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Edição 708

Entre os muros do envelhecimento populacional

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Portugal, assim como outros países da Europa, tem vindo a registar nas últimas décadas profundas transformações demográficas, bastante marcadas pelo aumento da longevidade e redução da natalidade e da população jovem.

Em 2000, a esperança de vida à nascença era de 76,4 anos, tendo progredido em 2017 para 80,8 anos (77,8 anos para os homens e 83,4 anos para as mulheres) (PORDATA).

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define Envelhecimento Ativo como o processo de otimização das oportunidades para a saúde, participação e segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida das pessoas que estão no processo natural de envelhecimento. O envelhecimento ativo e saudável resulta de um conjunto de oportunidades de intervenção no âmbito da saúde, participação cívica, segurança e outras, promovendo um envelhecimento acompanhado da manutenção da capacidade funcional, tal como a mobilidade e as atividades intelectuais.

Em Portugal, o Índice de Envelhecimento* passou de 101,6% em 2001 para 157,4% em 2018 (PORDATA), tendo um impacto significativo na sociedade, exigindo novas respostas do ponto de vista social, no que concerne à segurança social, sistemas de saúde, justiça e transportes. No que diz respeito ao Município da Trofa, este indicador também sofreu alterações com um forte impacto na caracterização da população trofense. Em 2001, este índice era de 52%, evoluindo para 134,4% em 2018. Se compararmos o Índice de Envelhecimento do Município da Trofa em 2018 com os municípios vizinhos de Vila Nova de Famalicão e Santo Tirso (padronizado para a população residente), verificam-se valores de 132,5% e 198,7%, respetivamente. Por outro lado, face à média nacional (157,4%), o Índice de Envelhecimento na Trofa é significativamente menor. Apesar do envelhecimento ter vindo a aumentar, também o Índice de Longevidade** tem acompanhado esta tendência. Em 2001, este índice era de 39,2% no Município da Trofa, evoluindo para 40,7%, embora menos acentuado que a nível nacional (41,9% versus 48,4%) (PORDATA).

Se por um lado a expressão “envelhecimento saudável” é de fácil compreensão para a maioria das pessoas, por outro, “envelhecimento ativo” pode levar a definições simplistas assentes somente na capacidade e condição física (mobilidade, motricidade fina, entre outros). Contudo, “ativo” remete para uma participação cívica contínua, fortemente marcada pela vida social, cultural, religiosa, espiritual e económica. O que tem sido feito pelas autarquias locais para a promoção da verdadeira cultura de envelhecimento ativo e saudável no idoso? Tenho ideia, e corrijam-me se estiver enganado, mas muitos municípios ainda acreditam que estão a dar um forte contributo social neste âmbito, através da organização do “passeio anual” ou do “lanche convívio mensal”. É uma inércia total face ao que podemos fazer. Vivemos aliados das novas soluções disponíveis para o acompanhamento social, tais como recentes soluções tecnológicas para parametrização permanente da saúde do idoso. Se os passeios anuais e o lanche-convívio são importantes? Certamente que sim. Contudo, resumem-se a atividades de baixo impacto face às inúmeras intervenções que podemos realizar.

Paralelamente a todos estes esforços, alguns dos indicadores do índice de envelhecimento ainda ficam muito longe daquilo que esperamos para um país envelhecido e, simultaneamente, desenvolvido como Portugal. Segundo o Report de 2018 da United Nations Economic Commission for Europe, Portugal, entre os 28 países da União Europeia, encontra-se em 10º lugar na lista (score de 33,5) dos 28 países da União Europeia (EU) sujeitos à classificação do Active Ageing Index (AAI). Este índice é uma ferramenta baseada em 4 domínios (emprego; participação social; vida independente, saudável e segura; e capacidade e ambiente propício para o envelhecimento ativo) e 22 indicadores, medindo o nível em que os idosos vivem vidas que os permitam caracterizar como “ativos e saudáveis”. Ora, a posição de 10º lugar, marcadamente abaixo da média da EU (score de 35,7), não nos pode orgulhar. Contrariar esta tendência levará anos de intenso esforço e intervenção social. Inverter esta tendência é combater a ideia de que Portugal será o país mais envelhecido da União Europeia em 2050 (Ageing Europe 2019, Eurostat).

Despido dos dados que expus e que me assolam permanentemente o pensamento, folgo em ler que “Seniores felizes, saudáveis e ocupados é uma das grandes apostas da Câmara da Trofa para 2020” (Trofa News, 2 de janeiro de 2019). O conjunto de iniciativas prometidas pela autarquia são, ao meu entender, abrangentes e promissoras: cartão “Trofa Sénior+”, teleassistência domiciliária, desporto sénior, segurança sénior, entre outras. Estaremos cá, enquanto munícipes, para acompanhar as intervenções disruptivas na fuga a esta tendência crescente e ao idadismo social.

2020 será com certeza um ano de grandes e variados desafios para o Concelho da Trofa.

*Número de pessoas com 65 e mais anos por cada 100 pessoas menores de 15 anos. Um valor inferior a 100, significa que há menos idosos do que jovens (INE, PORDATA).
**Número de pessoas com 75 e mais anos por cada 100 pessoas com 65 e mais anos. Quanto mais alto é o índice, mais envelhecida é a população idosa (INE, PORDATA).

RENATO FERREIRA DA SILVA
FARMACÊUTICO | INVESTIGADOR
NA UNIVERSIDADE DO PORTO

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Livros da Biblioteca podem ser requisitados na antiga estação

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Desde segunda-feira, 6 de janeiro, que é possível requisitar, renovar ou devolver os livros da Biblioteca Municipal da Trofa na antiga estação de comboios, na Alameda, ou na Loja Interativa de Turismo, no Parque Nossa Senhora das Dores e Dr. Lima Carneiro.

Com esta medida, a autarquia da Trofa facilita o acesso ao acervo existente na Casa da Cultura, descentralizando o serviço que, na Loja de Turismo está disponível das 10 às 13 horas e das 14 às 18 horas, e na Antiga Estação funciona das 9 às 13 horas e das 14 às 17 horas.

“Consciente do importante papel que a Biblioteca Municipal desempenha no desenvolvimento cultural dos seus utilizadores, a Câmara Municipal da Trofa tem apostado na diversidade e excelência dos serviços prestados por aquela valência e no enriquecimento das suas coleções, promovendo o livre acesso à cultura e democratizando o espaço da Biblioteca enquanto porta de acesso local à Cultura”, referiu o município, em comunicado.

Biblioteca com horário alargado

Até 7 de fevereiro, a Biblioteca Municipal, situada na Casa da Cultura, está a funcionar com horário alargado, até às 20 horas, para satisfazer as necessidades dos estudantes universitários, que se encontram em período de exames.

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Mobilidade Urbana Sustentável: conceitos e consciências

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É nos dias de hoje uma das maiores preocupações das sociedades evoluídas e diria mesmo que uma obrigação dos líderes que desejam desenvolver e viver sociedades conscientes.

Falo de mobilidade sustentável e de todas as preocupações que se impõem quando abordamos estes conceitos numa perspetiva de criação e implementação de um plano estratégico de mobilidade sustentável.

Por definição, a World Business Council for Sustainable Development, define o conceito de mobilidade sustentável como a capacidade de dar resposta às necessidades da sociedade em deslocar-se livremente, aceder, comunicar, transacionar e estabelecer relações, sem sacrificar outros valores humanos e ecológicos, hoje e no futuro.

Neste contexto de definição, e partindo do princípio que cada vez é maior a escolha do automóvel como transporte individual prioritário com, implicações futuras significativas ao nível dos consumos, das emissões e da segurança, procuro com este texto promover conceitos e elevar consciências quanto à necessidade de serem desenvolvidos meios, condições e alternativas de mobilidade que permitam ao ser humano dar respostas adequadas às constantes agressões que o nosso planeta tem sido vitima, com claro impacto na saúde das populações, no meio ambiente e respetivo comprometimento das gerações vindouras.

Quem vive em grandes cidades e meios urbanos, pode nunca ter refletido sobre o tema, ou até nem ter ouvido falar sobre ele, mas a verdade é que são, cada vez mais, violentamente afetados pelo que se denomina de mobilidade urbana.
Todos os dias, quando saímos de casa com um destino bem definido, seja a pé, de carro ou utilizando outros meios de transporte, acabamos por nos relacionar com outras pessoas que também procuram chegar aos seus destinos previstos.
Para que essa mobilidade aconteça usamos as infraestruturas existentes para o efeito.

A esse uso diário e ao relacionamento entre diferentes utilizadores se define mobilidade urbana, que além de ser um direito de todos, quando assegurada com qualidade, garante o acesso a outros direitos básicos como educação, trabalho, saúde e lazer.

Todos estes conceitos devem criar uma prioridade nas políticas definidas que venham ao encontro das reais necessidades das pessoas.

Os sistemas de transportes, as infraestruturas das cidades (estradas, passeios e ciclovias) e o planeamento do uso e ocupação dos solos, devem ter em conta que as pessoas, cada vez mais, tem necessidade de circular de diferentes formas, caminhando mais dentro das cidades, usando a bicicleta como meio de transporte para pequenas deslocações e procurando os meios de transporte coletivos quando existentes e com adequada relação no preço/qualidade do seu serviço.

Assim, desde a tomada de consciência destas realidades, que existe um desafio criado às cidades e aos seus responsáveis, oferecer o equilíbrio fundamental às diferentes necessidades, sem comprometer gerações futuras.

Surge então o conceito de mobilidade urbana sustentável.

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Para dar resposta a este conceito, os municípios e as autarquias locais deverão elaborar o seu planeamento para a mobilidade urbana das populações e a forma como o define faz perceber com clareza a prioridade das suas políticas.

Os meios de transporte coletivos, quando integrados nesse planeamento são aqueles que permitem deslocar mais pessoas ocupando menos espaço. No entanto, para que sejam uma realidade útil e sustentável é necessário que as cidades e as suas vias estejam organizadas de forma que permitam eficiência e qualidade no serviço.

Infelizmente, essa não é a realidade da maioria das cidades, o que promove nas pessoas, cada vez mais, a utilização do automóvel como meio de transporte prioritário, estando hoje, o ser humano a pagar caro essa realidade e consequente aumento dos níveis de poluição, congestionamento e acidentes.

No concelho da Trofa, a realidade não é ainda suficiente para as necessidades da população. Os transportes públicos possuem preços elevados e o serviço é de baixa qualidade. As condições de acesso aos locais de paragem desses meios de transporte não possuem a segurança adequada pela inexistência de passeios em algumas das principais ruas de acesso e acresce ainda que os horários dos transportes são insuficientes em algumas horas do dia e muitas vezes os locais de espera não possuem um abrigo eficaz e uma iluminação satisfatória.

Em virtude da dificuldade de obter respostas adequadas a todas estas carências, a bicicleta tem surgido como um meio de transporte alternativo cada vez mais utilizado pelas populações.

Com esta opção, as pessoas conseguem alcançar uma significativa poupança financeira devido ao elevado custo dos combustíveis, uma melhoria da sua qualidade de vida pelo estimulo do exercício físico regular, um saudável e recomendável contributo para a redução dos níveis de gases poluentes existentes no ar que todos respiramos devido ao uso de meio de transporte ecológico, uma diminuição dos ruídos e uma desocupação do espaço público.

As sociedades mais evoluídas, em especial as do norte da Europa, há muitos anos que já promovem hábitos que vão ao encontro destas necessidades sendo a bicicleta um meio de transporte comum entre as populações.

Esta realidade, leva-me a pensar que não existiu nas opções políticas passadas e atuais grande consciência e preocupação com estas questões.

Assim, e para 2020, os meus maiores desejos como trofense, passam pela real implementação e crescimento de um plano de mobilidade urbana sustentável que passe pela criação de uma rede de ciclovias dentro e fora da cidade da Trofa, que incentive o uso da bicicleta e permita aos muitos utilizadores deste meio de transporte, jovens e adultos, maiores condições de segurança e eficiência no uso diário da bicicleta.

Luís Cardoso

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Edição impressa do jornal O Noticias da Trofa de 23 de março de 2023

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