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Edição 735

Porque sim… e porque não!

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Quando penso naquilo que eu possa ter de bom como pessoa (poucas coisas), agrada-me crer, que talvez tenha absorvido a maior (ou uma das maiores) riqueza transmitida pelos meus pais, principalmente o meu pai, o Sr Augusto Calheiros. Não foi nenhuma herança material, que também me iria saber bem e me permitiria “assasinar” o despertador, mas foi sim o despertar do pensamento, questionando as coisas e pesquisando, para melhor tomar e fundamentar as minhas posições. Na essência, ser capaz de pensar pela minha própria cabeça e não me deixar arrebanhar pela maioria (com a excepção daquele ano, no Ciclo Preparatório, em que eu e mais de meia turma andávamos atrás da mesma miúda).


O Sr Augusto Calheiros, para me mostrar que essa seria a melhor postura, mostrou-me a outra face! Assistimos a uma sessão da Assembleia da República, em que um alto responsável da Nação respondia “Não”, pela nobre e justificada razão do outro alto responsável da Nação ter antes dito “Sim”, seguindo-se um cacarejar, que rapidamente transformou um local de supostas argumentações sérias, num verdadeiro galinheiro, com a desvantagem dos deputados não porem ovos (que nem precisariam ser de ouro). No final fui levado a um café onde se discutia futebol.
Cada um dos intervenientes justificava as suas opiniões com um sólido e fundamentado “Porque sim” ou “Porque não”, não raras vezes seguido de um “Tu não percebes nada!”!
Estas discussões a que assisti, apesar de cenicamente impressionantes, se tivesse que fazer um sumo das mesmas, nada saíria… eram conversas “secas”.


Dias depois, quando o questionei sobre a “Fé”, sobre se esta era mais forte e se tinha mais sentido que a “Razão”, o Sr Augusto Calheiros apenas me disse: – Anda daí!
Nessa altura havia “peregrinações” a uns eucaliptos (sim, eucaliptos), localizados próximo da Trofa, que miraculosamente libertavam fumo, e denso. Lá chegados, e com os olhos bem abertos, vimos o óbvio, a árvore em vez de libertar fumo era sobrevoada por milhares de mosquitos! Ao meu lado alguém rezava e perguntei:

  • Está a rezar pelos mosquitos?
  • Quais mosquitos, menino? – respondeu-me a senhora com uma pergunta, enquanto mascava umas ervas.
    Regressei a casa intrigado com a possibilidade da fé poder cegar!
    Na prateleira do móvel da sala, algures entre os “Miseráveis” e um livro de receitas que tinha um bolo de iogurte muito bom, estava a descansar a “Bíblia”. Acordei-a e passei as semanas seguintes a lê-la. Fiquei a saber que os milagres terminaram com a morte dos apóstolos e preocupei-me com a senhora que rezava aos mosquitos! Seriam alucinogénias as ervas que a senhora mascava?
    Apesar de não ser crente, respeito (e admiro) a Fé das pessoas, desde que não as “cegue” e as faça construir templos no sítio onde mosquitos sobrevoam eucaliptos
    Mais tarde, perguntei ao meu pai sobre o “Politicamente correcto”.
  • Isso vais descobrir por ti! – respondeu-me.
    Com o passar dos anos e com a percepção que fui adquirindo da vida e dos outros, apercebi-me de que com o tempo, e em lume brando, vai sendo imposta uma forma de pensar, mascarando lobos com pele de cordeiros e o contrário, condenando quem se atreve a discordar e a sair desta forma balizada de pensamento. Para muitas pessoas essa limitação foi um alívio que lhes deu mais tempo para novelas e “Big Brothers”. Afinal a forma correcta de pensar já está decretada, basta ler o “Manual do Politicamente Correcto”.
    Fui ensinado pelo meu pai a ser mais rápido a pensar do que a falar. Se o consigo? Não sei…nem sempre.
    Mas todos nós sabemos por experiência própria que inverter esta ordem pode trazer o arrependimento, a raiva, o conflito,…a desordem!
    Quando fôr grande quero ser como o meu pai, que amanhã faz 75 anos, e ter a IMODÉSTIA de dizer, “Não sei”, quando muito estuda!
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