Ano 2010
Na política não há amigos, há sobreviventes
No sentido mais original do termo, em Atenas, as pessoas políticas eram os cidadãos da pólis -, os cidadãos. Nos tempos conturbados em que vivemos, as pessoas políticas são aquelas que têm notoriedade, visibilidade, na política; são os políticos.
É sobejamente conhecido o facto de que as pessoas que estão na política não serem as melhores e as mais qualificadas e que nas empresas, nas universidades e até nas associações cívicas, culturais e de solidariedade, a média de pessoas qualificadas, capazes, empenhadas, é muito superior. O exercício da política é muito mais conjuntural e circunstancial do que de defesa de causas. Fazer política deveria ser encontrar a melhor forma de garantir direitos e deveres dos cidadãos e não a acção que serve apenas de guia dos interesses pessoais.
Existe uma tendência de perda dos valores essenciais da política. Os laços sociais, a solidariedade e o sentido de cidadania perdem força e sentido continuamente. A classe política é constituída apenas por pretensas, mas falsas elites, mais ou menos reduzida a um núcleo duro de profissionais, ou à espera de o serem, que conduzem a um estaticismo, e não renovação, não obstante a dança das lideranças e dos seus séquitos.
A classe política está descredibilizada e profundamente desvalorizada como nunca esteve, não só pela possível falência do actual modelo mas também pelos diversos casos judiciais que envolvem políticos. Há uma profunda convicção de que na política “vale tudo” e que deixou de prevalecer os valores nobres da política para imperarem as relações hipócritas e interesseiras, para alguns subirem numa escala virtual em que uns se agarram aos que vão à frente para empurrarem para trás os que os ajudam a subir.
A política deveria ser, e ainda é, uma actividade altamente nobre, mas também exageradamente absorvente em termos pessoais. O que a política exige é, na maior parte das vezes, um esforço físico e mental que vai para além dos limites aceitáveis. Para quem está na política para servir e não para se servir, é verdade, que há a recompensa de prestar um serviço público, que é extremamente gratificante. Mas também há imensas deslealdades e traições ilimitadas, intrigas sistemáticas e muitas ambições desmedidas.
Na política, como em nenhuma outra actividade, a luta pelo poder, implica uma disposição à traição. A política tem pouco, ou nada, a ver com a moral e com a ética. Tem mais a ver com o ódio. As traições ocorrem dentro do mesmo grupo. Não se trata de passar para outro grupo, mas de trair o amigo, o companheiro, dentro do mesmo grupo, excluindo a honestidade e o interesse público, ultrapassando assim o patamar da lealdade para com os companheiros de ideal e passando para um nível superior de deslealdade para com a sociedade.
Grande parte da vida política consiste na construção de fidelidades e dependências, no discernimento entre os adversários externos e os inimigos internos. Na vida política não há amigos, há sobreviventes. A “travestização” da cidadania e das atitudes políticas leva a que a característica recorrente, na política, seja a da traição sistemática.
José Maria Moreira da Silva
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