Desporto
Presidente do Trofense acusa investidores de incumprimento, Henrique Sereno refuta acusações e ameaça com tribunal

Segue turbulento o negócio de venda da SAD do CD Trofense. Depois de anunciar a resolução do contrato-promessa de compra e venda de 80% da sociedade desportiva à sociedade norte-americana S&A Sports Group, representada em Portugal por Henrique Sereno, o clube realizou, esta quinta-feira, 25 de setembro, uma sessão de esclarecimentos aos sócios, para expor as razões que levaram à queda das negociações.
Paulo Monteiro, presidente do CD Trofense, apresentou a sua versão do diferendo com o grupo liderado por Henrique Sereno, que pretendia adquirir a maioria da SAD, justificando a rescisão do contrato-promessa de compra e venda de ações com “falhas graves” dos investidores.
O dirigente fez saber que o acordo inicial, assinado a 20 de junho, previa que a nova administração assumisse todas as dívidas da SAD até essa data, regularizasse salários de jogadores e funcionários, suportasse os custos da época desportiva e construísse um novo estádio, que só depois daria lugar à passagem da propriedade do atual recinto. No caso do último compromisso, tratava-se, alega Paulo Monteiro, de uma condição essencial, já que “o estádio é do clube e dos sócios, não do presidente”.
Após a Assembleia-Geral de ratificação do negócio, a 1 de agosto, os salários continuaram por pagar, apesar das promessas de Sereno, que chegou a garantir no balneário que assumiria as dívidas “do próprio bolso”, argumentou Paulo Monteiro. A situação agravou-se com sucessivos atrasos, justificações e pressões para assinar o contrato definitivo, que, segundo Monteiro, alterava os princípios aprovados pelos sócios: previa que o estádio passasse de imediato para a SAD e incluía cláusulas que deduziam ao preço final todas as despesas apresentadas pelo comprador.
O dirigente relatou ainda que os investidores abandonaram o estádio e deixaram de responder a contactos, comunicando apenas através de advogados, enquanto os jogadores acumulavam salários em atraso. Alguns atletas chegaram “a dormir na cantina” em “sinal de protesto”, e o Sindicato dos Jogadores chegou a fazer um ultimato de “rescisão coletiva” se não fossem feitos pagamentos imediatos.
Perante este cenário, Paulo Monteiro afirma que foi a direção do Trofense a garantir, através de novo financiamento, a regularização das inscrições e a viabilidade competitiva da equipa, evitando que o clube fosse impedido de competir.
Henrique Sereno exige assinatura do contrato final e ameaça avançar com processos em tribunal
Presente numa parte da sessão, Henrique Sereno, que lidera o projeto da S&A Sports Group para a compra do CD Trofense, apresentou uma versão diferente, alegando que o clube não cumpriu o Contrato-Promessa de Compra e Venda (CPCV), assinado a 20 de junho, no valor de 3,1 milhões de euros, e garantiu que vai recorrer aos tribunais para defender o seu nome e os interesses da sua equipa.
O dirigente explicou que, após a assinatura do CPCV, foi pago um sinal de 50 mil euros e assumidas várias despesas do clube, que ascendem a 140 mil euros, incluindo salários em atraso, dívidas à Segurança Social, acordos com a Federação Portuguesa de Futebol e a AF Porto, fornecimentos de energia, relvado e equipamentos, entre outros encargos.
Segundo Sereno, após a ratificação do CPCV em Assembleia-Geral de 1 de agosto, foi enviado o contrato final a 28 de agosto, mas este foi rejeitado pelo acionista Paulo Monteiro, que não quis assumir a posição de fiador e contestou os valores da dívida. O ex-futebolista acusa o clube de má-fé, denunciando alterações unilaterais ao contrato e até tentativas de negociação com terceiros, nomeadamente o Leixões, o que considera uma violação direta do acordo.
Sereno garante que o CPCV foi integralmente cumprido pela sua parte e que chegou a ceder em várias exigências do clube, incluindo a retirada de fiadores. Sublinha ainda que o contrato final previa a construção de um novo estádio para o Trofense, em coordenação com a Câmara Municipal da Trofa, e que o o clube ficaria “protegido”, tendo “direito de preferência”, caso houvesse “alguma futura venda do terreno ou estádio”.
“O que aconteceu foi um incumprimento grave. Se não assinarem a versão final (do contrato) dentro do prazo, avançaremos com processos cíveis e criminais contra todos os agentes diretos e indiretos”, declarou, acrescentando que só recuará caso o clube assine o contrato e lhe peça desculpa pelas acusações públicas.