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Folha Liberal: Salários

São muitos os fatores que influenciam o valor do salário que o empregador paga e que o funcionário recebe, entre eles a produtividade, só que a produtividade é difícil de medir para a população em geral.
Mas há um fator que influencia diretamente e que é muito fácil medir, que todos percebemos imediatamente assim que recebemos o nosso salário: os impostos.

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É aceite por toda a gente (principalmente por quem os recebe), que os salários em Portugal são demasiado baixos. São muitos os fatores que influenciam o valor do salário que o empregador paga e que o funcionário recebe, entre eles a produtividade, só que a produtividade é difícil de medir para a população em geral.
Mas há um fator que influencia diretamente e que é muito fácil medir, que todos percebemos imediatamente assim que recebemos o nosso salário: os impostos.
Há dias, o Sr Primeiro Ministro veio dizer que as empresas têm que fazer um esforço para aumentar os salários em 20% nos próximos 4 anos.
Para os empregados isto soa muito bem. Um aumento de 20% não é nada mau. Mas, que implicações teria este aumento de 20% para as empresas, para os empregados e para o estado?
Feitas as contas a um aumento de 20% para um salário próximo do valor da remuneração bruta média em Portugal (cerca de mil euros), chegamos a conclusões, no mínimo, curiosas:
Para um trabalhador por conta de outrem, solteiro sem filhos, com um salário de 1.000,00€, uma empresa que desse um aumento de 200€ teria que desembolsar 247,50€, já que ao valor do aumento do salário há que acrescer o valor da TSU (23,75%). Outros custos diretamente associados aos salários não serão tidos aqui em conta.
Por outro lado, o empregado, desses 200€, apenas receberia 127,00€ já que 73,00€ iam para o estado: 11% (22,00€) para a TSU e 51,00€ para o IRS. Já o estado ficaria com 120,50€ (47,50 + 73,00€). Resumindo: Um aumento de 200€ implicava um custo de 247,50€ para as empresas, mas apenas 127€ (pouco mais de metade do custo) é que entraria na conta do empregado, já que o Estado ficaria com a outra (quase) metade.
Não podemos olhar para esta situação e ficar impávidos e serenos como se não fosse nada connosco. Não podemos aceitar que o estado possa levar quase metade do aumento de um empregado. Não estamos a falar de um aumento de milhares de euros num alto salário. Estamos a falar de ficar com metade do custo de um aumento de 200,00€ para quem ganha uns míseros 1.000,00€ por mês.
Infelizmente, vimos muito pouca gente indignar-se com isto, nem os patrões, provavelmente, porque sabem que nunca vão dar esse aumento e, por isso, isto não importa muito, nem, muito mais estranhamente, os empregados. Já o estado, ao ver estas contas ficará tentado a decretar um aumento destes valores, já que na verdade quase metade desse aumento reverteria para ele.
Podemos arranjar muitas desculpas, e todas elas muito boas, mas a verdade é que com uma carga fiscal destas (a OCDE diz que a carga fiscal sobre rendimentos do trabalho em Portugal subiu no ano passado para 41,8%) vai ser muito difícil aumentar os salários.
A Associação Empresarial do Minho foi das poucas a indignar-se com estas declarações do Sr Primeiro Ministro, considerando-as “imprudentes” e respondeu propondo “dividir o custo desse aumento com o estado”. “Ou seja, o Estado devia comprometer-se a reduzir em 10% os impostos sobre o trabalho… e as empresas comprometer-se-iam a promover esse aumento de 10% no salário médio”.
Mas certamente que essa proposta não deverá ser acatada pelo governo, porque isso implicaria dar mais dinheiro aos trabalhadores e isso poderia levar a que ficassem menos dependentes dos subsídios (há quem lhes chame esmolas), que os partidos que nos têm governado adoram dar.
É, aliás, muito estranho que o governo proponha aos privados que aumentem os salários em 20% em 4 anos e apenas aumente os funcionários públicos em 0,9%. A este ritmo, o aumento de 20% para os funcionários públicos chegaria ao fim de mais de 21 anos. Há efetivamente um grande problema de salários baixos em Portugal e alguns empresários têm responsabilidade nisso, porque não pagam salários justos que até podiam pagar, mas, o maior responsável é o estado que fica com uma fatia tão grande do bolo.

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