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O cabo que “segurou” a Revolução (c/ vídeo)

Condecorado por Marcelo Rebelo de Sousa, em 2021, José Costa não se considera um herói de Abril, mas sente “orgulho” pela “atitude” que teve. Dela, Salgueiro Maia disse, um dia, tratar-se “da insubordinação mais bela do 25 de Abril”.

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Quando estava perante a coluna de Salgueiro Maia, no Terreiro do Paço, o cabo apontador José Alves Costa recebeu a ordem para abrir fogo. Apesar de ter uma pistola apontada à cabeça, decidiu entrar no tanque e não obedecer à ordem, tendo prestado um contributo, quiçá preponderante, para o sucesso da Revolução de 25 de abril de 1974.

José Alves Costa foi um herói desconhecido do 25 de Abril, até 2014. Quando se assinalaram quatro décadas da Revolução, acabou por ser descoberto pelo fotógrafo Alfredo Cunha, que durante anos o procurou incansavelmente, por Balasar, na Póvoa de Varzim, para contar a sua história, no livro “Os Rapazes dos Tanques”, que assinou em conjunto com o jornalista Adelino Gomes.

Reformado desde 2010, depois de 33 anos a trabalhar na Continental Mabor, o cabo Costa estava num café onde Alfredo Cunha foi pedir ajuda para encontrar alguém que morava no lugar do Calvário. Coincidência, José Costa era de lá, coincidência maior, era ele que Alfredo Cunha procurava. Durante o período que se manteve no anonimato, nunca pensou que a sua história pudesse ser valorada ao ponto de ser considerada crucial para segurar a Revolução. O cabo apontador, integrado num dos tanques da coluna que saiu do regimento de cavalaria 7, às ordens do brigadeiro Junqueira dos Reis, chegou ao Terreiro do Paço num blindado M47 e mesmo depois de ter uma pistola apontada à cabeça, preferiu desobedecer à ordem de abrir fogo contra a coluna de Salgueiro Maia.

“Meti-me dentro do carro, fechei-me, manejei o carro e como nunca quis matar, quando eu vi que tinha tanta gente na minha frente e alguns eram meus colegas, com a farda igual à minha, decidi que preferia desobedecer do que fazer asneiras, que era disparar”. Esta é a história que, agora, José Costa conta por todo o País, em palestras que lhe ocupam os tempos livres, desde que o seu testemunho foi conhecido.

Na Escola Básica e Secundária do Coronado e Castro, em S. Romão, e na EB 2/3 do Castro, em Alvarelhos, também “abriu o livro” e recordou alguns episódios de como foi viver, na primeira pessoa, as incidências de 25 de abril de 1974.

Não só a liberdade, com a Revolução veio “a saúde e a educação”, defende o antigo cabo, que também considera que a democracia ganhou-se no Terreiro do Paço, e não no Quartel do Carmo, quando “as tropas que estavam do lado do Estado Novo não reagiram às ordens que lhe foram dadas, pelo brigadeiro Junqueira dos Reis”.

Condecorado por Marcelo Rebelo de Sousa, em 2021, José Costa não se considera um herói de Abril, mas sente “orgulho” pela “atitude” que teve. Dela, Salgueiro Maia disse, um dia, tratar-se “da insubordinação mais bela do 25 de Abril”.

Ana Paula, professora de história do Agrupamento de Escolas do Coronado e Castro, foi a mentora da palestra, que considerou que esta foi uma oportunidade para dar a conhecer aos alunos a história de alguém que viveu, na primeira pessoa, parte dos acontecimentos da Revolução. “Estes alunos são uns privilegiados, são eles e somos nós, em estar no mesmo espaço a ouvir a história de alguém que fez parte do 25 de Abril”, asseverou.

A palestra com José Alves Costa foi uma das atividades do programa elaborado pelo Agrupamento de Escolas do Coronado e Castro para assinalar os 50 anos do 25 de Abril.

Íris Vaz/Cátia Veloso

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