Edição 617
A Estação da Trofa – Memórias e Histórias da Trofa
Decorria o ano de 1875, 21 de maio e entrava pela primeira vez na Trofa uma locomotiva e o território nunca mais nada seria igual.
Nos anos seguintes apareceram, uma, duas, três, etc., fábricas em redor da estação e a Trofa entrava numa dinâmica de progresso e crescimento, sem ímpar tornando-se uma referência no país.
Gago Coutinho, Sacadura Cabral passaram pela estação, ministros e chefes de estado também, até o próprio Papa João Paulo II passou na Trofa a bordo de um comboio em direção a Braga.
Um papel estratégico e inclusivamente na rede de caminhos de ferros com a ligação a Guimarães que durante muito tempo teve o seu término na Trofa. Obrigando a mudar de comboio para quem queria seguir de Guimarães para o Porto, só na década de 30 do século XX foi possível fazer a ligação direta entre as duas cidades.
Contudo, nem tudo foram alegrias. Vários incidentes aconteceram, muitas vidas foram ceifadas e sobretudo teve um papel bastante importante na questão das subsistências durante a Primeira Guerra Mundial.
Comum ocorrer o arresto de bens alimentares na Estação da Trofa por parte das autoridades administrativas tirsenses, causando grandes transtornos às localidades vizinhas.1 Como também foram relatadas as tentativas de invasão da estação para roubar sacos com cereais que estavam no cais de carga, alegadamente o chefe da estação com o apoio dos seus subordinados conseguiu repelir os assaltantes.2
Contudo, quando não parecia terem sido nada de grave, os incidentes relatados ocorridos em fevereiro de 1916, o “O Comércio do Porto” enviou um repórter à Trofa para esclarecer a situação e o relato foi surpreendente. Afinal, tinham sido 4 mil pessoas a manifestar-se, numa enorme onda de raiva, assaltaram o cais e arrombaram wagons, o caos instalado e com o apoio do toque dos sinos a rebate da Igreja Matriz mais facilmente se propagou a onda de pânico. O chefe da estação telegrafou a pedir reforço policial e conseguiu o envio de um carro de Santo Tirso com 18 homens e ao mesmo tempo saiu de Famalicão mais 9 praças da GNR. Os populares dispersaram quando viram a chegada do enorme efetivo de segurança.3
Tempos de miséria e tempos de luta na sociedade trofense.
1 “Pão de Milho” Comércio do Porto, Dezembro 23, 1915.
2 “Carestia de Milho” Comércio do Porto, Fevereiro 8, 1916.
3 “Carestia do Milho” Comércio do Porto, Fevereiro 9, 1916.
José Pedro Maia Reis
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