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Ano 2007

A Barbárie ao Sol

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A imagem vívida da planície africana, com o característico e inolvidável cheiro que emana da terra, contrastam, flagrantemente, com a acção daqueles que governam esse imenso e riquíssimo continente. África habituou-nos, desde os tempos da descolonização, aos mais inenarráveis conflitos e genocídios, grande parte dos quais com origens étnicas.

  Apenas há dias tomamos conhecimento de que o badalado caso "Angolagate" conheceu novos desenvolvimentos, neste caso, em França, com a ida a julgamento dos principais franceses envolvidos no processo. Implicados na matéria em apreciação – a venda ilegal de armas provenientes do Leste da Europa a Angola, durante os anos de 1993 a 2000 – estão Jean Christophe Mitterrand (filho do antigo Presidente da República francesa, François Mitterrand), o ex-Ministro francês Charles Pasqua, os empresários Pierre Falcone (franco-italiano) e Arcady Gaydamak (israelo-russo), variadas outras personalidades ligadas à esfera política, económica e cultural de França, e os mais altos governantes angolanos, com José Eduardo dos Santos à cabeça. Aliás, dos dividendos com este chorudo negócio (avaliado em 790 milhões de dólares) que se arrastou durante os  anos de guerra civil em Angola, que opôs MPLA à UNITA, do entretanto eliminado Jonas Savimbi, apuraram as investigações judiciais francesas que 37 milhões de dólares reverteram directamente para uma conta pessoal do hoje Presidente da República daquele país, num banco do Luxemburgo, e 42 milhões de dólares para outros 15 dirigentes políticos e militares angolanos (ao que parece, em Angola em particular, e em África no geral, estas duas esferas confundem-se).

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A situação descrita, infelizmente, não é orfã. Nesse mesmo conflito, repetido até à eternidade em quase todos os outros países africanos, com sociedades não imunes ao vírus da corrupção extrema e comunidades profundamente tribais, outros negócios escuros conheceram sucesso, inclusive envolvendo a outra facção e outros países europeus. Portugal não foi excepção. O apelo dos dólares e dos diamantes mostrou-se mais forte do que toda a retórica política dos governantes portugueses, em cada momento da História. Ainda hoje, cegos pela luz que e pelo poder dos recursos naturais de Angola, assistimos aos nossos Ministros, secretários de Estado e diplomatas a prestarem-se a todo o tipo de papéis, na ânsia de agradar e não ferir a sensibilidade da classe política e militar daquela ex-colónia portuguesa. Efectivamente, é de igual forma correcto pensar que ainda nos preside o estigma de Portugal ter sido potência coloniadora. Contudo, não será com total permissividade e tolerância que os europeus, e Portugal muito concretamente, conseguirão propiciar o exemplo de defesa intransigente pelos direitos humanos. A falta de regimes democráticos acarreta inúmeras doenças: miséria das populações, desemprego, fome, ausência de cuidados de saúde primários e corrupção. E a corrupção já é um vírus mais mortífero do que a SIDA, mesmo quando, aos dias de hoje, infecta milhões de africanos. A dependência do petróleo e a avidez dos diamantes não poderão ser justificação para o alienar de consciência generalizado na Europa. É certo que não podemos esperar qualquer demonstração de respeito pelos direitos humanos por parte de países como a Índia e a China, que atentam apenas nas oportunidades de negócios naquelas áreas e noutras, tais como a agricultura, a pesca, as obras públicas, a exploração de energias e de todo o tipo de minérios, e mesmo os negócios de comercialização de produtos de qualidade questionável e infiscalizáveis. Mas essa não poderá nunca ser a posição de uma Europa esclarecida e assente em valores civilizacionais. As instituições bancárias em Londres, Amsterdão, Zurique, Madrid, enchem os seus cofres com as contas dos dirigentes políticos africanos. A Côte d'Azur e o Algarve, com as suas pequenas "Vila's" dão refúgio a tais déspotas – o caso mais recente é a autorização ao vice-presidente congolês, Bemba, autor de uma rebelião recente, vir residir no nosso país. Até quando tais barbáries?

 

P.S.: Finalmente vêm a público a notícia que já vinhamos descortinando nas entrelinhas: o Metro do Porto vai, até ao início do próximo ano, arrancar com as obras das duas ligações consideradas prioritárias, devendo as mesmas terem a sua conclusão até 2009. A saber, Gondomar e Laborim (Vila Nova de Gaia). A autorização foi, ao que somos informados, dada pelo Governo, nomeadamente pelo faraónico Ministro das Obras Públicas, e permite antecipar a abertura dos respectivos concursos públicos internacionais. O Presidente do Conselho de Administração do Metro do Porto, Major Valentim Loureiro, apressou-se a defender o profícuo diálogo que vem encetando com o referenciado Ministro e que o mesmo considera que a construção ou prolongamento das linhas de Metro "tem que obedecer a critérios técnicos e não deve ser determinada por questões político-partidárias". Com efeito. A construção da linha da Boavista, no Porto, e o prolongamento da linha do ISMAI, no Castelo da Maia, até à Trofa, são adiados, sine dia, por «critérios técnicos» e que nada têm que ver com «questões político-partidárias». O que equivale a dizer que a reestruturação do modelo de gestão da empresa (que tem prejuízos superiores a EUR 800.000,00 por dia), permitindo ao governo nomear 60% dos administradores da mesma (nomeação política!) e à Junta Metropolitana do Porto apenas 40%, isto é, dois administradores (que, em contrapartida, podem continuar a ser autarcas!), em nada se relaciona com o caso. E muito menos o facto de as linhas a obterem autorização para avançarem imediatamente se situarem nos concelhos de Gondomar e de Vila Nova de Gaia, ou seja, beneficiarem com vitórias políticas o mais acérrimo crítico da actual direcção do Partido Social Democrata (Dr. Luís Filipe Menezes) e o autarca que mais desconforto tem criado ao referido partido, com a proliferação de processos judiciais em que consta como arguido (Major Valentim Loureiro). Entretanto, e sem que se ouça fora de portas a voz de reivindicação dos governantes trofenses, a Trofa anseia pela ligação do Metro…

Helder Reis

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