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Ano 2010

Folclore dá “voz ao passado”

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“Dar voz ao passado” foi o nome escolhido pelo Grupo de Danças e Cantares de Santiago de Bougado para a mostra de etnografia promovida no passado sábado. A presidente da associação considera que folclore “é muito mais que cantar e dançar”.

Quando um viúvo casava com uma jovem, era alvo do “achincalhamento” dos rapazes. Estes muniam-se de latas, búzios e testos para fazerem barulho e proferirem frases que ferissem a honra do homem. No dia seguinte, as mulheres “faziam conversa” sobre a “cortiçada”. Este foi apenas um dos muitos costumes retratados na Mostra de Etnografia “Dar voz ao passado”, promovida pelo Grupo de Danças e Cantares de Santiago de Bougado, no âmbito das comemorações do 25º aniversário da associação.

A iniciativa, que contou com dois grupos da Trofa, um da zona de Leça da Palmeira e outro que retratou hábitos transmontanos teve como objectivo dar mais sentido ao conceito de folclore que, segundo Manuela Moreira, presidente do grupo bougadense, “é muito mais que cantar e dançar”.

“O folclore representa muito, embora as pessoas tenham a ideia que é só cantar e dançar, esquecem-se que as pessoas também tinham as tarefas de casa e do campo. É uma maneira de mostrar aos nossos jovens como é que as pessoas passavam o tempo antigamente”, explicou.

Na mostra, o Grupo de Danças e Cantares retratou um “defumadouro”, um ritual que servia para o “mal de inveja”. “Quando as pessoas não tinham médico nem tomavam medicamentos, recorriam a este tipo de práticas”, referiu Manuela Moreira.

Depois seguiu-se o serão, “nas noites de Inverno, onde as pessoas aproveitavam para fiar e tratar dos cereais. As pessoas reuniam-se em casa de uma e depois reuniam-se na casa de outra”, continuou.

O Rancho das Lavradeiras da Trofa levou a cena também um serão numa cozinha portuguesa antiga, onde as mulheres fiavam a roupa, escolhiam o feijão e os homens jogavam o “chicha robilho”. A “cortiçada” também teve a assinatura dos elementos do grupo trofense, assim como a reza das pessoas em dias de trovoada.

Luís Elias, presidente do Rancho das Lavradeiras, louvou a iniciativa e afirmou que “esta mostra é o caminho que o folclore deve seguir”. “Há muito mais coisas importantes para retratarmos do antigamente, é importante lembrar várias tradições que não são da nossa zona mas também de outras”.

 

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Tradições fora das fronteiras da Trofa

Um dos grupos que teve a responsabilidade de mostrar as tradições de um local diferente foi o Rancho Típico da Amorosa, que aproveitou alguns “quadros” de um espectáculo anual e desenvolveu uma sequência lógica que começou com o Cantar das Janeiras. O grupo prosseguiu com um momento de poesia de José António Nobre, que retrata a forma de viver das gentes de Leça da Palmeira, e com uma apresentação de trajes. Seguiram-se a “arruada de cabeçudos”, a romaria com as pessoas a cantar e a dançar, o cantar ao desafio e o cumprimento das promessas com uma rusga de saída, que coincide com a saída das pessoas do trabalho, onde aproveitavam para esquecer as agruras da vida.

Raúl Neves considera que esta mostra de etnografia prova que o folclore “está a atingir alguns patamares”. “Infelizmente não são tantos os grupos que fazem este espectáculo, porque hoje em dia não se fazem trabalhos de pesquisa. Há uns que copiam o que o vizinho faz, mas na minha terra as mulheres que lavavam a roupa no rio não tinham a mesma forma de lavar que as que faziam nas margens do Rio Ave”, postulou.

A Universidade do Porto também esteve representada com o Núcleo de Etnografia e Folclore que encenou um extracto de um espectáculo, exclusivamente, dedicado a Trás-os-Montes. Armando Dourado, encenador e responsável artístico, considerou a iniciativa “excelente”, porque “por um lado mostra a cultura tradicional que está muito apagada da memória dos jovens e também de menos jovens e por outro lado mostra as culturas de regiões diferentes”.

 

Este evento é de enorme importância”

Espectador atento, António Azevedo, presidente da Junta de Santiago de Bougado, afirmou ao NT que, para a freguesia, “o evento é de enorme importância”. “Pena é que estão poucos jovens, porque eles deviam aprender os costumes e os hábitos de antigamente”, asseverou.

O autarca felicitou o Grupo de Danças e Cantares e sugeriu que as associações “têm de modificar a organização dos festivais, porque começam a ficar muito estereótipos”. E a mostra de etnografia é, na opinião de António Azevedo, “a melhor maneira” de mostrar o que é o folclore.

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