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Edição 485

Quando apenas restar a memória

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Ricardo-Garcia

O conflito israelo-palestiniano parece ter chegado ao limite. E no entanto o limite é sempre transposto. Sendo um assunto complexo devido à sua natureza histórica milenar (abarcando desde a bíblia até às Guerras Mundiais), podemos concluir que é difícil tomar posição, mas nunca devemos assumir uma atitude de apatia, ou pior ainda, ter o discurso “Andam nisto desde o início do mundo. Nunca vão chegar a acordo.”

Outra vertente que sobressai neste tipo de discussão é o jogo de palavras e os rótulos. Para isso basta optar pela defesa da causa Palestiniana. Quem se revelar contra a atitude terrorista do estado de Israel é logo cunhado de anti-semita (erro grave) ou amigo do austríaco com o bigode mais ridículo do mundo. O facto dos judeus terem sido vítimas da maior barbaridade alguma vez perpetrada, não dá carta branca para, em nome da sua defesa, cometerem crimes hediondos. No limite, podemos questionar até se realmente é um conflito ou uma agressão pura a um povo.

Israel não pode continuar com a sua política de olho por olho, dente por dente. As imagens e relatos que nos chegam de Gaza mostram um verdadeiro massacre onde nada nem ninguém escapa: civis, escolas, hospitais, edifícios da ONU, jornalistas. Nada parece sagrado. Assustador também parece o comportamento da chamada comunidade internacional. Os EUA fazem o seu jogo hipócrita, condenando as acções militares de Israel ao mesmo tempo que o apoia politica e militarmente, como foi bem visível no recente fornecimento de artilharia pesada. A Europa, por sua vez, assiste a tudo no sofá, mantendo uma letargia irresponsável, bem visível no recente chumbo, na Assembleia da República, de dois votos de condenação pela acção militar de Israel na faixa de Gaza pela maioria PSD/CDS.

Se, no campo visual, esta agressão tende a tornar-se banal ao olhos do cidadão ocidental, tal é frequência dos acontecimentos, o aspecto simbólico de algumas acções podem ter o impacto igual a um murro no estômago.

Usada desde 2008 como punição para a população árabe de Jerusalém oriental, a “dirty water” ou “skunk” (doninha) tem jorrado mais nestes últimos dias devido às crescentes manifestações contra os bombardeamentos em Gaza. E o que é a “dirty water”? É uma água pestilenta, com um odor de carne podre misturada com suor e meias sujas, esguichada por um camião sobre tudo: pessoas, ruas, fachadas e vegetação. Uma simples bomba de mau cheiro? Não. Fica impregnado durante dias. Uma humilhação suprema, com contornos bíblicos, onde pessoas são tratadas como parasitas. “O líquido é totalmente inofensivo. Pode mesmo ser bebido.”, diz com um sarcasmo arrepiante o superintendente da polícia de Israel.

(Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico)

Ricardo Garcia

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