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Ano 2011

“A nossa vida muda por completo”

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No âmbito do Ano Europeu do Voluntariado, o NT está a divulgar – ao longo do ano – testemunhos de pessoas que fizeram ou fazem voluntariado, tentando descortinar o que motiva alguém a dar de si sem esperar nada em troca. Pedro Salgueirinho, um jovem de Santiago de Bougado, é voluntário na Acreditar, onde retira muitas experiências enriquecedoras com crianças, que têm doenças oncológicas.

“A oportunidade de ser voluntário na Acreditar não surgiu, fui eu que fui atrás dela, pois esta causa sempre me sensibilizou. A causa das crianças com uma doença extrema e que poucos podem imaginar o que aqueles seres humanos tão pequeninos, mas tão fortes, passam e ultrapassam.

Era uma vontade antiga. Há quatro anos comecei a pesquisar na internet e encontrei o site da Acreditar. Concorri para ser voluntário na pediatria do IPO (Instituto Português de Oncologia) do Porto, no internamento, e depois de alguns testes, fui aceite. Quando a assistente social me comunicou o resultado, senti que estava no início da realização de um sonho pessoal no qual embarquei a pensar que ia dar algo ao próximo quando agora me apercebo que quem recebe sou eu.

Esta é a minha primeira experiência como voluntário, apesar de já ter participado em várias ações de solidariedade social.

É uma das experiências mais enriquecedoras que se pode vivenciar, pois ao longo destes três anos de voluntariado conheci crianças fantásticas e pais maravilhosos. A nossa vida muda por completo, a maneira como olhamos o mundo e as coisas altera-se completamente. Neste último ano passei do internamento para a consulta externa. Ambas as experiências são vivenciadas com os pais e com as crianças, mas em contextos muito diferentes.

A Acreditar não é só um voluntariado vocacionado para as crianças, mas também para os pais que necessitam de apoio emocional e, por vezes, económico.

Aconselho todas as pessoas a, pelo menos uma vez na vida, serem voluntárias de alguma causa em que acreditam, pois é dar-nos a nós mesmos sem esperar nada em troca, mas o mais pertinente é que o que recebemos, mesmo não esperando nada, tem um valor inestimável, como os desenhos que recebo, as brincadeiras, os carinhos, os afetos das crianças.

A nossa função ali como voluntários da Acreditar é fazê-los esquecer, por momentos, que têm dores, que estão fechados num hospital, que passam por tratamentos agonizantes, que veem a cara dos pais sem esperança e cansadas de tanto chorar. Muitos pensam que existe um inferno depois da vida, quando o inferno pode estar a dois passos da nossa porta e nós agimos como bombeiros para apagar o máximo de chamas que conseguimos.

Quando era voluntário há pouco mais de um ano, conheci uma menina chamada Joana, que tinha leucemia. No primeiro dia em que a vi, pensei: “aquela menina tem um dos sorrisos mais bonitos que já vi”. A Joana já tinha iniciado os tratamentos, portanto, os efeitos colaterais dos mesmos já se faziam sentir no seu corpo. Existem muitas pessoas que pensam que o cabelo cai devido aos carcinomas, mas na realidade cai devido aos tratamentos e não é só isso que acontece, as unhas ficam frágeis como papel, a pele em algumas zonas escurece, noutras fica fina e transparente, todas as veias superficiais ficam evidenciadas. E esta menina, com todos estes problemas e com apenas nove anos, era a criança mais doce, mais bem-educada, simpática, alegre e divertida que eu podia conhecer, tinha sempre uma palavra amiga e um olhar terno, ultrapassou vários tratamentos, várias infeções, maioritariamente, do trato urogenital nas quais tinha de ser tratada com cateteres nas vias urinárias e com ajuda de morfina. Hoje a Joana está bem, mas modificou todos os corações em que tocou, modificou o meu quando me pediu para no dia seguinte ao meu dia de voluntariado lá voltar para brincar com ela… Mas tanto eu como ela sabíamos que é regra do voluntariado não ir nos dias que não estamos colocados… Mas não consegui resistir e fui. Passei um domingo repleto de sorrisos e brincadeiras, jogos e desenhos… A Joana também já tinha modificado o meu coração.

A ela, e a todos os meus colegas voluntários e benfeitores dedico esta oportunidade de poder dar voz ao voluntariado da Acreditar”.

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