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Edição 587

Ponte da Peça Má: crime contra todos!

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Muito se falou, com grande enfoque nas redes sociais, no súbito comunicado efetuado pela Câmara Municipal da Trofa que, de véspera, anunciou a demolição de uma estrutura quase secular – a Ponte da Peça Má, que serviu a circulação dos caminhos-de-ferro para cruzar a EN14, na freguesia do Muro.
Antes de avançar, com factos concretos, de um processo que assume “contornos de conspiração”, devo deixar clara a minha posição individual: não fiquei esclarecido com os argumentos quer de um lado quer do outro; não tenho conhecimentos técnicos; não vi estudos elaborados que sustentem decisões; não senti promovido um debate que permitisse aprofundar conhecimentos e transmitir informação à população trofense, por parte dos responsáveis políticos localmente eleitos, apesar de ter sido essa a sua promessa!
Comporto-me, pois como um leigo nesta matéria, “interesses” na classificação de património coletivo a preservar, lembrando-me apenas das vezes que a tradição oral se referia à “Ponte da Peça Má” como um marco do território. Situada em plena EN14, conferia diariamente a quem lá passava a certeza de que não tinha sido uma ilusão as décadas de passagem dos caminhos-de-ferro no Muro, cuja presença foi um fator crucial de desenvolvimento local, à semelhança dos grandes aglomerados de S. Martinho de Bougado e S. Romão do Coronado. O seu estado, de aparente degradação, em resultado da sua falta de manutenção desde 2002, não deixava dúvidas de que uma injustiça estava a ser cometida, há longa data contra os murenses em particular e trofenses em geral.
Apesar de tudo, a ponte, considerada agora pelos decisores políticos um mero monte de pedras, “caminhava”, ano após ano, lembrando um passado glorioso dos caminhos-de-ferro na Trofa, protestando no presente pelas injustiças pelo seu “roubo”, ao mesmo tempo que esperava, mais não fosse pela sua idade, a mais que certa classificação de “interesse patrimonial”.
Vamos então a factos, que deveriam ter conduzido a um desfecho diferente:
Na Assembleia Municipal, de 28 de dezembro de 2015, o tema – Ponte da Peça Má – foi propositadamente abordado pelo distinto trofense Comendador Eurico Ferreira, que manifestou a sua preocupação com o seu estado e rumores, de que o executivo municipal tinha assumido um papel de desinteresse relativamente àquela estrutura – facto que se confirmou publicamente pela “frieza” no teor do comunicado. O Sr. Eurico Ferreira falou de um estudo técnico que tinha encomendado e que apontava para a possibilidade de um reposicionamento da orientação da estrada, que traria segurança e o princípio da requalificação daquela zona, passando a ponte a ficar protegida e com possibilidade de se afirmar como marco patrimonial e histórico, e com uma qualquer função que os vindouros lhe quisessem atribuir. Falou ainda de custos, irrisórios se comparados com os custos da sua demolição ou perda sentimental para muitos trofenses.
Não menos importante a intervenção, na mesma Assembleia, do Professor Manuel Silva, atualmente vereador, que esclareceu todos os presentes e pessoas que acompanham “via Trofa TV” a reunião, caracterizando a ponte de “uma das últimas de alvenaria a ser construída” falando de um valor que iria muito para lá da parte patrimonial ou histórica e que tocava mesmo o imaterial, fazendo, por isso, “parte” das pessoas.
As opiniões foram corroboradas, de seguida, por dois dirigentes políticos locais, Adelino Maia presidente da Junta de Freguesia de Alvarelhos e Guidões que afirmou “o importante é que a ponte esteja em condições” e que “seria genial garantir a segurança e preservar a história”. Já Carlos Martins, presidente da Junta do Muro, foi mais longe e sugeriu “a criação de uma comissão, na qual o Sr. Eurico fizesse parte, para estudar as alternativas à demolição da ponte”.
Sérgio Humberto, presidente de Câmara disse, tranquilizando os presentes, que “não há novidades” sobre o possível destino a dar à ponte “desde há ano e meio” (recordo que esta AM realizou-se a 28 de dezembro de 2015) data da última notificação da Metro do Porto à autarquia e, apesar de “haver um documento na autarquia que refere que, do ponto de vista patrimonial, a ponte não tem essa mais-valia”, o autarca assegurou que “a decisão” sobre o que fazer com a estrutura “não vai ser do executivo municipal”, afirmando mesmo que “essa decisão vai ser da população”, abrindo a porta à possibilidade de “HAVER UM REFERENDO OU DE CRIAR A COMISSÃO”.

Posto isto, passou janeiro, fevereiro, março, abril, maio, junho, julho, agosto, e o 1 de setembro, pelas 14:42, com a divulgação de execução de uma sentença para a ponte, marcada para as 20h do dia seguinte, dia 2 de setembro!

Várias questões aqui levanto:

1.º Será legítimo um presidente de Câmara, tendo afirmado um determinado propósito, em Assembleia Municipal, agir em desconformidade com as suas próprias palavras?

2.º Terá mandato suficiente, o executivo camarário, para ignorar a vontade dos murenses que tinham deliberado em Assembleia de Freguesia a sua vontade de que a estrutura se mantivesse na sua freguesia?

3.º Que grau de conhecimento do evoluir do processo e opções foram dadas ao presidente da Junta de Freguesia do Muro, em consequência da correspondência enviada pela Metro do Porto à Câmara Municipal da Trofa?

4.º Que papel desempenhou em todo este processo o associativismo ligado à preservação do património, que nunca se pronunciou oficialmente sobre este processo?

5.º Porque sentiu a CM da Trofa necessidade de organizar o passeio de 1400 seniores (para mim idosos, e com todo o carinho!) a Lamego, acompanhados pelo presidente Sérgio Humberto, numa espécie de “alibi” quanto ao crime que foi cometido contra a memória dos trofenses?

6.º Qual o critério de comunicação utilizado pelos serviços da CM da Trofa, que na demolição dos pontilhões junto ao ciclo, deu um acompanhamento “minuto a minuto” do evoluir dos trabalhos, com o seu presidente por perto e, neste caso, refugiou-se num simples comunicado?
Termino, por agora, esta minha intervenção, porém na certeza de que procurarei respostas para perceber o grau de “maturidade democrática” atualmente existente na Trofa, esforçando-me para que fique memória escrita para que os nossos filhos façam o seu julgamento…

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