Edição 588
Crónica “Memórias e Histórias da Trofa” – A Trofa como destino turístico
Na primeira crónica sobre a história da Trofa, decidi abordar um assunto que poderá causar alguma surpresa nos mais jovens e certamente alguma nostalgia nos mais experientes.
A Trofa na década de vinte e trinta do século XX era vista como um local ideal para as famílias mais abastadas, da fina sociedade portuense, homens de negócios, médicos e políticos, passarem os seus verões, recorrendo à Trofa e a outras freguesias como S. Romão do Coronado para repousar da sua vida na cidade do Porto.
Recuando setenta a oitenta anos, a cidade da Trofa, que hoje não passa de um subúrbio às portas do Porto, cidade altamente industrializada, com um movimento humano em grande escala, era um pequeno paraíso no distrito do Porto nas primeiras décadas do século XX. Um paraíso que se vivia nas margens do Rio Ave, em vários locais, sendo as referências a Barca da Trofa e o espaço entre as Ponte Pênsil e do Estreu.
Na imprensa local, é possível verificar notícias respetivas ao movimento de turistas, acontecendo casos surpreendentes como o do Comandante dos Bombeiros V. de Coimbrões que passou férias em S. Romão do Coronado e que vários elementos do seu quartel se deslocaram a S. Romão para lhe prestar homenagem.
Apelos na imprensa para a criação de melhores condições nas praias fluviais na Trofa eram frequentes, pois havia a necessidade de construir infraestruturas para usar na plenitude as margens e o leito do Rio Ave, devido a um movimento de turistas que não parava de aumentar, vindos de localidades das proximidades e não apenas do Porto. Um estrado de acesso ao rio e as típicas barracas de praia eram equipamentos a serem construídos.
No rio pequenas embarcações navegavam de forma bucólica, onde os turistas se passeavam para aproveitar os seus momentos de ócio.
No fervor da época, surgiu no jornal “O Trofense” em março de 1933, uma notícia referente à constituição de um Clube Náutico na Trofa, para a prática do remo e natação, algo praticamente desconhecido da maioria da população. Mais nenhuma notícia surgiu nos jornais, mostrando que não passou de ideias.
Ideias eram bastantes, compra de dois barcos a prestações com o apoio financeiro das cotas dos seus associados que seria de 5$ (cinco escudos).
O passar dos anos, a industrialização constante e altamente poluidora, incentivada pela proximidade ao transporte ferroviário que alavancava o progresso da Trofa, colocaram um ponto final no paraíso.
por José Pedro Maia Reis
Foto: Foto Baptista
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