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Escrita Com Norte: Cancelado

“O Agostinho não é esse. – e identifico-o com a sua característica distintiva, relativamente a todos os outros – O Agostinho é o negro.”

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Às vezes acordamos sem imaginar o que está para vir… a mim, sempre, com excepção dos afazeres habituais e vulgares.
Este sábado, quando despertei, e depois de lavar a cara, saio do estado reptiliano e começo a entrar no estado de relativa racionalidade, que rezo para durar até ao final do dia, e planeio ir ao parque, munido do meu computador, para escrever um texto para o “O Notícias da Trofa” e aproveitar para ver um grupo de bons amigos, que se junta para dar uns toques na bola. Algo que também planeei, foi, primeiro, manter-me vivo, por isso, antes de atravessar a passadeira, parei e esperei que os carros também parassem; segundo, manter-me claro e simples na linguagem, para melhor e mais rapidamente me entender com os outros. Antes de atravessar a passadeira para o parque, fui interpelado por uma senhora, que me perguntou onde era o oculista. “Está a ver onde está aquele senhor perneta? É aí.” – disse-lhe. Identificar esta característica distintiva deste senhor, de entre os outros, não deixou dúvidas sobre onde era a loja.
Quando encontro os meus amigos, fazemos uma algazarra infantil, própria de quem genuinamente se gosta e atura…em casa são todos uns senhores!

– Pessoal, vou ali para o banco, escrever um texto. Quando terminar venho ter convosco. – e afasto-me.
Estava já há algum tempo instalado num dos bancos do parque, com o computador aberto, a folha em branco, as ideias por aparecer e os meus amigos, ao longe, sem se calarem, quando sou abordado por um Ser Humano, que me pergunta:

– Sabe-me dizer quem é o Agostinho?
Obviamente sabendo quem é o meu amigo Agostinho, esta pergunta, aparentemente simples, fez-me sentir como um touro encurralado na arena por este Ser Humano, pronto a cravar as bandarilhas.

– O Agostinho é o alto, o que parece um andor. – digo, apontando para o grupo.

– Mas dos andores, qual deles? – pergunta-me.
(De todos, apenas o Joca tem pouco mais de metro e meio, os outros, mais de um e oitenta)

– O andor e gordo! – esclareço, já desconfortável.

– Mas qual dos andores e gordos? Vejo quatro!
(Apetecia-me ser claro e responder como respondi à senhora que procurava o oculista)

– Humm, o Agostinho é o andor, gordo e caixa de óculos.

– Mas qual dos andores, gordos e caixa de óculos? Vejo três!

– E feio. – vou peneirando a descrição, já encolhido, com medo do que possa aí vir.

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– Continuo a ver três. – replica o Ser Humano, encolhendo os ombros.

– É o que tem uma pomba no ombro!
(uma pomba tinha pousado no Agostinho, que sempre gostou de passarada)
Quando o Ser Humano olha, a pomba salta de ombro, e passa para o Marco.

– Ahhh, é esse o Agostinho! Tenho um recado para ele.
Quando o Ser Humano avança em direcção aos meus amigos, sob a pressão da conversa que estávamos a ter, “descarrilo” dos novos bons modos e dos novos bons costumes, e sou cristalino como a água,

– O Agostinho não é esse. – e identifico-o com a sua característica distintiva, relativamente a todos os outros – O Agostinho é o negro.
O Ser Humano, moralmente superior, furioso, avança para mim e espeta-me as bandarilhas e condena-me ao “matadouro”, proibindo-me de pensar e expressar…deixei de existir.
Era tão amigo do Agostinho, que é negro, como do Joca, que é baixote, e de todos os outros, que são…

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