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Edição 619

O mestre da cultura partiu

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Nascido em 1937, em São Mamede do Coronado, a arte tornou-se parte indissociável da sua vida com apenas 10 anos de idade, altura em que inicia a sua actividade numa oficina santeira, universo onde se moveria durante os 11 anos que se seguiram. Passou pela Soares dos Reis, pela Escola António Arroio e, em 1961, ingressou no curso de Escultura da Escola Superior de Belas Artes do Porto (ESBAP). Incansável, obtém uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian e segue para Londres, onde frequentou a prestigiada Saint Martin’s School of Art, entre 1968 e 1970.
Findado o notável percurso estudantil, Alberto Carneiro continua ligado ao mundo académico, desta feita na qualidade de professor, tendo leccionado na ESBAP (1972-1976) e na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (1985-1994). Pelo caminho, é o escolhido para dirigir a orientação pedagógica e artística do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra (1972-1985) e realiza inúmeras mostras individuais, marcando presença na Bienal de Veneza (1976) e na Bienal de São Paulo (1977). Entre outras distinções, vence o Prémio Nacional de Escultura, em 1968, e o Prémio Nacional de Artes Plásticas da Associação Internacional de Críticos de Arte, em 1985.
A sua vasta obra foi objecto de largas dezenas de exposições em nome próprio, integrada e inúmeras mostras colectivas, tendo inclusive sido alvo de quatro grandes exposições antológicas: na Fundação Calouste Gulbenkian e Serralves, em 1991, no Museu Machado Castro, em 2000, no Centro Galego de Arte Contemporânea (Santiago de Compostela), em 2001 e no Museu de Arte Contemporânea do Funchal, em 2003. Regressou a Serralves, em 2013, com a exposição Alberto Carneiro: Arte Vida / Vida Arte – revelações de energias e movimentos da matéria. A sua obra está presente nos quatro cantos do mundo, de Portugal à Coreia do Sul, do Equador à Ilha Formosa.
Perdemos um dos nossos maiores e melhores. Um trofense que deu um inestimável contributo ao concelho e ao país, que marcou nacional e internacionalmente a arte contemporânea e que projectou o nome da Trofa como poucos, muito poucos, sem nunca lhe pedir nada em troca, sem nunca receber grande coisa por isso. Porque a arte, como a cultura, rende poucos votos, logo recebe pouca atenção. Tivesse sido jogador de futebol, e as homenagens, em vida, ter-se-iam multiplicado.
Ainda assim, o “grande mestre da escultura” nunca se desligou do nosso concelho, e entre viagens, exposições e outras correrias, encontrou sempre o caminho de volta para São Mamede do Coronado e para o universo rural que tanto amou e o influenciou. E a prova de que o concelho da Trofa, e São Mamede do Coronado em particular, são o centro nevrálgico e a fonte de inspiração de uma das mais notáveis obras artísticas da história da escultura portuguesa pode ser encontrada nas palavras do próprio Alberto Carneiro, que, reza a história, terá um dia dito que “Se tivesse nascido na cidade, se tivesse vivido a minha primeira infância na cidade, a minha obra não seria o que é. Nem eu, provavelmente, me teria encontrado com este mundo”. Faleceu no passado Sábado, aos 79 anos, após prolongado internamento. O legado que deixa, ao concelho e ao país, é de um valor inestimável e sem paralelo. Resta-nos agradecer o privilégio que foi ter entre nós um filho da terra que é uma referência mundial da escultura, um ícone maior da arte contemporânea, um génio inconformado. E honrar a sua memória. Devemos tanto e muito poucos.

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