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Ano 2010

“O cinema faz-me muito bem”

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Um dos últimos projeccionistas vivos em Portugal é da Trofa, um concelho onde não existe cinema. Joaquim Azevedo, em entrevista exclusiva ao NT/TrofaTv, recordou o passado e apresenta propostas para o futuro.

Joaquim Azevedo é trofense e um dos últimos projeccionistas vivos em Portugal. Com 83 anos, ainda conduz a ApoloCine, uma empresa de cinema ambulante que vai de terra em terra. “Ao serviço da cultura” projecta todo o tipo de filmes, mas “só da Lusomundo”.

O cálculo do número de horas de fita que já passou é difícil de fazer, mas é possível calcular 490 mil horas. “É muita hora”, confessa. No entanto, nenhuma delas é perdida. Vê o cinema como “um sonho que se tornou realidade” e que começou aos nove anos. “O bicho que nunca mais saiu, é um bichinho com muitos anos”, recordou.

É um “Passado Inesquecível”. Este título do filme que foi o mais visto nas suas 19 salas de cinema, assenta-lhe que nem uma luva. Começou por passar filmes mudos, ou em banda desenhada para os vizinhos e para o irmão “que estava doente”. “E aquilo andou, até que eu comecei a passar o bicho ao meu pai para fazermos um cinema aqui na Trofa”, adiantou.

Mais tarde, com a ajuda da avó, Joaquim Azevedo e o pai aventuraram-se e compraram a casa onde funciona agora a Casa do Futebol Clube do Porto da Trofa. “O meu pai foi o criador do Grupo Recreativo e Cultural da Trofa, do Teatro Alves da Cunha e do Cinema Ambulante, porque eu ainda era um rapazinho”, contou.

Era um rapazinho, mas com genica e antes de levar o cinema a sério, Joaquim Azevedo foi actor e actuou no Sá da Bandeira. Depois adquiriram a primeira máquina de projecção e “como os filmes eram inflamáveis, era preciso tirar um curso para lidar com eles” e com apenas 12 anos, Joaquim Azevedo aventurou-se, mais uma vez. “Eram quatro anos de aprendiz, três de ajudante e depois é que se ia fazer o exame, que fui fazer ao Passos Manuel, ao Cinema à beira do Coliseu”, recordou.

Depois, não parou mais e mostrou os seus filmes em todas as aldeias a Norte do Rio Tejo. “Passei por Valença, Vila Nova de Cerveira, Caminha, Vila Praia de Âncora, Marinhas, Fão, Mondim, Vieira do Minho, Celorico de Bastos, Cabeceiras de Bastos, Ribeira de Pena, Cerva, Vila Pouca de Aguiar, Valpaços e engatava tudo por aí fora. Eu era um maluco!”, ironizou.

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Pelas suas salas de cinema já passaram nomes sonantes como Anita Guerreiro, Manuela Maria, Raúl de Carvalho, Tozé Martinho, Camilo de Oliveira, Raúl Solnado ou António Calvário. É um apaixonado por filmes indianos, mas conhece todas as películas de qualquer género e o “grande filme” da sua vida é mesmo: “Música no coração”. “O amor vence tudo e naquele filme, o amor daquela mulher virou a cabeça ao General. Esse foi o que mais me marcou”, contou emocionado.

Joaquim Azevedo defende a protecção do cinema ambulante

Com uma saúde de ferro, Joaquim Azevedo espera pacientemente ver a Trofa aceitar as suas propostas culturais. “Fazia-se um parque Mayer, como antigamente havia cinema. Havia luta livre, boxe, havia tudo, no Parque Mayer. Porque não fazer aqui um Parque Mayer? Com um cinema ao ar livre (DriveIn). E até depois da meia noite podia-se pôr um filme ‘hard core’ para os mais malucos. Mas sei lá. Era capaz de não vir ninguém”, comentou, desanimado.

O projeccionista defende a protecção do cinema ambulante e lamenta que a Trofa não tenha um cinema. “Uma terra destas sem um cinema? Eu li um artigo de um poeta que dizia que uma terra que não tenha uma sala de espectáculos, não pode ser terra”, garantiu.

Na Trofa, a última vez que deu uma sessão de cinema foi em 2009, a pedido da Junta de Freguesia de S. Martinho de Bougado. “A Junta pagou o ano passado para as crianças verem e agora quer pagar e as professoras não querem, é ou não é boicote?”, questiona-se, indignado. Já nas zonas da Beira Alta e Trás-dos-Montes o público é mais fiel.

Ao longo dos anos Joaquim Azevedo tem vindo a perder clientela, mas o verdadeiro decréscimo do número de assistentes aconteceu aquando da entrada em circulação dos DVD’s. “Foi essa a machadada. E agora a última são as três dimensões, porque eles ameaçam que vão retirar os filmes de 35 milímetros”, lamentou.

Mas Joaquim Azevedo não desiste e mesmo sendo os filmes mais caros, ainda continua a ir buscá-los a Lisboa. O aluguer custa-lhe “200 euros, por dia, mais o IVA”, mas continua a alugá-los.

Joaquim Azevedo apenas “queria ver as máquinas a trabalhar”. “Tenho máquinas como as do cinema do Porto, menos as de três dimensões. Eu dou cinema a sério, e até ao ar livre. E o ecrã mais pequeno que tenho é de 6 metros, e se for de DriveIn é de 12 e 14 metros de largura, mas a projeção tem qualidade”, afirmou. E para além das máquinas e telas com suportes gigantes, Joaquim Azevedo ainda guarda máquinas de pipocas, filmes antigos que adquiriu e centenas de cadeiras, à espera que um dia alguém ainda se sente nelas para uma sessão de cinema.

A próxima paragem do ApoloCine está agendada para 18 de Maio, em Arco de Baúlhe. “Vou a Ponte de Lima também no dia 25 e 26 de Maio à Feira do Livro”, acrescentou.

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