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Edição 501

«Eu hoje venho aqui falar / duma coisa que me anda a atormentar / e quanto mais eu penso mais eu cismo / como é que gente tão socialista / desiste de fazer o socialismo. / É querer fazer arroz de cabidela / sem frango nem arroz nem a panela»

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atanagildolobo

Terá o último congresso do PS trazido algo de novo à política nacional? Perspetivar-se-á uma mudança de rumo? Não uma simples alteração cosmética, como sempre aconteceu, mas uma verdadeira rutura com a política atual?
Uma grande parte dos “analistas” do costume, falam de uma viragem do PS à esquerda? Será? Mas então…é verdade que até agora o PS promoveu, desenvolveu e concretizou uma política de direita. Só assim se entende a intitulada “viragem à esquerda”. Ou não passará tudo de uma manobra de diversão? De uma missão de propaganda engendrada para limpar as suas responsabilidades pela política de direita e “vender” a ideia de que vai formar um governo de esquerda, alternativo ao Governo PSD/CDS. Mas vai o PS repor os direitos dos trabalhadores entretanto surripiados? Vai parar com as privatizações, fazendo com que os setores fundamentais da economia estejam ao serviço de Portugal e do povo português? Vai recuperar os salários e pensões para quem deles foi esbulhado de forma perniciosa? Vai repor as freguesias autocraticamente furtadas através de uma verdadeira reforma administrativa, com respeito pela vontade das populações? Vai renegociar a dívida? Vai romper com o tratado orçamental, sublevando-se contra a ditadura da União Europeia, recuperando a nossa soberania nacional e independência? Se for para isso, para lutar por isso para o bem do nosso povo, com certeza não lhe faltarão apoios de toda a esquerda.
Mas o problema é que o PS aos costumes diz nada. Não pode apenas esconder-se no debate para a concertação social no que concerne aos problemas laborais, ou numa linguagem demagoga de venda fácil de ilusões. É preciso que responda, de forma clara e precisa, o que quer fazer e para quem quer governar. Não basta iludir o povo trabalhador com uma viragem do PS à esquerda. É urgente uma rutura efetiva com esta política. São precisos compromissos políticos concretos.
Não nos podemos esquecer das suas ainda muito recentes responsabilidades governativas com os sucessivos PEC, da assinatura do pacto de agressão e da vinda da Troika. E afinal, na Europa, com Hollande em França e Renzi na Itália, o “socialismo” dos ditos partidos socialistas continuou a render-se ao poder da alta finança e aos interesses da politica da União Europeia e os povos e os trabalhadores continuam a pagar bem caro a confiança que neles depositaram, enganando-se mais uma vez.
A crise que empobrece o País, a corrupção, não são obra do acaso mas sim o resultado da política de direita, de que o PS também tem sido protagonista, ao lado do PSD, muitas vezes acompanhados pelo “emplastro” do CDS/PP, como, com humor e sarcasmo, intitulou recentemente Jerónimo de Sousa. Os casos do BES/GES e do BPN, a condenação do ex-presidente do grupo parlamentar do PSD, Duarte Lima, ou os acontecimentos de corrupção enrolando figuras com altas responsabilidades na organização do Estado não estão separados das políticas que cederam o País e a economia nacional aos interesses económicos e financeiros.
É urgente uma rutura, uma outra política, que mande na economia e na finança, que não se renda, que lute por Portugal e pelos portugueses, que reponha os salários, as pensões, que devolva as freguesias, que promova a nossa indústria, o comércio, as pescas e a agricultura, que coloque os setores estratégicos nas mãos do povo através de um estado democrático, que reponha a soberania, que rompa com a ditadura do défice, do euro e da união europeia.
Contamos com a esquerda à esquerda do PS para isso, nomeadamente com os partidos que constituem a CDU, o PCP e o PEV.
Poderemos contar com o PS? Logo veremos. Mas por aquilo que nos transmitiu até este momento a resposta é, infelizmente, e tragicamente, podemos dizê-lo, negativa, pois o PS desistiu, faz já muito tempo, de fazer o socialismo. «É querer fazer arroz de cabidela / sem frango nem arroz nem a panela».

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