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Relação a dois

“Algo que vai mudando na nossa vida, até à eleição final, é a nossa companheira…eleição dela, não se iludam!”

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Na vida das pessoas há coisas que nunca mudam, o clube de futebol é um desses exemplos, mesmo para quem é sportinguista…como eu! Quero crer que os amigos também não. Se dois ou três deles fossem peças de roupa, nunca as mudava, a não ser para as lavar!
A família, essa não muda! No meu caso ainda bem… é o meu euromilhões!
Mas algo que vai mudando na nossa vida, até à eleição final, é a nossa companheira…eleição dela, não se iludam!
E esta relação a dois, desde o momento zero até ao fim, vai sofrendo estados de maturação, é algo dinâmico, como a passagem das estações do ano, e imprevisto, como a chegada de um temporal numa tarde quente e aborrecida de Verão!
Estes estados de maturação são facilmente observáveis na savana do ser humano, no seu habitat mais natural, o Centro Comercial.
Os casalinhos que se relacionam há semanas, no máximo dois meses, colam-se como se o mundo acabasse dali a três horas. Aproveitam cada metro que andam para declarar a sua paixão e cada passo que dão para se lambuzarem, atividade que obriga a uma limpeza constante do piso!
O estado mais caricato é o daqueles casais que já passaram os dois meses de namoro e pensam em casar, mesmo estando um desempregado e o outro ainda a estudar, vivendo na ilusão. Estes encontro-os facilmente no IKEA, ainda juntinhos, mas em vez de se lambuzarem admiram com um sorriso um quebra-nozes e sonham, “Vamos precisar de um assim!”. Estes ainda têm a certeza absoluta de que vão ficar juntos para sempre!
Na prateleira ao lado, onde este casal admira o quebra-nozes, podemos encontrar a fêmea de outro casal a observar um serviço de pratos, enquanto o macho se inquieta e suspira sem se distanciar muito da fêmea. Este estado de maturação é crucial na relação do casal. São jovens adultos, com um namoro entre os sete meses e um ano e meio, em que o macho já se atreve a levantar a voz e a comentar sobre outra rapariga…um jogo perigoso…para ele! É a altura em que o macho vive no fio da navalha e tenta tomar pulso na relação. É nesta fase que a união acaba ou, ardilosamente, a fêmea faz o macho pensar que manda e a relação fica condenada a durar!
Eu pertenço a esta última classe, pensei que mandava! A fase seguinte do macho deste casal é um confronto gradual com a realidade, semelhante ao degelo, que pode demorar décadas, em que nós, machos, nos apercebemos que pouco mandamos! Mas há vantagens!
No sábado passado, ao final da tarde, eu e a “minha senhora” fomos ao Mar Shopping, ela tinha que lá ir. Este estado de maturação permite-nos que ela vá para o IKEA e eu me enfie na FNAC e mergulhe nos livros. Só há uma regra, o primeiro a sair da sua loja vai ter com o outro. Normalmente prefiro esperar pela Cristina e “banhar-me” o máximo de tempo possível nos livros!
Trimmmm, trimmmm. – atendo o telefone. É a Cristina a dizer que já saiu do IKEA… fui ter com ela.

– Vamos embora, isto está cheio de gente! – diz ela.
Adorei a ideia e reparei que o carrinho das compras vinha recheado.
Arrancámos em direção ao parque de estacionamento e, dois metros à frente, diz ela: – Só vou a esta loja, venho já!
Estúpido, caio sempre na conversa de que vamos logo embora. Fiquei cá fora, agarrado ao carrinho de compras, a observar… e via casais de todas as espécies. Ainda é com encanto que observo o casal clássico, aqueles que estão juntos há mais de cinquenta anos e passeiam distanciados vinte metros um do outro, ela atrás e ele à frente, com o pensamento, “A velha nunca mais morre!”.
Começo a olhar para as outras montras e vejo homens no mesmo estado de maturação que eu, expressões fechadas e com olhares constantes para dentro das lojas a observar se a companheira já está na caixa para vir embora!
A Cristina sai da loja de decoração e diz-me para irmos embora. Com agrado apresso o passo e duas montras à frente ouço: – Só vou a esta loja, é rápido!
Estúpido, caí outra vez na conversa de que íamos embora. Fiquei novamente cá fora agarrado ao carrinho de compras. Curiosamente vi os mesmos homens, parados como eu, mas em frente a montras diferentes.
Concluí que eu e esses homens pertencemos à classe de casais em que parecemos peças num tabuleiro de xadrez, somos movimentados de montra em montra! Olhava e via um peão, um cavalo, um bispo, uma torre e consolava-me pensar que era o rei do tabuleiro comandado pela minha rainha!

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