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Edição 571

Literária mente

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Gosto demasiado de livros. Não uso esta palavra com um sentido negativo, mas sim para deixar perceber a ideia de que esta paixão não é algo leviano. Sinto uma profunda admiração por cada livro que existe e, mesmo dentro do mundo de cada livro, cada exemplar é, por sua vez, único. Um exemplar pode ser meu, outro pode ser do leitor. E isso, por simples que pareça, assume-se como uma diferença importante.
Importante porque vai ao encontro da missão principal do livro. Um livro começa no escritor e termina no leitor. Nunca estará terminado sem a sua leitura e isto é algo que muitas pessoas ignoram. Escritores – pois não valorizam verdadeiramente o seu leitor – e os próprios leitores, que entendem a leitura, não raras vezes, como algo sem importância. O leitor completa o livro, com a sua interpretação, com o seu sentimento, com aquilo que dá à história. Esta é sempre uma história dentro da história. O percurso da ideia, desde a mente do escritor, à ideia que fica na mente do leitor, quase que como atingindo a sua maioridade.
É, precisamente, por achar que o leitor tem uma importância tão grande no livro, que não ignoro, também, a sua influência na própria literatura.
A literatura tornou-se, feliz ou infelizmente, um verdadeiro negócio. E, como todos os prazeres que se tornam negócios (veja-se o futebol, a título de exemplo), começam a nascer todo o tipo de características negativas. Uma das principais é a falta de originalidade. Tenho observado, no passado recente, um fenómeno que me deixa profundamente desapontado. A maioria dos livros sai padronizado. Criou-se a ideia de que temos que escrever o que vende. E o que vende é, obviamente, o que o leitor compra. Criam-se modas na literatura. Há escrita da moda, há género da moda, há, até, escritores da moda.
Eu considero que é escritor quem escreve por paixão, ponto. Não precisa de ser publicado, não precisa de ter livros com o seu nome. Se escreve e escreve com alma e coração, é escritor. Nesse sentido, alguém que escreve um livro da moda, com o simples intuito de atingir dinheiro e sucesso com essa escrita, não pode ser um escritor. Não está a ser honesto com aquilo que sente, nem com o seu leitor.
Talvez seja algo recente. Talvez seja algo que sempre aconteceu e a minha juventude só agora me permitiu conhecer este fenómeno. Mas não podemos negar que ele existe. Depois do sucesso do livro “50 Sombras de Grey” multiplicaram-se os livros sobre a mesma temática, quase todos com a inscrição “Bestseller”. O sexo e os jogos sexuais, a manipulação, a sedução, a submissão. Não está em causa o valor da obra original em si. Está em causa a venda fácil que daí surgiu.
Sejamos originais, sejamos sinceros com o nosso coração e o nosso pensamento. As nossas obras podem não atingir os tops de vendas. Mas vão ser únicas. Desta forma, poderemos ser apelidados de simples, humildes, honestos. Mas nunca seremos chamados de banais.

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