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E depois da JMJ? O testemunho de quem viveu um momento “irrepetível”

O JA ouviu jovens e monitores que estiveram, ativamente, envolvidos na realização da Pré-Jornada, no concelho da Trofa, no acolhimento dos peregrinos estrangeiros e na participação do grande evento, em Lisboa.

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Muito se debateu, muitos tweets se escreveram e muito se falou sobre o alegado retorno da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) no nosso país. Muito desse debate centrou-se, claro está, na valia financeira que o evento podia trazer para Portugal, mas, por outro lado, não se generalizou as conversas e os testemunhos de quem viveu a JMJ e o contacto com o Papa Francisco.
O JA ouviu jovens e monitores que estiveram, ativamente, envolvidos na realização da Pré-Jornada, no concelho da Trofa, no acolhimento dos peregrinos estrangeiros e na participação do grande evento, em Lisboa.
O padre José Ricardo Dias, responsável pelo pelouro da Juventude da Vigararia Trofa/Vila do Conde, não duvida de que os jovens tiraram grandes ensinamentos da experiência e agora espera que “aproveitem o que viveram na JMJ e a alegria que sentiram de partilhar a sua casa e o seu território, do concelho e de Lisboa, para aplicar nas suas vidas”. “Pensem que o que aconteceu na JMJ foi o começo de uma realidade que seja a sua participação na vida, não só na Igreja, mas na vida na sua plenitude, como um testemunho para os outros”, transmitiu.
José Ricardo Dias destacou ainda que Pré-Jornada serviu de “demonstração” aos jovens de que “se quiserem organizar alguma coisa, conseguem fazê-lo, desde que juntem sinergias”.
Outra grande aprendizagem, acrescenta o padre, foi o de “perceberem que esta fé que vivem, permite juntar jovens de todo o mundo, independentemente da língua, da condição social e do modo de vida”.
Leia o testemunhos recolhidos pelo JA.

Margarida Pinto, 36 anos, S. Cristóvão do Muro

Viver as Pré-Jornadas e a Jornada Mundial da Juventude em Lisboa 2023 (JMJ) foram duas experiências verdadeiramente memoráveis. Estas duas semanas foram momentos de crescimento espiritual e pessoal que deixaram uma profunda marca em todos os que tiveram o privilégio e a oportunidade de participar.

Eu tive a oportunidade de estar presente juntamente com o Grupo de Jovens Sem Fronteiras do Muro (JSFMuro), a Catequese de S. Cristóvão do Muro, o Padre José Ricardo e outros grupos da nossa Vigararia na organização e participação nas Pré-Jornadas, um acontecimento único no nosso concelho. As Pré-Jornadas envolveram uma preparação minuciosa, desde a logística até à divulgação, sendo etapas fundamentais para que todos pudessem fazer parte desta experiência irrepetível. Foram dias em que muitas pessoas envolvidas tiveram a oportunidade de se relacionar com peregrinos de 9 nacionalidades diferentes (Polónia, Trinidad e Tobago, México, França, Argentina, Líbano, Itália, República Checa e Cazaquistão), unidos numa celebração multicultural única. Os peregrinos trouxeram alegria a todo o concelho e integraram-se com muita facilidade nas comunidades que os acolheram.

Independentemente das eventuais dificuldades na comunicação, com as famílias de acolhimento e com os voluntários, foi notório um amor e carinho que ultrapassaram as barreiras culturais. Durante esses dias, na Paróquia de S. Cristóvão do Muro, aprendemos que um cristão não teme o desconhecido e que o ato de acolher sem saber quem está a chegar é a maior dádiva que São Cristóvão poderia ter recebido.

Estar nas JMJ foi mais um ato de inquietude porque não é fácil ser jovem. E os jovens têm constantemente um desejo profundo de serem escutados, mas muitas vezes sentem que a sua voz não é ouvida. A forma mais fácil é dar-lhes respostas pré-fabricadas, sem atender à força e à provocação das suas perguntas. E estas JMJ foram um verdadeiro momento para que essas provocações fossem atendidas, este ano nas catequeses (Encontros Rise Up) foram abordados temas de verdadeira reflexão do nosso dia-a-dia. Um dos encontros debateu a Encíclica ’Laudato si’, de 2015, que reflete sobre a crise ambiental, dando-nos espaço para refletir de como nós cristãos podemos contribuir para o cuidado da nossa casa comum.

Um dos momentos mais significativos destas JMJ para mim foi, sem dúvida, a Via Sacra. Esta cerimónia afastou-se das cerimónias tradicionais e abordou questões importantes. Na presença do Papa, foram abordadas fragilidades que afetam os jovens de hoje temas como a guerra, a intolerância, a depressão, as alterações climáticas e as dependências. A mensagem não convencional permitiu-me identificar-me com as lutas e os desafios abordados, senti que a Via Sacra foi, sem dúvida, um dos momentos que ficará gravado na minha memória e de todos, inspirando-nos a sermos agentes de uma mudança positiva do mundo.

Mas uma das experiências mais marcantes destas JMJ, ocorreu quando estávamos todos (GioFrater – grupo nacional que o JSFMuro pertence) à espera do autocarro para as catequeses em Sacavém. Estava um daqueles dias de sol e calor que se verificou durante toda essa semana em Lisboa e estávamos todos a cantar e alegres, como era normal ao início do dia. Foi então que uma senhora visivelmente transtornada parou o carro junto à nossa paragem de autocarro. Ela abriu rapidamente a janela do carro, quase sem conseguir falar e com os olhos em lágrimas entregou-nos um bilhete com uma mensagem comovente: “Rezem por nós… Eu, o meu filho e pelos meus netos. Bem hajam.”

E a partir daquele momento ficamos todos muito mais calmos, porque aquele momento deixou-nos a pensar no desespero daquela senhora, para sentir a necessidade de pedir a um grupo de estranhos para rezarem por ela e pela família.

Este encontro deixou-me profundamente tocada, porque aquela senhora, cujo rosto refletia preocupações e desafios da vida, confiou-nos um pedido de oração. Fiquei a pensar nas histórias e nas cargas que cada pessoa carrega consigo e este momento mostrou-me como a JMJ pode ser um espaço de apoio e partilha, onde estranhos se conectam através da fé e da compaixão.

A JMJ ofereceu-me, a mim e a todos os jovens que lá estiveram, uma visão de um futuro onde TODOS somos valorizados, respeitados e amados como filhos de Deus. A Igreja tem de ser um lugar para TODOS, independentemente do seu passado, origem ou situação atual. O facto de Deus nos chamar pelo nome realça a nossa singularidade e importância. Esta confiança que Deus deposita em cada um de nós inspira-nos a construir um futuro inclusivo, compassivo e justo. E o apelo de Jesus para trazer TODOS à Igreja, desafia-nos a ser uma comunidade que valoriza a diversidade e celebra a dignidade de cada indivíduo.

Em suma temos de acolher TODOS e ser agentes da mudança fundamentados no amor, na justiça e na compaixão e assim construir um futuro melhor. E como o Papa Francisco disse a meio milhão de peregrinos, no Parque Eduardo VII: “Repitam comigo: na Igreja há espaço para TODOS, TODOS, TODOS”.

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