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A minha causa

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Num mundo cada vez mais estranho (para mim), apesar da juventude dos meus 47 anos, em que se trocassem a ordem das velas no meu bolo de aniversário, isso sim, me envelheceria, eu tenho uma causa.
E a estranheza do mundo actual começa precisamente nas “causas”, em que na pretensa defesa de géneros, minorias, classes, grupos, …, defende-se a causa A, para, sem perder tempo, acorrermos à defesa da causa B e, se ainda houver tempo, darmos o corpo às balas pela causa C. Tudo isto antes da hora do almoço. Da parte da tarde, e até ao deitar, a saga continua, dependendo do número de petições que aparecerem para aderirmos. Se abrandássemos para pensar, provavelmente, entenderíamos que a defesa de umas invalida a defesa de outras.
Eu, por exemplo, que defendo a emancipação das mulheres, o respeito pela orientação sexual de cada um e a liberdade religiosa, em qualquer ponto do globo terrestre (em qualquer ponto), defender o Islão é tão incongruente como pertencer à Juventude Leonina e ser sócio do Benfica.
Mas, no meio de causas tão elevadas, eu tenho a minha, a que chamo de “causa primordial”, mas que se fica pelo “rés do chão” das causas. Quero que a mim, Homem, Heterossexual, Claro (não me incomoda que me chamem de Branco), seja reconhecido, e não tem que ser por todos, apenas pela minha esposa, o direito à minha condição básica de distraído.
E num constante esforço de combate a esta característica genética para manter o equilíbrio familiar, faço o que para o meu avô era impensável:
Depois de tirar a louça da máquina, colocar a roupa no armário e alinhar os meus chinelos, distanciados um do outro 4 centímetros e orientados para sudoeste, conforme a minha Senhora gosta, quando chega a casa exclama:

  • Oh, e não aspiraste?!!!
  • Não. Procurei o aspirador e não o encontrei.
  • Pois não, foi para arranjar. Não sabias? – pergunta-me, como se eu tivesse uma bola de cristal.
    Claro que não sabia, ela não me disse! Mas não respondi, senti que a pergunta tinha rasteira e havia uma procura óbvia pelo confronto. Numa tentativa de estabelecer uma trégua, pelo menos até às 21 horas, momento em que iria sair de casa para um jogo de bola com os amigos, alinhei dois pares de sapatos e arrisquei tudo ao dizer:
  • O teu cabelo está muito bonito! Foste à cabeleireira?
    (parecia-me)
  • O cabelo está feio e já marquei na cabeleireira para lá ir amanhã de manhã. TU NÃO REPARAS EM MIM?!!!
    Bem, não chegou a haver nenhum tipo de tréguas. Para evitar males maiores, fui preparar-lhe o jantar e antes de sair para a bola, arrisquei (aliás, tudo o que nós homens dizemos é arriscado) o seguinte reparo:
  • São novos esses brincos?
    (pareciam-me)
    A expressão na cara dela, fez-me lembrar a menina possuída do filme, “O exorcista”.
  • Seu banana! Estes brincos são os que me ofereceste há três semanas!
    Com medo que a Cristina vomitasse em cima de mim (a menina do exorcista vomitava muito) fugi para o futebol onde encontrei amigos na mesma aflição.
    No dia seguinte, enviamos uma queixa para a SOS Racismo, a pedir protecção e defesa do Homem, Heterossexual, Claro e Distraído, das nossas Senhoras!
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