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Ano 2007

Vale do Ave – Dez mil empregos estão ameaçados

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Zara deverá deslocalizar para a Galiza

A marca espanhola de pronto-a-vestir Zara estará a preparar-se para deixar de produzir em Portugal, atirando para o desemprego, nas contas dos sindicatos, cerca de dez mil pessoas, quase todas a trabalhar em empresas da área têxtil do Vale do Ave.

Para já estão em causa apenas "algumas linhas de produção", mas os empresários e os sindicatos temem que se trate do início de uma "debandada geral", a exemplo do que tem acontecido com várias multinacionais.

A decisão, na generalidade, já estará tomada, mas não vai ter execução imediata, devendo prolongar-se por um período de cerca de um ano, já que o grupo Inditex (ao qual a marca pertence) não tem empresas próprias em Portugal, mas acordos de produção com mais de uma centena e meia de têxteis nacionais.

Ao que o Correio da Manhã conseguiu apurar, os baixos ordenados dos países orientais e as ajudas da União Europeia para a instalação de indústria nos novos países-membros serão as causas fundamentais desta deslocalização.Zara deverá deslocalizar para a Galiza

A eventual saída da Zara já é, desde o início do ano, do conhecimento dos sindicatos, de empresários e de alguns autarcas. Mas só no dia 1 deste mês, no primeiro Fórum Economia 2007 da Associação Comercial de Braga, foi comentada publicamente pelo presidente da Associação Industrial do Minho (AIM).

Na altura, António Marques disse que "se a Zara levantar âncora é uma bomba atómica que cai no têxtil português". E as preocupações do presidente da AIM foram corroboradas pela cônsul de Portugal em Vigo, Maria Regina Flor e Almeida, que alertou para o facto de o grupo Inditex estar prestes a inaugurar a sua maior central de compras em Barcelona, "o que pode indiciar uma mudança de estratégia".

Contactado pelo CM, António Marques disse que "o fecho de três ou quatro linhas de produção não significa o levantar da âncora". No entanto, o presidente da AIM disse que "o Governo tem de estar atento e fazer tudo o que puder para evitar que tal aconteça. Tentar novos acordos e, porque não, algumas cedências e compensações, sobretudo ao nível fiscal".

Mas para além de tudo isto, três empresas da região do Ave, que produziam para a marca espanhola há mais de uma década, receberam há cerca de 15 dias a informação de que não terão mais encomendas da Zara.

"O que consta por aí é que isto é o princípio do fim, não sei. O que tenho a certeza é que, sem nada o fazer prever, deixei de ter encomendas da Zara e não sei se vou conseguir trabalho para mais de metade dos 400 empregados que tenho. É que a Zara levava mais de metade do que eu produzia", disse o dono de uma dessas fábricas, que preferiu não se identificar, já que ainda tem esperança de que possa haver "uma renegociação e um recuo por parte da marca".

Os concelhos mais afectados são os de Guimarães, Famalicão, Fafe, Felgueiras, Barcelos, Trofa e Santo Tirso. Mas a preocupação maior é a que se vive no concelho de Guimarães, onde a produção da Zara garante, nesta altura, 3 a 4 mil postos de trabalho directos.

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REACÇÕES

"ISSO SERIA UMA PEQUENA TRAGÉDIA" (António Magalhães, Presidente da Câmara Municipal de Guimarães)

António Magalhães, presidente da Câmara de Guimarães, está convicto de que estamos perante um falso alarme. Diz que os contactos que tem mantido com vários empresários dão conta de que a Zara "está de pedra e cal em Portugal e particularmente no vale do Ave". No entanto, o autarca confirma que se tem "falado muito" do assunto, ao ponto de ter sido discutido na última reunião de Câmara. "Se a Zara levantasse ferros da região, isso seria uma pequena tragédia", disse o autarca, acrescentando: "Estou convicto de que tal não vai acontecer."

"HÁ ANOS QUE ANDO A LANÇAR ALERTAS" (António Marques, Presidente da Associação Industrial do Minho)

O presidente da Associação Industrial do Minho, António Marques, não acredita que a Zara abandone definitivamente Portugal, mas diz que o "Governo e as empresas têm de estar vigilantes, porque a economia global matou os contratos para a vida e obriga a uma constante atitude competitiva". Sublinhando que a saída da Zara "seria uma hecatombe para o têxtil nacional", o patrão dos patrões minhotos considera que "o Governo não pode deixar-se surpreender". Afirma que "este caso tem de ser levado muito a sério" e sublinha que "há anos que ando a alertar para este problema".

"DESEMPREGO VAI AOS 20 POR CENTO" (Adão Mendes, União dos Sindicatos de Braga)

O coordenador da União dos Sindicatos de Braga (USB) diz que se a Zara deixar de produzir em Portugal a taxa de desemprego no concelho de Guimarães pode chegar aos vinte por cento. Diz Adão Mendes que "este concelho tem já a mais elevada taxa de desemprego do País, com 12 por cento. Se lhe acrescentarmos quatro mil pessoas, não deve ficar longe dos vinte por cento". Assegura também que "no início o impacto social será amortizado pelo fundo de desemprego, mas um ano e meio depois serão certamente desastrosas as consequências sociais".

AMÂNDIO ORTEGA É O 8.º MAIS RICO

Pela primeira vez, o espanhol Amancio Ortega, filho de um ferroviário, entra para a lista dos vinte homens mais ricos do Mundo, facto divulgado pela revista norte-americana ‘Forbes', e logo para o oitavo lugar, com uma fortuna avaliada em 24 mil milhões de dólares (18,32 mil milhões de euros).

O patrão da Inditex, holding que detém a marca Zara, começou a negociar em roupa há 44 anos, com a ajuda da sua mulher, Rosalia Mera (também ela multimilionária, ocupando o 264.º lugar na mesma lista da ‘Forbes'), fazendo gorros e comprando lingerie. O sucesso foi consolidado com a holding Inditex e, através dela, Ortega investiu no turismo, na banca e no imobiliário. É dono de um hipódromo nos EUA.

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O IMPÉRIO ZARA NO MUNDO

3000 É o número de lojas que o grupo galego Inditex tem actualmente. A maioria delas vende produtos da marca Zara.

60 São seis dezenas os países onde o grupo Inditex já marca presença. Há poucos dias abriu uma loja na China.

9 Actualmente o grupo Inditex detém nove marcas de roupa e calçado, entre elas a Zara e a Massimo Duti.

33 Este é o número de cidades portuguesas com lojas da Zara. O número de lojas é, no entanto, superior a 50.

OUTROS DADOS

150 EMPRESAS

A estimativa é dos sindicatos e inclui grandes, médias e pequenas empresas. A Zara é responsável pela produção de mais de centena e meia de fábricas nos concelhos de Guimarães, Fafe, Felgueiras, Santo Tirso, Trofa e Vila Nova de Famalicão. Na maioria são microempresas.

ECONOMIA PARALELA

Para além das empresas têxteis que recebem encomendas da Inditex, há um sem-número de particulares (famílias inteiras, às vezes) que trabalham na produção de peças da Zara e de outras marcas. É um caso de economia paralela praticamente impossível de travar.

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DESLOCALIZAÇÕES

A fuga de empresas para os países de Leste e para o Oriente (China e Índia) tem marcado a actualidade portuguesa dos últimos meses. O sector automóvel, sobretudo ao nível das cablagens, tem sido o mais afectado. Contam-se já mais de três mil desempregados.

MERCADO CHINÊS

É uma das apostas do Governo português. Essa foi a indicação clara deixada pelo primeiro-ministro na última visita à China. Sócrates disse que o objectivo é ter, a médio prazo, cem empresas a trabalhar com o mercado chinês. Não apenas na área do têxtil.

IMPORTAÇÕES

O aumento das importações têxteis da China e da Índia indicam como a deslocalização da produção para estes países está a ser rápida: só da China cresceram 61,8% em 2005. E as previsões apontam para crescimentos idênticos, pelo menos até ao final da década.

PESO NA ECONOMIA

A fileira têxtil tem quase duas mil empresas, 80% das quais no Norte do País. Ao todo, facturam por ano 6,7 milhões de euros. Em 2005, Portugal exportou 4,1 milhões de euros, menos 7% do que em 2004. O decréscimo, dizem os especialistas, vai continuar.

MERCADO ASIÁTICO ATRAI CADA VEZ MAIS PRODUÇÃO: CHINA DESEQUILIBRA COMPETIÇÃO

Os empresários da indústria têxtil, um dos sectores tradicionais com mais peso na economia portuguesa, têm razões de sobra para estarem apreensivos sobre o futuro do sector em Portugal: com a crescente deslocalização da subcontratação de encomendas para a China, considerada já a fábrica do mundo, o sector perdeu, nos últimos dez anos, 120 mil empregos.

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Entre 1995 e 2005, segundo a Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP), o número de postos de trabalho caiu de 300 mil para 180 200. Para já, cerca de trinta empresas portuguesas de têxteis subcontratam as encomendas na China e este número deverá crescer nos próximos anos dado o crescente interesse dos empresários em produzirem peças de menor qualidade em países com mão-de-obra muito mais barata.

Com este movimento crescente de deslocalização da subcontratação de encomendas para a China, existe um sério risco de as exportações têxteis sofrerem quebras. "Se diminuírem as exportações, significa que há menos gente a produzir e a exportar, menos empresas e menos emprego", na análise de Paulo Vaz, director da ATP.

Os sinais desde 2005 são evidentes sobre este risco: por força da deslocalização da produção de empresas estrangeiras para a China, que antes subcontratavam a produção em Portugal, e da modernização da indústria nacional, o sector perdeu 25 900 empregos desde 2005.

INDITEX NEGA SAÍDA

Contactada pelo CM, fonte oficial da Inditex negou a intenção de deixar de comprar no nosso País. "Portugal é estratégico para os planos da Zara. Não existe nenhuma intenção de abandonar Portugal. O que não deve ser confundido com o facto de terem acabado contratos com fábricas que vão encerrar", adiantou a mesma fonte.

NOTAS

OS NOVOS ESTADOS

São aliciantes para os grandes grupos económicos. É onde há apoios da União Europeia para a criação de emprego e riqueza.

GRANDES PODEM TREMER

A eventual fuga da Zara não afectará apenas pequenas empresas. Algumas das grandes, como a Riopele, podem tremer.

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HÁ 18 ANOS EM PORTUGAL

O grupo galego Inditex, com sede na província da Corunha, começou a produzir peças em Portugal em finais de 1989.

QUALIDADE NA GALIZA

A produção de grande qualidade não passará para o Leste ou para o Oriente. Tudo indica que ficará em fábricas da região da Galiza.

Secundino Cunha / António Sérgio Azenha – CM
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