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Edição 505

Crónica: Pensar na morte é uma forma de afirmar a vida

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A harmonia do percurso humano e a fleumática lei da vida convidam-nos a aceitar as leis entrópicas do declínio de várias funções do corpo humano em decorrência da idade. A decadência é sentida em termos físicos, psíquicos e emocionais, pois o corpo começa a ficar disforme, começa a crescer para a frente e para os lados, as forças começam a desvanecer, as capacidades a amolecerem, os membros a curvarem e a perderem gradativamente a massa óssea, havendo uma diminuição no seu metabolismo e o medo da fase do envelhecimento, que é muito frágil, começa a surgir.

Em termos físicos, o declínio das várias funções do corpo humano, também se faz sentir quando se começa a ter menor produção de estrogénio; as alterações hormonais a surgirem; o fluxo renal começa a diminuir; o tecido nervoso a sofrer degeneração; as células somáticas começam a morrer uma após outra e a não se renovarem; a surgir uma redução da acuidade sensorial, principalmente auditiva e visual; o coração começa a tornar-se menos eficiente e os pulmões a fornecerem menos oxigénio para o corpo desempenhar as suas funções mais básicas; as glândulas da pele começam a produzir cada vez menos óleos e a pele começa a ficar menos elástica, a flacidez a aparecer e a ruga começa a espreitar ao espelho e a sulcar os cantos dos olhos como rios secos. 

Em termos psíquicos e emocionais, os danos nas várias funções do corpo humano, também se fazem sentir quando se começa a substituir lentamente a prática da vertente física do amor pela consolidação dos sentimentos; a lamentar o tempo que voou depressa demais e o tempo que se passou com as pessoas erradas; a sentir-se nostalgia quando se fala da juventude; a procurar-se a felicidade nos hábitos e não na novidade; o sono a ser mais curto e menos profundo; os sonhos e a esperança a enrugarem; o espírito a fraquejar e a mente a entorpecer, e a ter medo, de aparecer o medo generalizado de viver.

É o processo doloroso de degradação progressiva, diferencial, normal, indeclinável, gradual e universal como consequência da passagem do tempo, que se começa por negar; é a consciência da finitude que poucos assumem e muitos contestam e a inevitável realidade que a nossa estadia neste mundo é muito breve e que morremos cedo demais; é a sombra da morte, que é certa, a vaguear lentamente tão presente e a despertar o medo no nosso coração.

Pensar na morte é uma forma de afirmar a vida. Ao encarar-se, profunda e emocionalmente, o facto de que a vida é demasiado curta e o tempo limitado, é que se pode viver plenamente cada instante e ter reverência pela vida que ainda resta.

Para quando houver a lenta separação dos átomos, a separação entre o espírito e o corpo mortal e houver a libertação da nossa forma Espírito-Alma do corpo físico que compõe a vestimenta cárnea externa; quando tornar-nos à terra, porque somos pó e ao pó tornaremos; quando se partir desta vida satisfeito com a sementeira que deixamos:

Será nosso o reino mítico dos céus, o lugar maravilhoso chamado Terra de um novo Início, onde se espera e deseja viver em luz e conviver de novo com quem muito amamos e nos acompanhou na viagem da vida e nos fez tão feliz.
Isso é estar vivo. Até à eternidade!

José Maria Moreira da Silva
moreira.da.silva@sapo.pt
www.moreiradasilva.pt

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