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Escrita com Norte: Saudosismos à parte

“Entre o conservador e o progressista, movimento-me entre os dois, em diferentes tons de cinzento.”

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Num mundo em que cada vez mais as pessoas se entrincheiram em posições fixas, sem conseguirem ver para o lado de lá, curiosamente fruto de uma formação cada vez mais académica, eu, pela mesma razão, movimento-me por áreas cinzentas.
Primeiro, porque não acredito em verdades absolutas, com a excepção de que o meu Sporting vai ser campeão para o próximo ano, nunca arriscando a “inverdade” de que vai ser este ano e, segundo, porque penso que o outro lado tem sempre alguma razão, facto que não digo ao adversário da futebolada de domingo de manhã.
Como tal, quando tomo uma posição, não é por achar que é aí que se encontra a verdade toda, mas sim por ter (para mim) as partes mais importantes da verdade, ou, simplesmente, por me sentir mais confortável nesse lado.
Entre o conservador e o progressista, movimento-me entre os dois, em diferentes tons de cinzento.
Se por um lado sou contra as touradas e era capaz, para acabar com esse “espectáculo”, pelo menos na televisão, de ouvir um concerto da Maria Guinot durante dezoito horas seguidas e preferir abraços do que espetar ferros noutros seres vivos;  por outro lado, sou muito conservador e fico triste quando se muda aquilo que está bem.

Semana da final da “Liga dos Campeões”, jogo imperdível. Quarta-feira, noite mítica das finais desta competição, estou sentadinho no sofá a torcer, sem que o jogo tenha ainda começado, para que vá a prolongamento e depois a penáltis. O tempo passa, faço zapping por dois triliões de canais e o jogo não começa…ligo ao meu irmão:

– Em que canal é o jogo? – pergunto.

– Qual? – pergunta-me ele.

– O City-Inter. – digo-lhe eu

– Isso é no sábado! – diz-me, continuando – Amanhã é quinta, não te esqueças de ir trabalhar!
Depois de desligarmos, pensei um palavrão e pela boca saiu-me um indignado –“Poça!”
Antigamente tínhamos a “Lotação esgotada”, substituída por “Quem quer ser milionário”, apresentado pela Manela e ocupado, agora, pelo “Joker”. Tínhamos um festival da canção e Eurofestival a uma só “mão”, nós com músicas tristes e melancólicas e as artistas do centro e norte da Europa a apresentarem-se loiras e mamudas (dava gosto)…nunca morenas e barbudas!
Há coisas que não deviam mudar, mas tudo bem, o mundo muda como muda de posição o ponteiro do relógio!
Ainda sentado no sofá a digerir o facto de que não iria ver nessa noite a final da “Liga dos campeões”, achei-me merecedor de um miminho…e fui jantar a um restaurante na minha rua.
Dez minutos após ter a ideia já estava a ser atendido:

– Boa noite! O que vai desejar? – pergunta a pessoa que me atendeu.
Sem nenhuma dúvida e ligeiramente sôfrego, peço:

– Pataniscas, eu desejo pataniscas!
E o inesperado acontece, quando o empregado de mesa me pergunta:

– Quer pataniscas de bacalhau ou de vegetais?
Pela cabeça passaram-me tantos palavrões como os canais de televisão que tenho em casa:

– De bacalhau!! Eu quero pataniscas da única maneira que conheço…de bacalhau! – respondo.

– Então vai demorar um bocadinho, temos que as fazer. Se fossem de vegetais, já estão prontas…têm mais saída! – esclarece-me o empregado.
Sem dúvida, eu não me movimento tão depressa como os ponteiros do relógio nem ao mesmo ritmo que o mundo muda!

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Apesar das zonas cinzentas em que me movimento, há coisas que me fazem desejar que o relógio tivesse parado em 1988, em que patanisca…era patanisca!

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