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Edição 600

Não admira que estejam vazias

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Quando um membro do executivo camarário se refere a uma intervenção, em plena Assembleia Municipal, como sendo “uma burrice”, estamos perante um insulto e uma falta de respeito, para com a pessoa em causa e para com a própria Assembleia no seu todo. Parece-me uma premissa válida, ainda que não veja nela a gravidade que alguns lhe quiseram atribuir. Dizer que um argumento é “uma burrice” não faz parte do discurso que espero do nº 2 da autarquia, é certo, mas não insulta aquele que o apresenta. Claro que o visado se pode sentir lesado, uma vez que o argumento é da sua autoria, mas não dramatizemos: dizem-se ali coisas bem piores. Impunemente. Já vi o presidente da câmara dizer, por exemplo, que “a ditadura aqui na Trofa também já acabou em 28 de Setembro de 2013”, o que a meu ver é incomparavelmente mais grave, e a bancada do PS ali ficou, imóvel, sem que a mesma indignação que os tomou na passada semana se tivesse manifestado. Terá sido o timing ou algum copo que transbordou?
Não me choca que um partido tome uma posição como a de abandonar uma assembleia municipal. É uma forma de protesto que, podendo não ser consensual, me parece ser legítima. Podemos concordar, ou não, com os factos que levaram à decisão, mas o protesto é parte integrante e indissociável da democracia. Tal como são os excessos, que sendo condenáveis, em função do seu grau de gravidade, abundam nestas manifestações de democracia, como o são as assembleias municipais. Sim, o insulto é comum. Sim, provocação truculenta é comum. Sim, abuso de poder manifesta-se sob diversas formas. Não admira que estejam vazias.
O PS abandonou a assembleia na semana passada, tal como o PSD o fez em 2013. Tiveram razão para o fazer? Cabe a cada um julgar por si. Podem ser alegados motivos ideológicos e de justiça, podem ser feitas acusações de manipulação e eleitoralismo, mas a decisão é legítima, feita às claras e, graças à tecnologia e àqueles que se dedicam com seriedade ao seu trabalho, disponível online para ver, rever, consultar e esclarecer. A mesma dose de política e arrufo no conforto do seu lar, com o controlo sobre o volume da sua TV. Para não ferir os tímpanos com histerismos desnecessários.
Agora verdadeiramente grave é colar o que ali se passou, de forma descontextualizada, ao facto do PS nacional ter chumbado a criação do concelho da Trofa em 98. É descer ao grau zero da política. É de tal forma miserável que nem vale a pena tentar explicar a “burrice” de tal associação, tão óbvia que é. Mas diz muito sobre quem a faz. E relembra-nos que poucos são os limites das guerras de propaganda a que bloco central local há muito nos habituou. Instrumentalização de sentimentos de pertença, pirraças variadas, insultos e difamações. É escolher a pouca-vergonha que preferir. Não admira, repito, que as assembleias estejam vazias.
Quando Pedro Ortiga abandonou o auditório Trofa XXI, após o alegado insulto de António Azevedo a Marco Ferreira, passavam poucos minutos de um momento no mínimo insólito. Numa troca acesa de palavras, a presidente da Assembleia Municipal interrompe o socialista, que questionava o seu conhecimento do regimento, para lhe dizer “Então ensine-me que eu tenho a humildade de aprender, enquanto vocês não têm”. Pedro Ortiga questionou Isabel Cruz sobre o motivo por trás desse juízo de valor, evidente e que abarcou uma quantidade indeterminada de socialistas e não apenas, como seria de esperar de alguém que dirige os trabalhos de forma imparcial, o seu interlocutor, sendo a reacção da presidente um categórico “Vai-me desculpar, o senhor vai-se calar e eu não o vou ouvir. Faça por escrito”. No espaço de poucos segundos, intervalado por um simples “Está a fazer juízos de valor porquê, senhora presidente?”, Isabel Cruz deu, interrompeu e retirou a palavra a Pedro Ortiga. Não faz sentido. Como não faz sentido, para a esmagadora maioria dos trofenses, ir às assembleias. Não admira, insisto, que estejam vazias.

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