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Edição 633

O Gentil Martins desviou-se do bom senso

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Dr. Gentil Martins. Acho que o senhor mostra uma ignorância estranha (ou não) para alguém com a sua experiência e profissão.
Na entrevista à revista E, do jornal Expresso, o médico disse o seguinte:

Duas pessoas do mesmo sexo não podem amar-se?
Ouçam, é uma coisa simples: o mundo tinha acabado. Para que o mundo exista tem de haver homens e mulheres. Trato-os como a qualquer doente e estou-me nas tintas se são isto ou aquilo… Não vou tratar mal uma pessoa porque é homossexual, mas não aceito promovê-la. Se me perguntam se é correto? Acho que não. É uma anomalia, é um desvio da personalidade. Como os sadomasoquistas ou as pessoas que se mutilam.

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Claro que depois de uma declaração destas, forte, polémica, instalou-se o caos naquele que é o tribunal atual das causas humanitárias: o Facebook. Os dois lados da barricada digladiaram-se com argumentos variados, e acabou por sair de tudo isto o ponto positivo do costume: a liberdade de expressão normalmente está associada à liberdade de estupidez e assim é mais fácil identificá-los.
Devo dizer que cada um é livre de dizer o que pensa, de reagir ao que os outros pensam, no fundo, é livre. No entanto, também tem de ter consciência de que essa liberdade traz a consequência de, quando se é uma figura pública e/ou com responsabilidades sociais, o que dizemos ser escrutinado pela sociedade e de ter outro impacto. (Olá André Ventura)
Quanto a mim, estas declarações não me chocam. Já sabemos a celeuma que a homossexualidade provoca na sociedade, embora eu ainda me questione porquê. Choca-me é que um assunto destes ainda seja motivo de clivagens gritantes em 2017. Choca-me que não se perceba uma ideia que é muito simples: porque é que temos que opinar sobre as pessoas com quem os outros dormem, beijam, tomam banho? A sério, o que é que eu tenho a ver com isso? Eu quero lá saber se a pessoa A beija um homem, uma mulher ou um sapo. Não me afeta, não me diz nada, porque cada um sabe da sua vida. E mais. Cada um é livre de fazer com a sua vida o que lhe apetecer também. É uma coisa estranha, que muitos defendem apenas quando lhes é conveniente, chamada liberdade.
O povo gosta muito de se meter na vida alheia, de comentar, de contar em primeira mão este ou aquele mexerico. Por isso é que vivemos no país dos reality-shows, do Correio da Manhã e das revistas cor de rosa. Adoramos meter-nos na vida dos outros e comentar isso no café, no passeio ou na caixa do supermercado.
Quanto ao Gentil Martins e seus seguidores, e sem querer desviar-me da ideia principal, o meu argumento favorito do exército da anomalia foi de que, realmente, a homossexualidade é uma anomalia, pelo facto de não ser natural. Se a maior parte da população é heterossexual, então ser homossexual é uma anomalia. Brilhante raciocínio! Amigos portistas, somos uma anomalia. Mais! Segundo dados da ONU, existem mais homens no mundo do que mulheres. Ser mulher é uma anomalia?
É por este tipo de declarações que imploro às pessoas que pensem, que leiam, que estimulem o raciocínio crítico. Que deixem de ser o povinho que só lê manchetes e que, de uma vez por todas, sabe discutir civilizadamente sobre qualquer tema. Mas não. Continuamos a ser pequeninos na nossa forma de estar e de ser. E eu continuo a ir às páginas dos jornais portugueses, no Facebook, quando preciso de me rir.

Que gajo anómalo.

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