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Edição 594

Literária Mente: Ler as entrelinhas

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Escrever é uma arte. A 6ª, da numeração tradicional das artes, logo atrás da famosa sétima arte, o cinema. Estando envolvido nestas duas artes, nestas duas áreas, estou constantemente a compará-las, estou constantemente a tentar perceber onde e quando posso interligá-las e fazer uma beber da outra. Afinal, se pensarmos bem, estão as duas intimamente ligadas. São duas formas distintas de contar histórias. Temos as personagens, o contexto, as relações, as ligações… Tudo apresentado a nós da mesma forma mas, ao mesmo tempo, de formas diferentes.

Pensando nesta ligação, nesta relação íntima do cinema e da escrita, uma das coisas que mais me fascina e que tento transmitir nas minhas criações, quer literárias, quer cinematográficas, é a capacidade de conseguirmos ver para além das letras e para além das imagens. Nem sempre aquilo que o escritor e/ou o realizador nos apresenta é, objetivamente, tudo aquilo que ele quer transmitir.
A partir daqui, poderemos observar duas situações. A primeira é o facto de, ao longo do livro e ao longo do filme, estarmos “na pista” do criador e conseguirmos deslindar todos os significados escondidos que a história nos apresenta. Falo aqui de um diálogo que, até como na vida real, tens intenções escondidas por trás das palavras, de um quadro que, parecendo um detalhe insignificante na parede de uma divisão, revela-se como um indício de algo que está por vir. Quase como um jogo do gato e do rato em que o criador nos esconde os mistérios mas nos dá pistas para os descobrir.

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A segunda situação é podermos ter a liberdade, principalmente na literatura (porque não estamos a ser obrigados a aceitar uma visão sobre a história – a do realizador) de criarmos o nosso próprio significado para os detalhes que vemos da história. Como na própria vida, em que muitas vezes nos confrontamos com diferenças de opinião desta ou daquela pessoa, também nas histórias a nossa mente, a nossa personalidade, a nossa forma de ver as coisas pode criar uma versão completamente diferente daquilo que vemos no ecrã. Daí que as conversas à porta do cinema, depois do visionamento de um filme, sejam tão interessantes. Mesmo na sétima arte há sempre o brotar de imensas interpretações sobre o mesmo filme (uns géneros são mais suscetíveis a esta situação do que outros).
O repto que deixo esta semana é esse. Tentarmos sempre ver além do que o ecrã ou as páginas de um livro nos mostram. Irmos sempre além disso e tornarmos a história nossa, fazermos parte dela.

Livro da Quinzena

Cidades de Papel, John Green. É a terceira vez que me refiro a este autor, mas é aquele que, até hoje, mais conseguiu mover-me com as suas histórias. A adaptação ao cinema está francamente fraca, mas o livro é de ouro. Porque todos nós já sentimos, pelo menos uma vez, a vontade de fugir da nossa realidade, da nossa zona de conforto.

Literariamente, estamos conversados.

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