“Está tudo encaminhado” para Luciano Simões continuar

Luciano Simões assumiu o comando técnico do Bougadense e fez com que a equipa fosse uma das melhores na segunda volta da série 1 da 1ª Divisão da Associação de Futebol do Porto. Técnico anunciou em exclusivo ao NT que “está tudo bem encaminhado” para continuar no clube na próxima época.

Quando chegou, encontrou uma equipa “muito mal fisicamente” e numa posição perigosa na tabela classificativa. À 8ª jornada, quando só tinha dois treinos a seu cargo, teve a ousadia de colocar de início seis jogadores que não tinham sido titulares no jogo anterior. Os resultados não foram imediatos. Luciano Simões também não esperava que fossem. O “tratamento de choque” surtiu efeito e se o campeonato começasse apenas depois da 15ª jornada, o Bougadense terminava em 4º lugar. No entanto, a equipa acordou tarde, o que não lhe permitiu fazer melhor do que a 8ª posição com 43 pontos, em 34 jornadas.

Por isso, a sensação de que podia ter ido longe com esta equipa faz Luciano Simões querer continuar a treinar este clube. Em exclusivo, o técnico disse ao NT que “tudo leva a crer que vá continuar” e “está tudo bem encaminhado”. “Sinto-me satisfeito e muito bem no Bougadense. Só espero que se reúnam as condições para que a maior parte do plantel fique e já nem peço reforços”, afirmou.

No entanto, o técnico não pensa em subidas de divisão, porque “não basta querer, também é preciso poder”. “Não gosto muito de me justificar com arbitragens, mas quando vim para cá, houve vários lances dentro da área do adversário e nenhuma penalidade a nosso favor. Isto não justifica que poderíamos ter ido mais além, mas às vezes é revoltante”, revelou.

O técnico do Bougadense afirmou que a “má pré-época” foi a “principal dificuldade” que encontrou quando chegou à Trofa. Encontrou os jogadores mal preparados fisicamente e “os adversários chegavam sempre primeiro à bola, ganhando todos os lances”.

Mas desde cedo viu que “a qualidade estava lá”, apenas era necessário fazer o trabalho que não foi feito na preparação para a época. “Era preciso tempo. Ao fim de sete jornadas a equipa já estava à minha imagem”, revelou.

O único emblema que não concedeu nenhum ponto ao Bougadense foi o Salgueiros 08 (2-1 e 2-3) e são, exactamente, os jogos com essa equipa que Luciano Simões ainda não conseguiu digerir. “Fomos infelizes, porque não merecíamos ter perdido”. O técnico considera também que foram essas as partidas mais difíceis do campeonato, “não pelo valor do adversário”, mas pela pressão psicológica que os adeptos salgueiristas provocaram nos atletas do Bougadense, “sobretudo nos mais jovens”.

“Clubes reconhecem que o Bougadense é outra equipa a jogar futebol”

Mas o valor do conjunto de Santiago de Bougado não foi apenas confirmado pelo treinador. Luciano Simoes garante que “outros clubes reconheceram que o Bougadense já é outra equipa a praticar futebol”. Mas tudo isto foi possível através do “empenho” dos treinadores, jogadores e até pela paciência da direcção do clube. “É de louvar que, mesmo numa fase difícil, não pressionou a equipa técnica nem os atletas e sempre confiou no nosso trabalho”, considerou.

Muitas equipas estranharam a equipa remodelada do Bougadense na segunda volta. Mas o clube nem fez muitas aquisições, à excepção de Seninho, que veio colmatar uma lacuna na frente de ataque. Os restantes jogadores estavam no plantel, mas muitos nem convocados eram. Ganharam a titularidade e deram pontos ao Bougadense. Assim como outros que, adaptados a certas posições, regressaram ao “habitat” natural, o que surpreendeu a massa associativa. Exemplo de Derlei, que jogava no meio-campo e que Simões colocou na sua posição habitual, de lateral esquerdo. Ou então Ribeiro, “excelente extremo” que no início jogava ao lado dos centrais.

A relação do técnico com os adeptos foi sempre saudável. “Quando a equipa começou a melhorar, tivemos sempre muito apoio tanto em casa como fora. É importante os jogadores sentirem o apoio dos adeptos”, frisou.

“Só três equipas conseguiram mais pontos que o Bougadense desde a 15ª jornada”

Desde a derrota com o Senhora da Hora, na 15ª jornada, o Bougadense pareceu acertar agulhas, fazendo 30 pontos até ao fim do campeonato. Só três equipas conseguiram pontuar mais: o líder Custóias (41 pontos), o “vice” Salgueiros 08 (34) e o Serzedo (31).

Por esta prestação, Luciano Simões considera que “o Bougadense não foi inferior a nenhuma equipa”, num campeonato que esteve “mais competitivo do que nos últimos anos”. A prova está na última jornada, na qual o Lavrense ainda lutava pelo 2º lugar. O Bougadense conseguiu aguentar a pressão do adversário, que jogava em casa, e venceu. “Para muita gente foi uma grande surpresa, mas para mim não, porque sei o valor que eles têm”, asseverou.

Simões foi colega de equipa de Virgílio

Luciano Simões começou a aventura como treinador aos 26 anos, quando teve que tomar o lugar do próprio técnico, ainda era capitão de equipa da União de Lamas. “Faltavam três meses para terminar o campeonato e o treinador foi embora. Já estávamos livres da descida e como era capitão de equipa pediram-me para ficar (como treinador), entretanto os meus colegas pressionaram e eu aceitei. Correu muito bem”, conta.

No entanto, não desistiu de continuar a jogar e ainda fez dupla com Virgílio no eixo da defesa do Nogueirense, quando estava no fim da carreira e o actual capitão do Bougadense a dar os primeiros passos no futebol.

Depois de treinar esta equipa, onde esteve algum tempo, Luciano Simões destacou-se no comando do Castêlo da Maia. “Há três anos estivemos quase a subir, fomos à final com o Sousense com um plantel muito jovem, mas não conseguimos”.

Em 2009, e pela primeira vez desde os 12 anos, Simões desligou-se do futebol. Aproveitou para tirar o nível II de treinador e “reflectir muito”.

Esta temporada aceitou o desafio do Bougadense e acabou a época com a sensação de que podia ter feito mais, se chegasse mais cedo.