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Ano 2011

Velho país de idosos

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O nosso país é um dos mais velhos países do mundo. É verdade! Nascido há quase 900 anos, mais precisamente em 1143, Portugal só é suplantado pela China e pela Inglaterra, em termos de antiguidade. Em termos de imutabilidade das fronteiras, até a China é um país mais novo que Portugal. Somos um dos países mais velhos do mundo, mas, simultaneamente, também somos um dos países mais envelhecidos do mundo. O país deveria ser respeitado pela bonita idade que tem, mas é tratado, como é tratado o idoso em Portugal, com muito pouco respeito.

Portugal é dos países europeus que pior trata os idosos. Um relatório da Organização Mundial de Saúde diz mesmo que quatro em cada dez idosos portugueses são vítimas de violência. O relatório revela que 39 por cento dos seniores portugueses são alvo das mais variadas agressões, das quais, filhos e netos são os principais abusadores. Portugal surge entre os cinco piores no tratamento dado aos idosos.

Os nossos idosos, que deveriam ser tratados com a dignidade que qualquer ser humano deve ser tratado, são abominados e, muitas vezes, condenados à solidão por uma sociedade ingrata, que tinha o dever de zelar por eles. Portugal é um velho país que tinha a obrigação de saber sentir o peso da idade, mas é cruel para com os seus idosos. Infelizmente, são cada vez mais os idosos que só têm por companhia a doença, a injustiça e a pobreza extrema. Tanto deram ao país, e tão fraca é a recompensa.

São os idosos, os grandes responsáveis de sermos pessoas, que estamos aqui, a dar continuidade ao velho país que somos. Portugal deveria saber honrar, com dignidade, os seus antepassados, deveria cumprir o seu dever de zelar pelas pessoas que já não podem zelar por si. O idoso, que se adapta, relativamente bem, às suas capacidades de funcionamento, no seu contexto de vida, não se consegue adaptar tão bem às injustiças da sociedade e entra num processo de resignação com a vida e com o destino. Pensa que é a sua sina; que é a sina de ser um idoso português.

O envelhecimento, que é uma conquista civilizacional, é fundamentalmente uma questão social com repercussões financeiras. Portugal é o país da União Europeia em que a população está a envelhecer mais depressa. É uma evidência que o aumento do envelhecimento em Portugal contribuirá para o aumento do número de pessoas em risco acrescido de dependência. Os idosos em Portugal, que são catalogados em 3ª idade (60-80 anos) e 4ª idade (80-100 anos), colocam à sociedade um sério problema: será que viver mais tempo é um fator de risco acrescido para a dignidade humana? Não deve ser, desde que os idosos não se deixem resignar com a vida, que saibam fintar o destino com atitudes positivas e otimistas face à vida, evitando o isolamento e convivendo com os outros.

O envelhecimento ativo é um processo que facilita a otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, promovendo uma maior qualidade de vida à medida que as pessoas vão envelhecendo. É preciso que os idosos saibam estimular as suas capacidades cognitivas, e para isso nada melhor que as relações inter-geracionais.

Sei, todos nós sabemos, quanto pesa o tempo da vida. Como a água que brota das fragas e se encaminha para o destino, também os jovens atuais serão os idosos do futuro. Em 2060 haverá 3 idosos para 1 jovem. Vão ser poucos a produzir para muitos. Com esta realidade demográfica, caracterizada por um claro declínio da fecundidade, como é que a actual juventude se vai dar com a sua própria decapitude? Para haver um futuro com qualidade, a sociedade atual, que está imbricada em torno da idade que carregamos, deve deixar de ostracizar os seus idosos e apoiar, com vigor, as iniciativas que visem o apoio ao idoso. Para bem dos portugueses do futuro, para bem de Portugal com futuro!

José Maria Moreira da Silva

moreira.da.silva@sapo.pt

www.moreiradasilva.pt

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