Edição 590
Trofa perde mais uma parte da sua história. E qual História? – Parte IV
Após ter escrito em edições anteriores desta crónica sobre o processo que culminou na demolição da Ponte da Peça Má no passado dia 2 de setembro, sem que fosse promovida qualquer análise ou discussão pública dos tão evocados estudos e pareceres, conforme COMPROMISSO e PALAVRA DADA.
E, existindo documentação, já solicitada aos órgãos competentes pelos canais próprios, e que por razões que se desconhecem e que se estranha, ainda não foram divulgados para uma correta e rigorosa análise que permita tornar público e transparente as bases com que se tomou tal decisão. Na certeza, contudo, que por força de lei, com muita insistência e resiliência é certo, esses documentos terão que acabar por vir a público.
Não é fácil compreender a demora em disponibilizar documentos que supostamente já foram produzidos no passado e que serviram de base à decisão, dado que não se pretende com este pedido a produção de nova fundamentação, dado que esta já vêm no seguimento do facto consumado.
Assim e até à disponibilização da documentação que permita a todos os Trofenses, defensores da manutenção da ponte ou da sua demolição, tomar consciência fundamentada daquela que podia ser a melhor decisão, remeto novos comentários para o futuro próximo.
Mas, na minha primeira crónica sobre este tema, mencionei que iria numa crónica futura apontar alguns dos vários documentos mencionado pelos que defendem a manutenção da Ponte da Peça Má, mesmo que hoje tal já não seja possível concretizar.
Na wikipédia podemos encontrar a seguinte menção: «A linha entre a Senhora da Hora e Trofa foi construída pelo empreiteiro francês André Borie, que se celebrizou pela construção da linha internacional de Tende, de Cuneo a Nice. (…) A cerimónia oficial de inauguração deste troço e do Túnel da Trindade deu-se no dia 14 de Março, com a presença de várias individualidades do estado e dos caminhos de ferro, incluindo o presidente da república, Óscar Carmona, e vários embaixadores;(…)»
Na gazeta dos Caminhos de Ferro de 16 de Março de 1932, é possível ler o relato da “Visita do Chefe de Estado ao Norte e a inauguração do túnel da Trindade e Linha da Senhora da Hora à Trofa”, onde perante um relato minucioso e muito extenso, se vive a importância da história traçada nessa data, não resistindo a transcrever-vos breves parágrafos:
«(…) COMO FOI INAUGURADA A NOVA LINHA DA SENHORA DA HORA Á TROFA: (…) Aos catorze dias do mês de Março de 1932, pelas catorze horas, nesta estação da Senhora da Hora, foi solenemente inaugurada por S. Exª o Presidente da República, sendo ministro do Comércio e Comunicações o Exmo. Sr. Dr. João Antunes Guimarães e Diretor Geral de Caminhos de Ferro o Exmo. Sr. Eng. Alvaro de Sousa Rego, a linha férrea da Senhora da Hora á Trofa,(…) Terminada a cerimonia inaugural, procedeu ainda á cerimónia do corte da fita colocada á largura da linha e no inicio desta, tomando em seguida, de novo o comboio que se poz em marcha pela nova linha em direcção à Trofa. (…) As pessoas de maior cotação da localidade associam-se às homenagens ao Chefe de Estado, ministros e sua comitiva e ao sr. Eduardo Plácido a quem certa individualidade o nota magro e cançado do tanto que tem trabalhado em prol dos progressos ferroviários do Norte. Muro, pequeno apeadeiro conhecido por S. Cristovão do Muro, onde os sinos da igreja repicam festivamente anunciando ao seu povo o grande melhoramento para a região. O Asilo do Terço com a sua banda faz a guarda de honra. Há aclamações delirantes. Na ponte que existe entre os lugares de Poça Má e da Serra, sobre a estrada de Braga, o sr. Ministro do Comércio apeia-se para descerrar uma lápide comemorativa da inauguração desta obra de arte. Há mais aclamações, palmas, vivas e bastantes foguetes. E o comboio segue. Bougado e finalmente Trofa, extremo da linha inaugurada cuja estação se apresenta ricamente decorada com colchas de damasco. O comboio pouco demorou e o Chefe do Estado e ministros são aclamadíssimos pela multidão enorme que enche a estação. (…)»
Pois bem, muito mais podia escrever, mas cada um saberá reconhecer se esta também é a História da Trofa e se essa obra de arte era ou não importante, ao ponto de ser alvo de paragem obrigatória para descerrar uma lápide.
Pena é que a história só seja apreciada após o desaparecimento de muitos dos seus símbolos, e acreditem que na Trofa já poucos existem.
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