Edição 514
CRÓNICA: Quando um político fala verdade
Quando um político fala verdade cai o Carmo e a Trindade, foi o que aconteceu a António Costa, secretário-geral do Partido Socialista. Numa intervenção pública para investidores chineses, admitiu que Portugal “está até bastante diferente do que há quatro anos”, ou seja, quando o primeiro-ministro socialista, José Sócrates, pediu ajuda externa.
Logo a oposição, por uma intervenção de Nuno Melo (CDS-PP) apressou-se a divulgar o vídeo com tal afirmação, tendo sido inúmeros os protagonistas (do governo PSD, CDS-PP) a festejar aquilo que alguma comunicação social intitulou de “um autogolo” nas suas intenções de disputa eleitoral pelo cargo de primeiro-ministro de Portugal, interpretado como um elogio ao desempenho do governo. O recém-chegado a estas lides, António Costa, já devia saber que o clima tem de ser sempre de guerrilha, é assim que está formatada a política dos políticos portugueses! Ingenuidade de principiante…
Pelo PS, mais uma desfiliação de um histórico e fundador do partido, Alfredo Barroso (antigo chefe da Casa Civil do Presidente da República Mário Soares), sendo que, na generalidade, os restantes saíram na defesa do seu líder, considerando que se tratou de um ato patriótico, ao exagerar perante a ilustre plateia de investidores chineses! Estes chineses não são os mesmos que proliferaram lojas por todo o país e arruinaram o nosso comércio tradicional, com produtos de qualidade duvidosa, produzidos num país onde não se respeitam regras elementares das condições de trabalho em clara desigualdade com o que é exigido às empresas portuguesas? Ou serão os “mesmos” chineses que adquiriram os “Vistos Gold” (autorização de residência para entrada e permanência em território português) recentemente envoltos em polémica de corrupção e que até já obrigou o governo, pelas mãos do vice-primeiro-ministro Paulo Portas, a alterar as regras para a sua atribuição?
A agenda ficou marcada pelo costume, ironias patéticas de parte a parte (“arco da governação”), com a mesma forma teatralizada de fazer política em que se discute coisas de pouca importância, uma espécie de “apanhados de momentos hilariantes”, e se despista permanentemente a abordagem de questões estruturais e sérias, invertendo o caminho da inevitável perda de soberania! Pelo menos, enquanto os protagonistas continuarem a nivelar o debate político “por baixo”, assumindo-se como verdadeiros “snipers” da retórica.
Fora das guerrilhas partidárias e com um olhar realista, vamos rever novamente as declarações do líder da oposição, António Costa: “Os chineses, os investidores chineses, disseram presente, vieram, e deram um grande contributo para que Portugal pudesse estar hoje na situação em que está, bastante diferente daquela que estava há quatro anos atrás”. Procuro e não encontro motivo para polémica nas interpretações que se têm feito acerca desta temática. De facto o país está melhor, para os chineses é claro, e para os seus interesses, afinal o discurso era para eles, será que alguém tem dúvida?
Agora, e os interesses dos portugueses quem os defende?
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