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Memórias e Histórias da Trofa: A casa de recuo do PCP em S. Romão do Coronado nos anos 40

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A história é uma “coisa” engraçada, todos acham que é uma ciência exata que não traz novidades a lume com facilidade, mas, tropeçando em novos documentos, novas informações e eis que surge uma novidade e até possibilidade de dar um novo rumo na história colocando em causa tradições e culturas.

Nas habituais pesquisas para mais um de entre muitos projetos de investigação, lendo as memórias de Fernando de Sousa de Araújo Gouveia, antigo inspetor da PIDE escritas por si em 1979, numa das passagens relatou que realizou uma operação policial em território trofense, concretamente em S. Romão do Coronado.

Francisco Inácio da Costa, elemento da estrutura do partido tinha sido detido na fronteira em Monção por elementos operacionais da Guarda Fiscal por intermédio de uma denúncia anónima alegando o denunciante que aquele sujeito trazia consigo contrabando, quando estava junto dos operacionais daquela força de fiscalização acabariam por perceber que o contrabando era afinal vários jornais “O Avante”.

No decorrer das várias diligências das forças policiais, estando o caso na esfera da PIDE foi possível perceber que a residência habitual do detido era em uma casa ilegal (casa do partido) situada à beira da estrada de S. Romão do Coronado para Paços de Ferreira.

Naquela habitação normalmente estavam instalados três militantes do PCP que recebiam normalmente a visita de Joaquim Pires Jorge que nessa fase tinha a função de ser um dos responsáveis pelo partido desde Coimbra até Bragança. Um quadro com responsabilidades no partido.

Nas redondezas havia mais duas casas, uma na Maia (relativamente à Maia é possível que seja Moreira da Maia) pouco mais à frente da passagem de nível existente adjacente à estação de caminhos de ferro e também uma outra em Ermesinde.

Relativamente à casa de S. Romão do Coronado, era de rés do chão e primeiro andar com entradas independentes. O rés do chão tinha duas portas seguidas e uma janela para a estrada e, para o lado do poente, uma porta e uma pequena janela. Não possuía traseiras e do lado nascente havia uma parede inteiriça, tendo, no exterior, a escada de acesso ao primeiro andar. No rés do chão estavam instalados os funcionários, não se sabendo se havia serventia do primeiro andar.

O assalto às instalações ocorreu, com os elementos da PIDE a partirem as vidraças e atirarem para o seu interior granadas com gás lacrimogénio para forçar a saída de quem poderia estar dentro de casa.

Acabaria por sair do interior da habitação apenas uma pessoa, uma senhora porque o outro elemento tinha saído da moradia dias antes e ainda não tinha regressado.

O elemento feminino do PCP detido foi Dalila Duque da Fonseca que teve uma forte ação no Partido Comunista sendo detida várias vezes até 1945, estava há um ano como clandestina e tinha acabado de ser detida novamente pela polícia política portuguesa.

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Após esta detenção e cumprimento de pena, o blog “Silêncios e Memórias” afirma que ela iria deixar a política ativa e partiu para Lourenço Marques no final da década de 1940. Acabou por falecer em 1992 com 81 anos de idade.

Estávamos em 1945 quando tudo isto aconteceu, praticamente três quartos de século passaram e a memória vai ficando esquecida, poucos serão aqueles que sabem ou presenciaram este momento e eis que a história é isto mesmo, resgatar memórias e fazer justiça contra o tempo. A inquirição para perceber onde seria esta habitação foi infrutífera permanecendo para mim, como um mistério a sua real localização.

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