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Memórias e Histórias da Trofa: História de uma autonomia

“Uma luta praticamente centenária que teve a sua concretização em 1998, numa mostra do enorme bairrismo desta comunidade que foi, durante inúmeros anos, o nosso cartão de visita que brotava de um sentimento de que nada era dado, mas tudo conquistado.”

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Era um dia atípico. Fui para a escola, naquele caso para o ciclo, sem saber muito bem porque tinha de ir, pois, na véspera, praticamente todos os meus colegas disseram que não iriam à escola, porque iam a Lisboa “buscar” o concelho para a Trofa.

A promessa dos meus colegas foi cumprida, a escola estava anormalmente acalma, não havia os tradicionais gritos e brincadeiras, do alto da minha inocência, sabia que aquele dia tinha algo de especial, mas, com dez anos apenas queremos brincar com os nossos colegas e ir descobrindo as coisas próprias da idade.

Nas aulas (que apenas existiram no sentido figurativo), os professores não sabiam muito bem o que fazer comigo e pronto, era o confirmar de um dia diferente.

Um quarto de século passou desde esse dia, muito se construiu e fez, só alguém muito distraído é que não pode reconhecer as conquistas da nossa autonomia.

No meu trabalho de historiador, rapidamente me cruzei com vários jornais, fundamentalmente os locais nas décadas de 20 e 30 do século passado, em que, de forma tímida, se apelava a uma autonomia de um poder centralista que nos asfixiava e não permitia o nosso crescimento.
Gradualmente, esse sentimento foi aumentando e era uma certeza cada vez mais latente que era necessário ser independente, pese embora algum desconforto daqueles que alimentavam o poder centralizador de Santo Tirso.

Rivalizávamos com a concorrência da sede de concelho na necessidade de investimentos públicos, chegamos a ter muitos equipamentos num primeiro momento quando comparado com outras freguesias, nomeadamente mercados, estádios, um sem número de valências demonstrativas da pujança de meia dúzia de bairristas que tentavam motivar o resto da população.

A luta pela autonomia da Trofa não foi um capricho, nem uma vontade infundada de meia dúzia de bairristas que, de forma gradual, foi conquistando as vontades dos outros.

A autonomia era algo que tinha de acontecer, se não fosse em 1998, seria nos anos seguintes. Era impossível continuar a manter com grilhões a vontade de poder no mais básico dos poderes de ser capaz de seguir o seu destino e até mesmo definir as necessidades elementares de investimentos.

O tempo vai passando, nem sempre as apostas podem ter sido as mais acertadas ou as prioridades podem também ter sido invertidas, mas, para cometer esses mesmos erros é necessário ter oportunidade de os cometer e isso apenas foi possível em consequência do dia 19 de novembro de 1998.

A independência que esteve próxima acabaria por chegar naquele dia e ficaria, aparentemente, para sempre, sendo que nunca mais nada foi igual até aquele momento. Ficamos senhores do nosso caminho e vamos tentar acalmar esta sede de progresso e de investimento, recuperar de décadas de marasmo.

Uma luta praticamente centenária que teve a sua concretização em 1998, numa mostra do enorme bairrismo desta comunidade que foi, durante inúmeros anos, o nosso cartão de visita que brotava de um sentimento de que nada era dado, mas tudo conquistado.

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Esperamos pelos próximos 25, 50, 75 anos, não sei o que o futuro me espera, ou melhor nos espera, mas, seguramente, queremos que assim seja melhor que estes anos passados.

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