebido, uma vez que passa pelo processo de fermentação e tratamento necessário. “Ele fica turvo e com a neve vai clareando, mas como o frio não tem vindo o suficiente para clarear o vinho, ele chega a janeiro ainda com um aspeto turvo. Mas continua a ser a preferência”, asseverou.

Qualidade e simplicidade são os segredos do sucesso

Ao vinho juntou-se a carne, nomeadamente o rojão, que é hoje um dos fortes motivos de atração da festa. Dos petiscos que se serviam antigamente, desde “a chouriça caseira, o salpicão, os rojões, as papas e as fêveras em pão”, passaram, nos dias de hoje, a uma ementa mais alargada, com as refeições como “feijoada, rojões, cozido à portuguesa, caldo de nabos e arroz de grelos”, com preços entre os quatro e os 25 euros.
Os romeiros, disse o proprietário do restaurante, “são cada vez mais”, embora a crise tenha afastado as pessoas dos restaurantes. “Com as coisas a melhorarem”, Fernando acredita que a restauração “vai usufruir”.
O gerente do restaurante não consegue contabilizar o número de clientes que passam pelo espaço nos dias de festa, mas a quantidade de pessoas deixa o rasto no estado em que fica “o chão, o balcão, as mesas e cadeiras”. “Há um desgaste em tudo o que é materiais, são muitas, mesmo muitas, pessoas”, afirmou.
No restaurante “o dia alto é o domingo” e, entre as 8 e as 16 horas, Fernando diz que não sabe “se chove ou não”. “Não consigo olhar lá para fora sequer”, frisou. Os preparativos são feitos de um dia para o outro, com o tempero das carnes e a preparação da sala. E para os quatro dias de festa são necessárias “centenas de quilos de carne e mais de dois mil litros só de vinho branco”. E o segredo desta casa é não ter segredo nenhum que não seja “o tamanho e a qualidade” da carne. A aposta, desvendou o proprietário, é no “porco preto”. Depois, é “fazer o mais simples possível” e “não estragar”. “Se o produto for bom não é preciso segredos nem truques”, considerou Fernando Ferreira. A verdade é que há clientes que escolhem o Restaurante Micas “há cerca de 50 anos”, garantiu.

Cozinharam à luz das velas para servir os clientes

E para garantir a qualidade do serviço, em dia de festa a equipa tem que ser reforçada, passando de oito a 26 pessoas. Os horários são indefinidos, havendo quem trabalhe entre 16 a 20 horas, já o proprietário trabalha “dias seguidos”. “As coisas encadeiam-se e temos que estar preparados para resolver os problemas que vão surgindo”, apontou.
No meio de mais de um século ao serviço da gastronomia do S. Gonçalo, muitas histórias há para contar. A luz passou a ser um problema na hora de cozinhar. Contou Fernando Ferreira que “todos os anos falhava a luz”. “Eles montavam o palco e quando iam para atuar nós ficávamos sem luz”, contou, sendo mesmo necessário recorrer “à luz das velas” para poder confecionar os pratos. “Era um stress. Um ano tivemos quase a fechar. Foi um sábado, chovia torrencialmente, eram 14 horas, e nós sempre na esperança que a luz vinha. Chegou a noite, com as encomendas e as pessoas todas marcadas, e nós não íamos atender às escuras e precisávamos de ver para cozinhar. Usamos velas e ligamos às pessoas para não vir, porque não tínhamos luz. As pessoas vieram na mesma e, felizmente, a luz veio já perto da hora de servir”, recordou.
O desgaste físico e psicológico ao fim de tantas horas de trabalho é notório, mas a satisfação de ver que “as pessoas da Trofa fizeram de uma romaria pequena uma festa enorme” supera o esforço.

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