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Edição 413

A verborreia inútil das marionetas, salvo-seja!

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As marionetas são bonecos articulados, direta ou indiretamente animados por mão humana, cuja origem remonta há milhares de anos e deixaram marcas indeléveis desde os momos da antiga Grécia, em festividades romanas e durante a longa Idade Média onde tiveram um papel relevante na celebração da liturgia cristã. Todo o Oriente tem tradições deste boneco e não será difícil descobrir traços de semelhança entre as marionetas da India e o nosso roberto.

Por toda a Europa e nesses tempos tão longínquos, o teatro de marionetas tem muita aceitação popular; é um teatro que o povo gosta, pois está perto dos seus anseios e é apresentado nas ruas e nas feiras, com um forte cunho político, uma tribuna para criticar os poderosos, um espaço de catarse popular. A partir dos finais do século XVI começam a chegar a Portugal muitos artistas itinerantes estrangeiros, principalmente franceses e italianos, que encontraram, nas grandes cidades, um numeroso público fiel e generoso.

A irreverência destes bonecos, o seu espírito crítico e a sua natural tendência para a representação burlesca, que no passado chegaram a ser banidos dos locais de culto, deram lugar às novas marionetas, que fomentam o culto da personalidade, o espírito acrítico e amorfo e convidam à não participação cívica, tão ao gosto de muitos eleitos, que preferem afastar o povo das decisões e da democracia, para assim despolitizarem o seu “quintal”, com uma consequência nefasta para a Cidadania ativa e plena.

Nos tempos atuais, assiste-se a um renascimento vertiginoso destes bonecos articulados, principalmente em áreas não habituais e fora do género teatral tradicional, concretamente na vida política. No passado, este tipo de teatro, apesar de viver principalmente do improviso, foi bem servido por Shakespeare, Goethe, Cervantes e também por António José da Silva, o Judeu. Esta variante do teatro constituía uma forma de entretenimento para adultos e crianças. Na atualidade, estes bonecos, os robertos ou fantoches, atuam em muitos dos palcos da nossa vida e são movidos por pessoas ocultas, que se escondem, não atrás de uma tela, mas atrás, ao lado e à frente de muitas e muitas decisões, que dão cabo da vida aos cidadãos.

A necessidade excessiva de falar, comum em certos débeis mentais, é a forma, que os novos robertos encontram para explicar o inexplicável. É a verborreia inútil das marionetas, salvo-seja! As marionetas tradicionais são agradáveis e representam através das suas palavras e ações em corpos de madeira e cortiça e os espectadores podem encontrar uma real ressonância com as suas vidas, ao contrário das novas marionetas de carne e osso, que não pensam pela sua cabeça, têm atuações maquiavélicas a mando de qualquer diretório, utilizam um palavreado inútil e estão constantemente a armarem-se em «carapaus de corrida».

Nos tempos que aí estão, tem-se assistido à proliferação de diversos robertos feitos fantoches, travestidos de democratas, que tentam ficar locupletados através das estâncias do poder. Estas marionetas, que têm medo da sua própria sombra, são por demais conhecidas e não sabem, nem nunca saberão o que é a Honra, a Ética e a Cidadania. São pessoas sem ideias e vontade própria, que se curvam desmesuradamente perante o poder, para gáudio dos diretórios a quem prestam um desprezível e vergonhoso servilismo bacoco. Não sabem que existem derrotas mais triunfantes que certas vitórias.

José Maria Moreira da Silva

moreira.da.silva@sapo.pt

www.moreiradasilva.pt

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