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Edição 510

Terrorismo financeiro

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Joao mendes

Graças a mais uma corajosa e exaustiva investigação do The International Consortium of Investigative Journalists (ICIJ), ficamos esta semana a conhecer um novo caso de fraude financeira de dimensões astronómicas. Após a denúncia inicial de um antigo funcionário do banco HSBC em 2008 ter passado algo despercebida na imprensa, o ICIJ revelou esta semana que mais de 100 mil clientes deste banco, oriundos de cerca de 200 países, fizeram uso de esquemas complexos e sofisticados de fuga aos impostos nos seus países através da filial suíça deste banco.
Os números estão em constante actualização mas, segundo a Euronews, estamos a falar de um montante superior a 180 mil milhões de euros, valor que daria para pagar duas vezes o resgate financeiro a que Portugal foi sujeito (78 mil milhões) e ainda sobraria para pagar todos os estádios do Euro2004 (665 milhões de euros) 36 vezes. Através do esquema agora denunciado, que envolve paraísos fiscais e outros estratagemas obscuros, este valor saiu dos países de origem sem pagar um cêntimo de impostos.
Entre os clientes do HSBC que alinharam neste conluio, contam-se políticos, atletas de alta competição, empresários, membros de famílias reais, estrelas de Hollywood e até personalidades associadas ao tráfico de armas e de droga. Multimilionários sem qualquer tipo de problemas financeiros que justificassem esta monstruosidade. Pura ganância.
Como não poderia deixar de ser, Portugal está “representado” neste golpe com uns “humildes” 858 milhões de euros. Entre os nomes revelados até ao momento, destaca-se o de Américo Amorim (5,2 M€) e duas empresas com a chancela Espírito Santo – ESAF SGPS e ESAF Asset Management – que juntas aplicaram cerca de 310 milhões de euros neste esquema. Tenham este dado em consideração quando a factura do afundamento do universo Espírito Santo começar a sair do vosso bolso.
Enquanto escrevo estas linhas, as televisões dão conta dos resultados operacionais da CGD no ano de 2014: -348 milhões de euros, resultado para o qual a exposição ao Grupo Espírito Santo foi um dos factores decisivos. Para os mais distraídos, é sempre bom relembrar que a CGD é um banco público, logo propriedade de todos. Se apresenta prejuízo, trata-se de um prejuízo de todos. Se parte desse prejuízo diz respeito a um banco gerido por autênticos mercenários financeiros, todos em liberdade e confortavelmente instalados nas suas mansões na Comporta, talvez esteja na hora de nos questionarmos seriamente sobre as prioridades de um país onde há pessoas a morrer nas urgências dos hospitais porque o SNS não tem recursos para dar resposta às suas necessidades.
Na selva desregulada que o actual regime neoliberal nos vem impondo, a única lei que impera é a do mais forte. Num dia obtêm-se lucros magníficos, imediatamente distribuídos pelos accionistas, no dia seguinte assistimos à implosão de instituições bancárias que acabam por ser resgatadas pelo dinheiro dos nossos impostos. E os responsáveis por estes atentados seguem com as suas vidas sem que um cêntimo lhes seja subtraído até porque, quando a bolha rebenta, estes terroristas nunca têm bens em seu nome. Em 2014, o BES desintegrou-se, CGD (-348 milhões de euros, BPI (-161,6 milhões de euros) e BCP (-217,9 milhões de euros) registaram prejuízos significativos e a conta do BPN não parou de aumentar. Enquanto isso, o desespero invade comissões parlamentares. Até quando seremos vítimas do terrorismo financeiro?

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