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É possível libertar as escolas da Trofa dos smartphones?

“Se há coisas de que devemos proteger as nossas crianças, os smartphones estão no topo da lista.”

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São inúmeros, os perigos da disseminação dos smartphones nos recreios das escolas. Falamos, por exemplo, do agravamento de casos de bullying, em que as vítimas são filmadas e as agressões eternizadas nas redes sociais.
Ou do processo galopante de viciação clinicamente comprovada, que isola as crianças e as impede de desenvolver devidamente as suas competências sociais e comunicacionais, que começam na escola.
E de tantos outros problemas que vêm sendo estudados nos últimos anos, que relacionam o uso dos smartphones com problemas de ansiedade, depressão, défice de atenção ou hiperactividade, entre muitos outros.
Bem sei que a culpa é dos pais dessas crianças, não das escolas. E que a decisão de colocar um smartphone nas mãos de uma criança pode ocorrer por inúmeros motivos, bem distintos entre si. E que nem todos os pais estão devidamente informados sobre os perigos de entregar o smartphone aos seus filhos.
Mas é possível agir enquanto é tempo. Foi isso que fez a escola EB 2/3 António Alves Amorim, em Lourosa, no concelho de Santa Maria da Feira. Proibiu os smartphones no recinto escolar, em 2017, autorizando-os apenas em contexto pedagógico.
E os resultados, 6 anos depois, já são visíveis. As crianças voltaram a correr, a jogar à bola, a socializar, a rir em grupo. O recreio deixou de ser silencioso, como é hoje em muitas escolas.
Pensem bem nisto: um recreio silencioso.
Conseguem imaginar? Conseguem imaginar um recreio maioritariamente ocupado por crianças isoladas, absorvidas pelo ecrã dos seus smartphones, que não comunicam? Que não brincam?
Eu não consigo. A simples ideia deprime-me.
Como me deprimiu, no início deste percurso de descoberta desta triste realidade, a possibilidade de existir um recreio silencioso. Ou crianças que chegam da primária ao 5º ano e perguntam coisas como:

– As meninas e os meninos desta escola não brincam?
E isto, caros trofenses, não pode continuar. Se há coisas de que devemos proteger as nossas crianças, os smartphones estão no topo da lista.
Claro que não podemos obrigar mães e pais a não colocar os aparelhos nas mãos dos filhos. Essa é uma decisão que cabe a consciência de cada um.
Mas podemos agir no espaço público, e proteger as crianças no recinto escolar. Como fizeram os professores e encarregados de educação da EB 2/3 António Alves Amorim.
Libertar a EB 2/3 Napoleão Sousa Marques é a prioridade. A Escola Secundária é um caso mais complexo, por ter alunos mais crescidos e alguns maiores de idade, mas não deve ser retirada da equação.
Mas uma mudança tão radical, face ao actual paradigma, implica o envolvimento de muitas pessoas. Da sociedade civil, da FAP Trofa, dos eleitos locais e, sobretudo, dos pais e mães desta terra.
Sou pai de uma criança de 4 anos. E poucas coisas me enchem o coração como ouvir as histórias de brincadeiras, desenhos, corridas e projectos em grupo do meu filho e dos seus amigos. E aflige-me a possibilidade de ver esta alegria ser substituída por uma adição tecnológica. Por isso vou combatê-la com todas as minhas forças.
Não sou melhor que ninguém. Já meti, muito mais vezes do que devia, o meu smartphone nas mãos do meu filho. Mas isso acabou. Não digo que não volte a acontecer, esporadicamente, porque não sei o dia de amanhã. Mas sei que o contacto que tive com relatos de situações verdadeiramente dramáticas nas escolas portuguesas abriram os meus olhos para a importância de combater este problema, que pode muito bem tornar-se num dos grandes flagelos das próximas décadas.
Por isso, caros e caras leitoras, convido-vos a que usem os vossos smartphones, vocês que são adultos e conscientes, e que se informem sobre os muitos problemas que resultam da exposição das crianças a esses aparelhos. E não se deixem enganar por “notícias” patrocinadas por operadoras e fabricantes, sobre os benefícios ou vantagens do uso desses aparelhos por crianças. Mesmo que existam, em contextos muito específicos, são uma gota de água num oceano de problemas cada vez mais graves.
Esta é uma luta que pode e deve ser feita.
Está em causa o futuro dos nossos filhos. Da nossa sociedade como um todo.
E se está a pensar que o seu filho precisa de estar contactável, lembre-se que ainda existem telemóveis para fazer e receber chamadas, sem acesso à internet.
A solução é simples, e está nas nossas mãos.

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