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Crónicas e opinião

Escrita com Norte: Adivinhação

“Há muito boa gente, e quando digo boa gente, é-o mesmo, que num toque de “eu sou mesmo interessante”, tenta prever “o que vem a seguir”, como se lhes conferisse um toque de sofisticação e inteligência!”

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Apesar de nunca me ter sentido apto a “capacidades do Além” e de nunca arriscar, durante anos, dizer que sim, quando me perguntavam se achava que o meu clube ia ser campeão (sou sportinguista), há muito boa gente, e quando digo boa gente, é-o mesmo, que num toque de “eu sou mesmo interessante”, tenta prever “o que vem a seguir”, como se lhes conferisse um toque de sofisticação e inteligência!
Também assim o fui, mas em criança, quando teimava em terminar as frases da minha professora Maria Luísa:

– Está na hora… – e cortando-lhe a frase, completava.

– …Do recreio. – e sorria para ela.

– Isso mesmo Zé! Muito bem! – respondia-me, paciente.
E os meus olhos atravessavam o resto da turma com um sorriso, como que dizendo, “Eu é que sou fino”.
Mudei, sem saber se melhorei, e comecei a deixar as pessoas falar até ao fim, e de extraordinário… bem, a minha mãe, sem eu saber porquê, está convencida, e pensa que me convenceu, de que sou muito bom a escolher melões sem olhar para o seu interior, e dizer se estão bons ou não! Nunca desmenti tal incapacidade e agora não tenho coragem para lhe revelar a verdade!
Hoje à tarde:

– Ó pá, eu tinha a bola nos pés, finto um, finto outro, driblo o guarda-redes…

– E marcaste um grande golo!

– Não, pá! Não sei como, mas torci o pé e chutei a bola ao lado! O jogo parou e eu não conseguia jogar…

– E a tua equipa jogou com menos um. Que chatice!

– Não! Fui para a baliza. Agora, tenho que ter paciência, a andar dói-me…

– Muito, dói-te muito. É natural!

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– Pouco. Dói-me pouco. Mas amanhã já…

– Vais ao massagista. Fazes bem, se quiseres indico-te um muito bom que…

– AMANHÃ, vou jogar outra vez. Vou ligar bem o pé e vou JOGAR OUTRA VEZ. – respondo ao meu bom conhecido em tom “viçoso”, recuperando a característica de criança, quando terminava as frases da minha professora, sem ela ter pedido.

– Pronto, está bem, mas deixa-me terminar! – diz-me o meu bom conhecido, incomodado pela interrupção – Se precisares conheço um massagista muito bom e não leva caro. E então, amanhã vais jogar com quem?

– Olha! Vou jogar com o Nando…

– Ele joga bem, não joga?

– Nem por isso! É um marreta. Também joga o Sequeira…

– O Sequeira é um bocado marreta, não é?!

– Não. O Sequeira joga bem! Também joga o meu irmão…

E desta vez não sou interrompido pelo bom conhecido, mas pelo toque do telefone.

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– É uma admiradora? – pergunta-me, sem ter acertado… mais uma vez!
“Só me restam saudades”, pensei, e respondi-lhe – É a minha mãe. Espera um bocadinho, vou atender.
Após o telefonema.

– Ó Meireles, tenho que ir. A minha mãe…

– Tens que ir buscá-la. Fazes bem, Mãe só há uma!

– Não pá! Pediu-me para ir ter com ela à frutaria para escolher dois melões!

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