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Fixar os jovens trofenses: o verdadeiro desafio para que o futuro passe por aqui

E não é preciso ir ao Porto ou a Braga para sentir a diferença abismal entre o que significa viver numa cidade vibrante ou numa cidade dormitório. Basta atravessar a fronteira para a Maia ou para Famalicão.

João Mendes

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Na passada semana recebi uma notícia que me deixou triste. Um casal amigo, nascido e criado na Trofa, aproveitou a loucura que tomou conta do sector imobiliário, vendeu o apartamento por um valor muito acima daquele que pagou por ele há mais de 10 anos e comprou uma casa no concelho da Famalicão.

Não que Famalicão fique na China, e eu nunca mais volte a vê-los, mas custa-me ver este êxodo interminável de jovens e menos jovens, que trocam a Trofa por outras paragens com mais para lhes oferecer.

Do grupo de amigos com quem cresci, a maioria deixou a Trofa nos últimos anos. Uns para o Porto, outros para Braga, muitos para Famalicão, alguns para fora do país. As motivações são muitas, mas destacam-se a baixa oferta de empregos qualificados no concelho, os preços proibitivos das casas e o elevado custo de vida que contrasta com o marasmo cultural.
E aqueles que emigraram recém-licenciados, regressando agora com currículos sólidos, para ocupar posições em empresas de renome na região, após alguns anos a viver em grandes cidades europeias, não querem voltar à Trofa:

– Porquê?

– Porque não se passa nada.

– Como assim, não se passa nada? Tens cá família e amigos.

– Pois tenho. Mas o Porto é já ali e eu posso vir cá sempre que quiser. Em 30 minutos ponho-me aqui.

De facto, as acessibilidades são um dos pontos fortes do nosso concelho. Pese embora esse desastre que dá pelo nome de EN14. Mas a variante avança a bom ritmo, os comboios são frequentes e ainda temos a A3.

Mas isso não chega para fixar a população.

E não é preciso ir ao Porto ou a Braga para sentir a diferença abismal entre o que significa viver numa cidade vibrante ou numa cidade dormitório. Basta atravessar a fronteira para a Maia ou para Famalicão.

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Há dias, na sequência de outro texto que aqui publiquei, referi-me à Trofa como cidade dormitório. Os ofendidos do costume, sempre preparados para nada acrescentar que não seja a mentira e a manipulação dos factos, indignaram-se obedientemente, como se eu tivesse usado o termo com prazer.

Não usei.

Usei-o com profunda tristeza e com o realismo de quem não se deixa condicionar por agendas partidárias e caminha pelas ruas da Trofa todos os dias.

De quem não se deixa levar por campanhas de propaganda para alimentar claques.

De quem se entristece a cada amigo que decide abandonar o concelho.

Mas de quem, ainda assim, não desiste de aqui ficar e ser feliz.

A Trofa tem vários problemas estruturais para resolver. O trânsito é caótico, as casas são caríssimas e escassas, a oferta cultural é praticamente inexistente, resumindo-se a meia-dúzia de eventos, o custo de vida é elevado, o emprego qualificado escasseia e as ruas só não estão vazias porque, nos últimos meses, chegaram à Trofa centenas de imigrantes de países como a Índia e o Brasil, para trabalhar pelos baixos salários que os trofenses deixaram de aceitar.

E, ainda assim, somos governados por um presidente que nos atira areia para os olhos, com tiradas de propaganda delirante, como aquela em que garantiu que “a Trofa está a posicionar-se para ser a capital da região Norte”.

Faria mais sentido que Sérgio Humberto se deixasse de demagogia, e que dedicasse o seu tempo a criar condições para fixar a população, inverter o marasmo cultural, as ruas vazias e a saída de jovens do concelho. Entre 2001 e 2022, segundo dados da Pordata, a população da Trofa até cresceu cerca de 4% – em larga medida fruto do êxodo que resultou da subida vertiginosa dos preços das casas no Porto e arredores – mas o número de crianças nascidas no concelho (0 aos 14 anos) passou de 7284 para 4943, o que revela uma quebra preocupante na natalidade, num concelho com apenas 25 anos de existência. Era importante que o presidente da CM da Trofa explicasse aos trofenses o que está a ser feito para inverter esta tendência.

Requalificar o centro da Trofa foi uma excelente obra, que não me canso de saudar, mas não chega. Sobretudo se estiver sempre vazio.

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