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Ano 2008

A sociedade do século XXI:

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A Escola;
A vida que se tem, que se dá e que se tira em lapsos de segundos.

Vivemos num país que se transformou num caos, face à ausência de valores, em todas as frentes, à falta de diálogo, à falta de parceria e de comunhão de uma sociedade que caminha para o abismo.
As notícias não param de referir casos de assassinatos, de suicídios, de agressões físicas e psicológicas, muitas vezes, pormenorizando de tal forma os factos, que em vez de se construir, alerta-se de como fazer e praticar actos de vandalismo e de banditismo. Nas escolas, na rua, nos supermercados, no metro, nas paragens de autocarro e não só, infelizmente. Ninguém se sente seguro em lado nenhum, nem mesmo quem tem guarda-costas, pagos por este famigerado povo, que vive quase na miséria.
Os casos de indisciplina nas escolas são um facto desde há algum tempo, agressões verbais, falta de respeito por resistência ao não cumprimento de regras, estabelecidas no regulamento interno mas,.. Lutas físicas?! É grave, muito grave. Encarregados de Educação a bater em professores, a incentivar os seus educandos a bater! Alunos a baterem nos professores?!
Sou professora e, sinceramente, sinto-me sufocada neste mundo em que vivemos. Toda a gente se pronuncia sobre como ser professor, a obrigação de educar por parte do professor, responsável, segundo alguns, sobre a falta de educação e respeito dos nossos jovens, sobre o abandono escolar e sobre o analfabetismo que grassa o nosso país que, segundo alguns, são fruto da incompetência do professor. Então, um aluno bate no professor ou agride-o verbalmente porque ele, o professor, não o soube educar, não lhe soube estabelecer e fazer cumprir as regras. Deveras interessante esta leitura, pois leva-me a concluir que o professor tem prazer em ser agredido! Todos sabemos que as zonas mais problemáticas do ensino em Portugal, são as sitiadas nos grandes centros cosmopolitas, que acabam por percorrer as veias do país pela sua exemplaridade, sem consequências.
A leitura deste ar de violência que se semeia pelo país, de norte a sul, tem causas maiores, a saber:
. Desvalorização social da imagem do professor, contribuída pelo patronato, o ME, que aponta o professor como um irresponsável e incompetente, responsável pelo insucesso educativo e pelo abandono escolar. Claro que não estão nas escolas a ver o que se passa e a assistir à luta diária, exaustiva e incansável do professor, que incentiva e alerta o discente para uma aquisição de valores e de conhecimentos científicos que os tornará dignos representantes e responsáveis deste país, primeiramente de si próprios, lutadores pela sua integração social, de cidadãos responsáveis.
. Ausência de uma política de apoio às famílias, muitas vezes sem condições económicas de sustentabilidade do núcleo família: pais desempregados, famílias desfeitas, esquecidas, também elas, dos seus deveres para com os filhos. Esquecidos da importância do diálogo, da partilha e do companheirismo, da explicitação de regras face à vida e aos momentos difíceis do núcleo familiar. Os que têm casa própria pagam impostos elevados, em situações de crise ou não, face aos ordenados usufruídos (baixos) ou falta deles. O Estado deveria criar condições para que a mãe ou o pai, um dos progenitores, estivesse mais presente junto dos filhos e não arranjar-lhes espaços, tipo armazéns, para guardar os filhos durante todo o dia. Hoje os pais não têm quase contacto nenhum com os seus filhos. Durante a semana, deixam-nos em instituições ou na escola para arranjarem sustentabilidade para a família ou para viverem de uma forma mais livre, já que depõem a sua responsabilidade em terceiros. As crianças e os jovens precisam da presença e do afecto dos seus, sentirem que são amados, habituarem-se a ver os pais como confidentes necessários à sua formação e crescimento interpessoal. É na família que surge esse primeiro passo de relação, de companheirismo, de respeito e de dádiva para com os outros. Sem família, sem esse suporte, não há construção possível, seja qual for a sociedade.
Só quem não vive com esse contacto diário, fica surpreendido com o que tem vindo a acontecer na nossa sociedade e nas escolas portuguesas. Os professores têm alertado os encarregados de educação para um apoio mais directo dos seus educandos, para o estabelecimento de uma maior proximidade dos mesmos na escola, não para avaliar os professores mas para, em conjunto, ajudarem os discentes e a escola a lidar com situações de várias proveniências, desde o insucesso escolar dos alunos, a problemas psicológicos detectados pelos professores/pedagogos, alguns muito graves, oriundos de seios familiares destituídos de todas as funções, e de tantos outros problemas detectados no contacto diário e permanente.
. Empatia.
A empatia dos jovens de hoje vive fora do lar, na Internet, na TV, … Não há empatia familiar, não há empatia de partilha e de dádiva, não há rosto para acariciar ou amar. Há antes uma vivência fria, egoísta. O Líder é aquele que se impõe ao sistema, que foge às regras implementadas. Esse é o ser admirável, aquele que foi capaz de mostrar quem manda, tal como o faz o ME. Um bom exemplo de líder do século XXI, daí, talvez, o famoso estatuto do aluno, que protege o faltista, o mau aluno, o gerador de conflitos, o pouco ou nada estudioso, o futuro símbolo dos bons alunos, o símbolo profético da sociedade de amanhã. É assim que se desmoraliza uma nação, um povo.
Enquanto professora, interrogo-me e interrogo quem quiser interpretar:
Afinal, onde estão os culpados?
Eu, enquanto professora, tenho a consciência limpa.

Berta Quental Prata

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