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Edição 597

Que é feito do nosso trofismo?

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Faz agora um ano que republiquei, no blogue …e a Trofa é minha, um texto que escrevi para O Notícias da Trofa em Novembro de 2014, ao qual não mudaria uma vírgula que fosse. Um texto de retrospectiva, no qual partilhei a minha visão e entendimento sobre a história da emancipação do nosso concelho, e ao qual acrescentei uma pequena adenda. Nesse dia, a obra dos parques seria inaugurada, com uma festa revestida de toda a pompa e circunstância que um investimento de 120 mil euros pode proporcionar. E enquanto o governo central de então pregava a parábola da austeridade virtuosa, o executivo local com igual composição partidária abria os cordões à bolsa e oferecia aos trofenses uma grande festa, pouco condizente com a frágil situação financeira do concelho mas extremamente proveitosa para a sua popularidade.
É interessante verificar que um dos problemas que conduziu às movimentações que desembocaram no nosso Grito do Ipiranga, a 19 de Novembro de 1998, se perpetuou no tempo. Naquele tempo, e apesar do significativo contributo que as rendas provenientes das freguesias que hoje integram o concelho da Trofa tinham na tesouraria da CM de Santo Tirso, o investimento na nossa terra era absolutamente desproporcional, as lacunas eram enormes e a indignação difícil de ignorar. O centralismo absorvia tudo e a revolta era geral.
Hoje, passados 18 anos, o concelho da Trofa conserva duas terríveis heranças do tempo em que não éramos senhores do nosso destino. Uma delas, o centralismo, será talvez a variável mais comum deste imbróglio. Se no passado o desenvolvimento deixava a periferia tirsense para trás, hoje vivemos uma realidade em que quase tudo acontece em Bougado. As grandes obras e os grandes eventos são a face mais visível desse centralismo. E esse centralismo explica-se da mesma forma que se explica o centralismo de Lisboa, ou não fosse em Bougado que residem 18652 dos 33444 dos eleitores trofenses, mais de metade dos votantes inscritos no nosso concelho. E se as eleições se ganham aqui, na “metrópole”, é natural que a estratégia política como a conhecemos canalize as suas forças na freguesia de Bougado. E não há-de ser com Assembleias Municipais descentralizadas, por muito valor que tais iniciativas tenham, que se irá mudar este triste paradigma.
A outra herança, igualmente problemática, tem que ver com a despesa pública. Ora, o actual executivo poderá, legitimamente, alegar que reequilibrou as contas do concelho. Como não sou economista e não possuo os conhecimentos necessários para desmontar a engenharia financeira subjacente a tão proféticos anúncios, não me alargarei sobre esta matéria. Mas há algo que não requer um diploma em ciências económicas para perceber: a Trofa continua a ser um dos concelhos mais endividados do país, onde os impostos locais atingem níveis obscenos e onde as carências continuam a ser mais que muitas. E, ainda assim, continuamos a ser surpreendidos com gastos que, noutro tempo e contexto, eram classificados como despesistas por alguns dos seus actuais executores.
A Trofa de hoje é uma Trofa centralista. Uma Trofa onde o investimento, o desenvolvimento e a cultura estão excessivamente concentrados numa freguesia só. Nesta Trofa centralista, onde a qualidade de vida dos habitantes da capital parece evoluir no sentido inverso da dos habitantes das restantes freguesias, a despesa pública em rubricas como a publicidade absorve, todos os anos, centenas de milhares de euros, e os ajustes directos, não raras vezes consumados por vias estreitas e algo nebulosas, atingem valores que não se coadunam com o nível de endividamento da autarquia. Houve um tempo em que tudo isto causaria indignação e seria combatido. Hoje, 18 anos depois da invasão ao largo do Parlamento, estamos mais acomodados e menos reivindicativos. Que é feito do nosso trofismo?

 

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