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Edição 452

Filho de Mãe Incógnita

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Ricardo Garcia

Durante a longa noite fascista em Portugal, era bastante comum o registo de uma criança como sendo filho(a) de pai incógnito, fruto do conservadorismo balofo do regime salazarista. Só em 1977 é que a lei proibiu tal absurdo. Uma criança tem de ter uma mãe e um pai. Até aqui, parece-me, estamos todos de acordo. Bem, talvez não seja o caso do concelho Trofa: não é que tem um pai e não tem uma mãe?

O atual executivo decidiu proclamar o comentador Marques Mendes como o “pai da Trofa”. Persisto: e a mãe? Ao que parece, o processo de canonização já está numa fase avançada e não tarda nada temos num altar perto de nós uma figura do comentador Marques Mendes, o santo que pariu um concelho, passando assim uma borracha em todo o longo e sinuoso percurso de emancipação da população trofense. Sim, porque foi num governo do PSD e com os votos desfavoráveis do PS que a Trofa conseguiu a sua autonomia administrativa face a Santo Tirso. Já agora, como vamos chamar ao Dr. “Dias BPN-SLN Paraísos Fiscais ex-conselheiro de Estado Loureiro”? “O Carniceiro da Trofa”? “O Sanguinário da Trofa”?”O Espancador da Trofa”? É só escolher.

Sobre o dia 19 de Novembro de 1998, eu prefiro parafrasear o meu amigo João Mendes: “Luís Marques Mendes não é mais pai do nosso concelho do que cada um dos mais de 8000 mil trofenses que naquele dia 19 de Novembro de 1998 invadiram a AR e não arredaram pé até lhes garantirem que o objetivo traçado tinha sido atingido.” Parece-me que este ponto tem vindo a ser escamoteado pelos últimos executivos e a personificação num indivíduo algo que foi conquistado por uma verdadeira vontade popular e que representou um momento histórico na política portuguesa, desvaloriza, a meu entender, o que verdadeiramente devia ser celebrado no dia 19 de Novembro: a força do Povo.

Para remate, e uma vez que tudo já foi dito, Nelson Mandela lembra-me sempre o dia 11 de Fevereiro de 1990 e eu em frente à televisão a assistir, um pouco confuso, a um momento histórico. Pela primeira vez vi o impossível acontecer.

Ricardo Garcia

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