Crónicas e opinião
Linha do Equilíbrio: Inteligência artificial na psicologia – o limite!
“É crucial entender que a IA não percebe sofrimento profundo da mesma forma que um profissional, e, portanto, não pode ocupar o seu lugar nem o da terapia.”
À medida que o ano chega ao fim, algumas pessoas começam a fazer listas de projetos para o novo ano: organizar a vida, voltar a fazer exercício, voltar a estudar, mudar de emprego, entre outras. Mas, entre tantos planos, se há algo que merece estar no topo das resoluções, é a decisão de cuidar da saúde mental.
No entanto, ao mesmo tempo que se torna comum falar sobre saúde mental, simultaneamente, criam-se barreiras quando há a necessidade de admitir sofrimento, podendo este processo ser ainda composto por receio, vergonha, culpa e medo de julgamento. Estes sentimentos não são banais, levando a que muitas pessoas procurem na inteligência artificial (IA), tal como no ChatGPT, a ajuda de que precisam.
Logo, esta ferramenta passa a ocupar o lugar de confidente “silencioso”, pois não observa expressões faciais; está em silêncio; apenas devolve texto para quem ainda sente vergonha em se abrir, transformando-se num “novo amigo”, podendo tornar este primeiro passo mais suportável. Contudo, atualmente, a inteligência artificial está limitada em identificar a real intensidade do sofrimento humano. Ela reconhece palavras, padrões linguísticos e sinais genéricos de risco, mas não compreende as subtilezas emocionais, não percebe o tom de voz, não identifica contradições corporais, não sabe quando um silêncio pesa mais do que uma fala.
Além disso, a IA, não distingue o que é uma conversa comum de um pedido implícito de “socorro”, nem interpreta esses sinais, como a sensibilidade de um profissional.
Além disso, existe uma diferença fundamental de propósito: a IA tende a oferecer acolhimento e segurança emocional, evitando confrontos diretos. Em contrapartida, o psicólogo trabalha justamente nas zonas subtis da experiência humana, pois observa incoerências, hesitações, mudanças de postura, repetições de discurso, pausas carregadas de significado. É o psicólogo que identifica sofrimento mesmo quando a pessoa que está à sua frente tenta escondê-lo, por de trás de palavras bem organizadas. É o psicólogo que procura desconstruir narrativas, questionar certezas e produzir um desconforto que não é hostil, mas terapêutico. A mudança profunda costuma nascer justamente aí, do insight que incomoda, da pergunta que desarma, da nova leitura que desestabiliza padrões antigos. Logo, a terapia não se resume ao acolhimento, validação e anonimato. Ela exige atravessar territórios difíceis, enfrentar medos, reconhecer dores antigas e este processo é algo que apenas um psicólogo, com técnica e responsabilidade ética, pode conduzir.
Não significa isto que IA seja inútil no campo emocional. Para muitas pessoas, ela pode funcionar como uma porta de entrada, um espaço pré-terapêutico, onde a pessoa começa a organizar pensamentos, a ensaiar pedidos de ajuda e a superar a vergonha inicial. Mas, é crucial entender que a IA não percebe sofrimento profundo da mesma forma que um profissional, e, portanto, não pode ocupar o seu lugar nem o da terapia.
A combinação entre o processo terapêutico e a IA não deverá ser uma disputa, mas uma ponte para que mais pessoas possam encontrar o seu equilíbrio e uma melhor saúde mental.
Santo Natal e um Próspero Ano Novo para tod@s!


