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Ano 2010

Manoel d’Oliveira recorda “O Dia do Desespero” em Famalicão

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Quase vinte anos depois da estreia do filme “O Dia do Desespero”, que relata a história verídica dos últimos anos de vida do romancista Camilo Castelo Branco, o cineasta Manoel d’Oliveira, regressa à Casa de Camilo, em Vila Nova de Famalicão, onde filmou a película, para revelar os pormenores das filmagens e recordar o guião.

O realizador mais velho do mundo ainda em actividade – completa 102 anos de vida em Dezembro – é o próximo convidado da iniciativa “Um Livro, Um Filme”, promovida pela Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, através do Centro de Estudos Camilianos, um pólo cultural localizado junto à Casa-Museu de Camilo, em S. Miguel de Seide.

O evento que já trouxe a Famalicão personalidades como Pacheco Pereira, Luís Filipe Menezes, Maria João Avillez e Júlio Isidro entre muitos outros, realiza-se no dia 24 de Setembro, sexta-feira, pelas 21h30.

Manoel d’Oliveira, que recebeu em 2005, o troféu Pena de Camilo, no âmbito do Festival Internacional de Cinema e Vídeo de Famalicão, mantém desde há muito uma ligação forte com a obra literária camiliana, tendo realizado filmes como “Amor de Perdição” e “Francisca”, do qual faz parte a personagem de Camilo, para além de “O Dia do Desespero”.

De resto, um dos primeiros filmes de Manoel Oliveira, realizado em 1940, denomina-se precisamente “Famalicão”, e é um documentário onde se apresenta o município como um centro de comunicação rodoviária e ferroviária, entre várias localidades do Norte.

“O Dia do Desespero”, que foi filmado em 1991 e estreou um ano depois, conta a história verídica dos últimos anos do eminente escritor português de século XIX, Camilo Castelo Branco. Esta evocação baseia-se, fundamentalmente, em algumas das suas cartas. Os textos são, assim, o fio condutor da evolução dramática de um homem viril, polémico e romântico que contrastava com o espírito funesto, instável e inconformado. Camilo afunda-se sem remissão num conflito íntimo. Havia de ser a cegueira o impulsor para o acto final da sua vida?

 

BIOGRAFIA DE MANOEL D’OLIVEIRA

Manuel Cândido Pinto de Oliveira nasceu no Porto no seio de uma família da burguesia industrial a 11 de Dezembro mas só foi registado a 12 de Dezembro de 1908. Interessou-se desde muito novo pelo cinema graças a seu pai que o levava a ver fitas de Charles Chaplin e Max Linder, despertando-lhe o interesse para a sétima arte. Fez os primeiros estudos no Colégio Universal, no Porto, e posteriormente, no Colégio Jesuíta de La Guardia, Galiza. Mas foi como desportista de ginástica, atletismo e automobilismo, que o seu nome ganhou notoriedade.

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Com vinte anos, inscreveu-se na Escola de Actores de Cinema, fundada por Rino Lupo, que frequentou, com o irmão Casimiro de Oliveira, por um só dia, e participaram como figurantes num filme deste realizador, Fátima Milagrosa (1928). A revista Imagem publica em 1930 fotografias suas e considera-o “um dos mais fotogénicos cinéfilos portugueses”. Por esta altura seu pai comprou-lhe a pelícuka e uma máquina Kinamo com a qual começou a filmar “Douro, Faina Fluvial”, com o fotógrafo amador António Mendes. Trabalho inspirado no filme de Walter Ruttman – Berlim, Sinfonia de uma Capital (1927). A 21 de Setembro de 1931 estreia a versão muda do “Douro, Faina Fluvial” no V Congresso Internacional da Crítica, o qual despertou violentas reacções dos nossos críticos e elogios dos estrangeiros. Críticas que nunca mais deixaram a obra de Oliveira. Por uns a sua obra é elogiada, por outros é fortemente criticada, mas Oliveira continua a filmar. As críticas são centradas na forma como estrutura os filmes e a lentidão com que se desenrola a acção. Dá mais importância às palavras e ao conteúdo do que aos actos. A câmara raramente se move, e quando o faz são movimentos subtis para mostrar um objecto, os movimentos corporais de um actor que fala. Tudo é encenado meticulosamente para o espectador não se distrair com pormenores supérfluos, agarrando-o desta forma à história deste génio do cinema.

Em 1933, volta a ser actor, desta vez na Canção de Lisboa, de Cottinelli Telmo. Passado um ano estreou a versão sonora de Douro, além fronteiras, que o consagrou como cineasta. Todavia, na década de 30, não passaram de projectos “Bruma”, “Miséria”, “Roda”, “Luz”, “Gigantes do Douro”, “A Mulher que Passa”, “Desemprego e Prostituição”.

Em 1938, o Jornal Português faz manchete: “II RAMPA DO GRADIL GANHA POR MANUEL DE OLIVEIRA, NUM CARRO EDFORD”. Em 1940, casou com Maria Isabel Brandão Carvalhais continuando ainda casados. Dois anos depois realizou a sua primeira longa-metragem: “Aniki-Bóbó”.

Na década de 40 não passaram do papel “Hino da Paz” (documentário), “Saltimbancos” e “Clair de Lune” (conto de Guy de Maupassant). Nos anos 50, “Angélica”, “Pedro e Inez”, “Vilarinho das Furnas” (documentário etnográfico sobre a obra de Jorge Dias), “A Velha Casa”, “As Monstruosidades Vulgares” (de José Régio), “O Bairro de Xangai”, “De Dois Mil Não Passarás”, “Palco dum Povo” (multifilme), “O Poeta”, não chegaram a ser realizados devido a falta de apoio financeiro.

Assim virou-se para a produção agrícola da família, na região do Douro, ocupando-se do cultivo do Vinho do Porto. Em 1955 foi à Alemanha – Leverkussen, fazer um estágio intensivo nos laboratórios da AGFA, para estudar a cor aplicada ao cinema, que veio mais tarde (1957) a aplicar no documentário, “O Pintor” e a “Cidade” e passando nos próximos filmes a director e operador da fotografia até ao filme “O Passado e O Presente” onde retomou de novo equipes completas.

Os anos sessenta consagram Manoel de Oliveira no plano internacional, a partir de Itália e de França com a homenagem no Festival de Locarno em 1964 e passagem da sua obra na Cinemateca de Henri Langlois – Paris 1965.

A partir de 1971, com “O Passado e o Presente”, acumularam-se os galardões e os louvores, assim como as polémicas à volta da sua obra. Este filme inaugura a fase do cinema Português conhecida como “os anos Gulbenkian”, na qual a Fundação assumiu o protagonismo de apoio à produção cinematográfica nacional. O mesmo filme marca o início da sua tetralogia dos amores frustrados, da qual se incluem: “Benilde” ou a “Virgem Mãe” (1975), “Amor de Perdição” (1978) e “Francisca” (1981).

Recebe em 1980, a Medalha de Ouro pelo conjunto da sua obra, atribuída pelo CIDALC. Mais tarde, em 1985, voltou a ser galardoado com o Leão de Ouro pelo seu filme, “Le Soulier de Satin”, no Festival de Veneza.

Data de 1987 o seu último documentário, “A propósito da Bandeira Nacional”, filme de arte sobre uma exposição do pintor Manuel Casimiro de Oliveira (seu filho), em Évora. Desde então tem mantido um ritmo imparável de trabalho (uma longa metragem por ano), permitido pelo estatuto que o seu prestígio alcançou junto das instituições oficiais: – as francesas especialmente, mas também as portuguesas, nomeadamente o IPACA. Entretanto, escreveu para teatro, sendo também o encenador no festival A CIDADELA DO TEATRO em Santarcongelo di Romagna – Itália.

Em 1988 apresentou “Os Canibais” ao Festival de Cannes. Em 1990, no mesmo evento cinematográfico exibiu extra concurso “Non ou a Vã Glória de Mandar”, o qual lhe valeu uma menção especial do júri oficial. Sucederam-se as homenagens, os preitos e as honrarias em “Veneza” (1991), “La Carmo” (1992), “Tóquio” (1993), “São Francisco e Roma” (1994), que lhe dão um prestígio mundial. Neste mesmo ano participou na Viagem a Lisboa de Wim Wenders.

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Em 1995, a Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) atribui-lhe o Prémio Carreira , inserido na comemoração do centenário do cinema. Em 1996 a Vídeoteca de Lisboa abre um ciclo intitulado “Encontros com o Cinema Novo”, abordando nesse evento “Manoel de Oliveira – O Caso e a Obra”; participa com Antoine de Baecque, num livro sobre diálogos para os “Cahiers du Cinéma”. A estação de televisão SIC e a revista CARAS, órgãos de comunicação portugueses, atribuem-lhe o prémio de Melhor Realizador em 1997.

Para terminar e completar este quadro sobre Manoel de Oliveira resta-nos ver um documentário autobiográfico: “A Visita – Memórias e confissões”, feito em 1982 mas a ser projectado unicamente após a sua morte, por desejo expresso do autor.

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